28 abril 2008

CONSULTA MÉDICA PASSO A PASSO

IARA BIDERMAN

Medidas simples podem tornar a visita ao médico mais proveitosa; veja 20 coisas que você pode fazer antes, durante e depois da consulta e 10 dicas para quando for levar seu filho ao pediatra

O programa não é exatamente o de seus sonhos. O que você vai ouvir não será necessariamente agradável - e pode ser bem pior do que isso. Você vai expor suas fragilidades, mostrar-se em trajes sumários e ser manipulado por pessoas que não lhe são íntimas. Mesmo assim, ali está você, firme e forte (ou nem tanto), esperando a hora de ser atendido.
A consulta médica não é nenhum prazer, mas pode e deve ser uma ocasião proveitosa. E não apenas quando você sai do consultório com a solução do problema que o levou até lá. "Pode ser uma oportunidade para tratar não só daquele problema específico, mas da saúde como um todo", diz Geraldo Guedes, conselheiro do CFM (Conselho Federal de Medicina) e coordenador da Comissão Nacional Pró SUS.
Para aproveitar de fato uma consulta, é preciso se preparar para ela. Ainda mais nestes tempos, em que, apesar de a espera costumar ser longuíssima, a consulta se passa em minutos, como qualquer usuário de convênios médicos pode constatar.
Claro que tudo não depende só de você. "Também depende de como o médico atende, fala, sensibiliza o paciente", diz Antônio Carlos Lopes, presidente da SBCM (Sociedade Brasileira de Clínica Médica) e professor de clínica médica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Criar uma boa relação entre o médico e o paciente demanda uma série de atitudes, dos dois lados. De sua parte, veja o que pode fazer.


ANTES DA CONSULTA

1
Reúna as informações sobre a história de sua saúde para relatar ao médico. Procure os últimos exames de imagem e laboratoriais que fez (raio-X, exames de sangue etc.) para levar à consulta.

2
Descubra o histórico de doenças da família, como diabetes, hipertensão etc. O mais importante são os parentes diretos: pai, mãe e irmãos. Mas, se outros familiares, como avós ou primos de primeiro grau, tiveram alguma doença significativa, busque também essas informações.

3
Se você sente algum sintoma específico, anote os detalhes: quando começaram, como evoluíram etc. Se usou algum medicamento, anote o nome, a dosagem e a última vez em que o tomou.

4
O uso contínuo de suplementos vitamínicos também deve ser relatado ao médico -alguns interferem na coagulação do sangue ou na absorção de certos medicamentos. Anote os tipos e as dosagens para se lembrar de avisar o médico.

5
Anote o nome e as dosagens de medicamentos de uso contínuo que porventura tome.

6
Escreva em um papel as dúvidas que tem sobre o seu estado atual ou a sua saúde em geral. É muito comum as pessoas se esquecerem de perguntar algo durante uma consulta. Com uma lista escrita, isso pode ser evitado. Além disso, as anotações ajudam a manter o foco da consulta no que realmente interessa.


NO CONSULTÓRIO

7
Programe o dia da consulta para ter uma disponibilidade maior de tempo. Atrasos em consultórios podem ser inevitáveis e são sempre desagradáveis. Se você estiver com muita pressa, acabará se estressando e entrando tenso na consulta, o que a tornará mais difícil e, talvez, menos proveitosa.

8
Para um adulto em condição de se comunicar e com boa função cognitiva, o melhor é passar pela consulta sem acompanhante. É mais fácil fazer o diagnóstico nessa relação direta médico-paciente.

9
Caso seja necessário um acompanhante, ele deve ajudar e complementar o que o paciente diz, nunca substituí-lo.

10
Omitir informa-ções, sobre doenças prévias ou hábitos de vida, por exemplo, prejudica a avaliação médica. Seja transparente.

11
Se já há um diag-nóstico anterior, de outro profissional, também deve ser apresentado na consulta.

12
Se o médico indicar exames, tratamentos ou procedimentos, pergunte os detalhes: para que servem, se devem ser feitos imediatamente ou em médio prazo, quanto tempo durarão, como se preparar e os efeitos colaterais possíveis. Se algo o preocupa, exponha ao médico. Pergunte, também, quais são as alternativas e os riscos e os benefícios associados.

13
Ao receber um receituário, leia-o antes de sair da consulta. Se tiver problemas em decifrar a letra, confirme o que está escrito com o médico e peça que escreva em letra de forma ao lado.

14
Se foi prescrito um medicamento com o nome comercial, pergunte ao médico se há genérico equivalente.

15
Diga ao médico, resumidamente, o que entendeu da consulta. Assim, ele poderá corrigir alguma interpretação equivocada ou lembrá-lo de algum ponto importante esquecido.

16
Peça ao médico orientação sobre bibliografia e sites na internet que contenham informações confiáveis a respeito do seu problema.

17
Pergunte qual é a melhor forma de entrar em contato com o médico, caso tenha alguma dúvida, se deverá marcar outra consulta para mostrar os exames e quando retornar.


DEPOIS DA CONSULTA

18
Com o diagnóstico e as orientações do médico, você pode buscar mais informações sobre a sua saúde. Na internet, a quantidade de dados é tão grande e a qualidade tão variada que é difícil para um leigo selecionar o que é confiável. Além dos sites indicados pelo médico, um caminho é buscar os sites das sociedades oficiais de cada especialidade, conforme o seu caso. Esses sites costumam ter páginas para leigos e links para outros sites confiáveis.

19
A bula dos remédios também é um emaranhado de informações e nem sempre o leigo pode interpretá-las de forma correta. Se você ler algo que despertou dúvida ou preocupação, consulte o médico antes de tirar conclusões por conta própria.

20
Se você perceber que o tratamento proposto está afetando demais o seu dia-a-dia (por exemplo, levando-o a muitas faltas no trabalho ou a deslocamentos difíceis) ou supera suas possibilidades econômicas, procure o médico e exponha suas dificuldades, para, se for o caso, buscar alternativas. Nem sempre é possível antever esses problemas na hora da consulta.


No pediatra, deixe a criança participar da consulta


Quando são os filhos que precisam ir ao consultório, a relação médico-paciente fica um pouco diferente, com a entrada do terceiro (e mais importante) elemento em cena: a criança. Somem-se a isso a ansiedade natural dos pais e as resistências infantis e não falta muito para que o circo seja armado.
Calma. A visita ao pediatra pode ser uma ocasião tranqüila e bem aproveitada. "É um momento que os pais dedicam ao filho, aos seus cuidados", diz Isabel Madeira, presidente do departamento de pediatria ambulatorial da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria). Prepare-se para a ocasião.

1
Na primeira consulta do bebê, leve as informações do pré-natal e os relatórios da maternidade.

2
Se a criança fica o dia inteiro na creche ou na escola, peça o relatório escolar, do qual costumam constar dados como hábitos para dormir e comer, comportamentos etc. Leve também o cardápio que é oferecido no local, para o médico avaliar questões nutricionais e se algum sintoma eventual (como alergia) pode estar relacionado à alimentação.

3
Quando a criança já se comunica verbalmente, seja sincero: se a está levando ao consultório, não diga que vão fazer um passeio. A explicação do que vai ocorrer deve ser breve e simples, de acordo com a idade e a capacidade de compreensão. Não é preciso se estender; o melhor é se limitar a responder às dúvidas que talvez seu filho coloque.

4
Não tente tranqüilizar a criança dizendo que não terá de passar por algum procedimento, como tomar injeção. Se por acaso isso tiver de ser feito, ela perderá a confiança em você e no médico, além de aumentar sua resistência a consultas.

5
Não desqualifique o que a criança sente e expressa, dizendo, por exemplo, "não está doendo". Tranqüilize-a com objetividade, explicando que o procedimento vai demorar só um determinado tempo, que a dor vai passar e assim por diante.

6
Não use a possibilidade de visitas médicas como instrumento de chantagem. Por exemplo, dizer à criança que, se ela não comer ou não se agasalhar, terá de ir ao médico transforma a idéia da consulta em uma ameaça.

7
A consulta pode atrasar. Para que isso não se torne uma fonte de estresse e deixe a criança agitada, controle a sua própria ansiedade. Leve algo para ler e algum passatempo para a criança -pode ser um livro ou o brinquedo preferido.

8
Se for necessário dizer algo que você acha que a criança não deve ouvir, combine isso antes com o médico ou volte depois para conversar com ele. Ficar fazendo gestos ou tentando falar baixinho é algo que a criança percebe e pode deixá-la confusa, assustada ou ansiosa. O melhor é explicar o que está acontecendo até o ponto em que isso não cause sofrimento à criança.

9
Deixe que a criança participe da consulta, respondendo por si própria ao que puder (ou quiser). Mesmo quando a conversa for dirigida aos adultos, a criança deve ficar na sala.

10
Se dois irmãos forem juntos ao consultório, cada um deve ser atendido separadamente, para ter o seu momento de consulta individual.

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