09 abril 2008

O QUE FAZ A DIFERENÇA

DANUZA LEÃO

Os ricos não esperam por nada, o que é uma benção. Sempre existe quem leve ou busque uma encomenda

Segundo Scott Fitzgerald, os ricos são diferentes, o que é a pura verdade.
Os muito ricos querem sempre mais, e depois do dinheiro vem o poder, que o dinheiro sempre traz. O dinheiro traz conforto; não que as plumas dos travesseiros dos mais ricos sejam mais macias, mas existem coisas curiosas que o dinheiro e o poder proporcionam. Quer um exemplo? Ricos e poderosos nunca tocam numa maçaneta, existe sempre alguém que faça isso por eles.
Os ricos não esperam por nada, o que é uma benção divina. Quando precisam falar com alguém, é a secretária quem espera no telefone até que esse alguém os atenda; e sempre existe quem troque a bateria do celular, reserve o restaurante, leve ou busque uma encomenda.
Rico muito rico tem dois motoristas, um para o dia e um para a noite, e numa festa são eles, sempre, os últimos a chegar. É por eles que todos esperam: os donos da casa, o suflê, o show -em alguns casos, são a principal atração-, e assim que surgem (seja numa festa ou num enterro), rola uma adrenalina entre os convidados; os pobres mortais ficam extremamente orgulhosos de estarem debaixo do mesmo teto dos muito ricos, e se conseguirem apertar a mão, serem vistos e distinguidos com um "olá, há quanto tempo" -com testemunhas, de preferência- ganharam a noite, a semana ou o ano. Pobre acha que riqueza pega, como sarampo, por isso gostam tanto de serem amigos dos ricos.
Alguma vez você viu um rico muito rico num aeroporto? Se ele for um rico médio vai para a sala VIP -que aliás é uma verdadeira cilada, pois facilita uma promiscuidade indesejável entre pessoas que nem se conhecem. Mas a quem é rico de verdade -mas ainda não tem seu próprio avião-, a companhia aérea oferece uma sala especial, com direito ao maior de todos os luxos: a privacidade. Haverá também um funcionário para levar a sacola de mão, na hora do embarque -ou você já viu algum rico puxando mala de rodinhas? Os realmente poderosos levam com eles um assessor, que se senta na poltrona ao lado, para evitar qualquer tentativa de aproximação de algum ilustre desconhecido.
Há muitos anos viajei de Londres para Paris no mesmo avião de Grace Kelly. Quando chegamos, o comandante pediu que os passageiros aguardassem o aviso de tirar o cinto; na pista, na porta da primeira classe, já havia uma linda Rolls Royce parada, na qual a princesa entrou e desapareceu, sem passar pelo controle de passaportes, sem nenhuma preocupação com as malas. Só então os passageiros foram autorizados a desembarcar.
Mas não é isso o mais importante: o que os que já nasceram muito ricos têm de mais invejável é a segurança no futuro; a certeza de que nunca vão precisar ficar numa fila do INSS -se é que já ouviram falar nisso-, sempre poderão chamar um médico em casa de madrugada sem precisar procurar, no meio da aflição, o recibo da última mensalidade do plano de saúde para serem atendidos.
Aliás, o melhor de tudo da vida dos muito ricos é nunca pensar em nada disso; para eles, é apenas normal.
A diferença entre os muito ricos e o resto do mundo é que os muito ricos podem até ter medo do futuro, mas será sempre um medo relativo; já os ricos mais recentes, mesmo que não percebam, têm um medo secreto e permanente de um dia voltarem a ser pobres. Medo do futuro, do futuro dos filhos, dos netos, medo de um dia não terem um teto, e o medo fundamental de que um dia eles, seus filhos ou seus netos possam vir a passar fome.
Esse é o maior medo do mundo, e os ricos não têm.
Deve ser muito bom ser rico.

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