ALOIZIO MERCADANTE
Como explicar que políticas em tese idênticas tenham dado resultados tão díspares? Vamos, então, à comparação dos fatos
Seis anos depois, os que diziam ainda dizem. Antes, diziam o medo do desastre que não veio.
Agora, expressam preconceito contra um governo bem-sucedido, cujo presidente, conforme a última pesquisa CNI/Ibope, tem a aprovação recorde de 73% da população.
O antilulismo nutre-se de sentimentos baixos e factóides, não de fatos. Entretanto, o debate político não pode ser balizado por emoções biliosas e pela fuga da realidade. Infelizmente, essa parece ser a opção atual de alguns críticos do governo, como o caro líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, com quem sempre tive saudável convivência, mas que escreveu neste jornal me atacando à moda dos neoconservadores ("Tendências/Debates", 23/3).
Com efeito, ante o sucesso do atual governo, em vez de reconhecer seus méritos, esses críticos, fugindo da realidade, protagonizam ato de prestidigitação política: o governo Lula é mera continuidade do governo FHC!
Como explicar que políticas em tese idênticas tenham dado resultados tão díspares? Vamos, então, à dolorosa (para eles) comparação dos fatos.
Em primeiro lugar, a estabilidade macroeconômica, totem ciumentamente velado pelo tucanato. Reconheci no meu artigo ("Diziam", "Tendências/Debates", 16/3) que tal estabilidade começou a ser implantada no Plano Real. Mas disse que só se consolidou no governo Lula. Não distorci.
O Brasil foi submetido, no governo anterior, a crises econômicas que, além de impedir o crescimento econômico, afetaram a estabilidade macroeconômica. Por causa do Lula? Não, por causa do fracasso do governo anterior no enfrentamento de questão crucial: a vulnerabilidade externa da economia.
O populismo cambial do primeiro mandato de FHC provocou gravíssimo desajuste nas contas externas. Assim, a dívida externa líquida, que, em 1994, representava 17,3% do PIB, pulou para 40,2%, em 2002. Arthur Virgílio chama isso de "dívida externa equacionada". Foi esse desajuste que centralizou as críticas à política econômica do governo FHC.
Nem eu nem o PT nos opúnhamos à estabilidade monetária "per se", mas à estabilidade obtida a partir de insustentável valorização do real, que expunha o país às turbulências internacionais. Nossas advertências, porém, foram classificadas como manifestações de "neobobismo".
Já no governo Lula, a dívida e a vulnerabilidade externas foram drasticamente reduzidas. Graças ao substancial aumento das exportações, que saltaram de US$ 60 bilhões, em 2002, para US$ 160 bilhões, em 2007, e à forte mudança no balanço das transações correntes, que passou de um déficit acumulado de US$ 187 bilhões, no governo anterior, para um superávit de US$ 47,1 bilhões, no atual, superou-se o desequilíbrio do setor externo e a estabilidade se consolidou. Não se obtêm tais resultados por "sorte".
O mesmo ocorreu em relação à fragilização das finanças públicas. A relação dívida interna líquida/PIB caiu de 59,6%, em 2002, para 42,8%, em 2007. A inflação, que ameaçou sair de controle várias vezes no governo passado, se mantém dentro da meta. Mais importante: à estabilidade soma-se agora o crescimento sustentado: 4,53%, na média de 2004-2007, contra magros 2,3% na era FHC.
Ademais, os gastos do Executivo federal com pessoal, ao inverso do afirmado pelo senador, caíram de 1,9% do PIB, em 2002, para 1,7%, em 2007.
Na área social, o governo Lula diminui as desigualdades. A renda dos 50% mais pobres teve, nos últimos três anos, crescimento de 32% e 17 milhões de brasileiros deixaram a miséria. O Bolsa Família, que reduz a evasão escolar, ao contrário do que diz o senador, é internacionalmente elogiado.
Porém, Arthur Virgílio refere-se a esses êxitos como perda de "foco dos programas sociais da gestão anterior". O ápice da arenga anti-Lula do senador é sua crítica à sólida política externa atual. Em seu afã de desqualificá-la, ele desqualifica a ONU.
Divergências são normais. Eu também as tenho. Contrariamente ao que diz o senador, achava e ainda acho que a política de metas de inflação pode ser administrada de forma menos ortodoxa e mais gradativa, tal como aconteceu, com êxito, em países como o Chile. Mas divirjo de forma racional. Setores da oposição, ao contrário, criam clima emotivo que não tem referência nos fatos.
Espero, contudo, que figuras importantes como Arthur Virgílio possam fazer madura conversão à ortodoxia do princípio da realidade. Terei, então, o prazer de saudá-lo, mesmo com seis anos de atraso.
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Outra vez?!
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