20 abril 2008

ESCOLA QUE NÃO ENSINA?

Raymundo de Lima


Apenas 10 municípios conseguiram médias superiores a seis, nota máxima do novo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do MEC/2007. No Paraná, a pequena Ivatuba obteve 6, nota máxima, para sua escola que pertence a rede pública de ensino. Já uma cidade de médio porte, Maringá, obteve 4.35, ou seja, está na média paranaense, mas é o 781º lugar do ranking do Ideb. Municípios de Minas Gerais e São Paulo têm médias melhores.

Comparada com os demais municípios brasileiros, Maringá passa. Mas, comparada com outros países tem um ensino medíocre. Comparada com cidades mais ou menos do seu tamanho, Maringá fica abaixo de outras cidades do mesmo porte do Paraná, como Londrina, Cascavel e Ponta Grossa que alcançaram 4,7 de média. Fica abaixo, ainda, de outras cidades da região, como por exemplo, Cianorte (4,5), menor do que Maringá e localizada mais ao norte do Paraná.

O desempenho escolar de nossa cidade "é injustificável", declarou em entrevista na CBN local a Profa. Dra. Marta Sforni, coordenadora da CAE, da UEM, porque nossos professores são de nível superior, muitos têm pós-graduação e longa experiência no trabalho de ensinar. As escolas estão equipadas com quadras de esportes, bibliotecas, computadores. Alguns municípios adotaram oito horas diárias de permanência na escola. Enfim, por que nossa escola não ensina o suficiente?

Por outro lado, quais seriam as causas para uma cidade como Ivatuba se sair bem no seu projeto de ensino? Levantamos cinco pontos sobre as causas para se ter um bom ensino escolar. Primeiro, a prefeitura possui um programa de formação continuada dos professores. Infelizmente, poucos são as Secretarias Municipais de Educação que fazem parcerias com as universidades locais.

O ambiente de trabalho escolar é bom. Gestão democrática, professores que trabalham em equipe e diretora que tem visão de como fazer uma escola eminentemente ensinante são fatores imprescindíveis para construir uma boa escola e um bom ensino.

A formação dos professores consegue superar o conteudismo e o modismo. Ou seja, os pedagogos e professores do presente para o futuro ainda não são preparados para enfrentar o desinteresse, a indisciplina e a violência, hoje, quase epidêmicas nas escolas, que sabotam qualquer professora supostamente "bem" preparada para ensinar "conteúdos". Uma coisa é estar preparada para ensinar matérias e outra é ter habilidade e sabedoria para lidar com comportamentos diversos e muitas vezes avessos ao propósito ensinante da escola.

Em vez de impor uma única linha teórica e metodologia de ensino e aprendizagem, a equipe pedagógica da escola promove um debate sobre o limite de cada uma e sua eficácia para levar o aluno a aprender.

Saber "motivar" os alunos é o último ponto. Os alunos de hoje são hiperativos. Seu foco de interesse é mais o virtual do que o impresso. Está em curso a superação da cultura impressa pela cultura virtual - ou visual - isto é, onde a informação e o conhecimento podem ser acessados e compartilhados pelas telas da internet, da televisão, celular. A verdade é que nossa escola ainda não sabe operacionalizar a internet e as novas linguagens para o ensino.

Evidentemente, há um contexto mais amplo para ser analisado, mas é preciso reconhecer que a escola em si tem sua parcela de responsabilidade por não levar os alunos aprender o mínimo necessário do currículo.

A escola não tem sido uma instituição atraente para o aluno influenciado pela linguagem da TV, dos games e da Internet, que prende sua atenção por horas a fio, todos os dias. Embora façam parte do 'sistema escolar' e das 'políticas educacionais' de governo, a verdade é que cada escola tem sua própria cultura ou um "jeito próprio" de organizar os professores para ensinar.

Infelizmente, muitas escolas fracassam na execução do seu projeto pedagógico. É preciso parar de colocar a culpa ora nos professores pelo fracasso da escola, ora nos próprios alunos. O problema maior é a escola ou o sistema de ensino que não conseguem dar conta da realidade objetiva e subjetiva dos atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.


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O autor do artigo é professor da UEM e psicólogo doutor em Educação pela USP.

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