18 fevereiro 2008

SOCIALISMO JABUTICABA

CLÓVIS ROSSI

O governo Luiz Inácio Lula da Silva gastou, com todos os seus programas sociais, em 2006, algo em torno de R$ 21 bilhões, calcula João Sicsú, diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas.
Gastou, não. Investiu. Trata-se de um caso raro de investimento público cuja necessidade ninguém discute.
Discute-se apenas o fato de programas como o Bolsa-Família, o principal na área social, não levarem a mudanças estruturais em um país em que parcelas consideráveis da população são pobres ou miseráveis. Frei Betto, por exemplo, assessor especial de Lula nos dois primeiros anos de mandato, diz que esse tipo de assistencialismo não muda a essência das coisas.
É verdade, mas é igualmente verdade que, enquanto não ocorre a mudança de estruturas (que, de resto, não está à vista), é melhor o assistencialismo que nada.
Viremos o foco agora para outros números do pobre país tropical: em 2007, os lucros somados das quatro entidades financeiras que já divulgaram seus balanços foram de portentosos R$ 21,777 bilhões (Itaú, R$ 8,474 bi; Bradesco, R$ 8,010 bi; Unibanco, R$ 3,448 bi; e Santander, R$ 1,845 bi).
Recapitulando, pois: para os 11 milhões de famílias beneficiárias da Bolsa-Família, R$ 21 bilhões; para quatro "famílias" financeiras, um pouco mais (R$ 21,777 bilhões). Na verdade, são mais famílias as que ratearam os R$ 21 bi de doações oficiais, já que muitas delas estão em outros programas sociais que não o Bolsa-Família.
Deve ser essa a redistribuição de renda que a propaganda oficial diz estar havendo. Ou a "moral socialista", a que pandegamente aludiu o ex-ministro José Dirceu, em seu artigo para a Folha de quarta-feira.
Nunca neste planeta (ou qualquer outro) banqueiros se divertiram tanto com o "socialismo"

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