CLÓVIS ROSSI
Marcos Fernandes Gonçalves (Fundação Getúlio Vargas) produziu sensata avaliação do caso dos cartões de crédito corporativos, com os quais se praticaram as mais recentes maracutaias. Para quem não leu, repito a avaliação: "Cartão corporativo é bom, seja numa empresa ou no governo". Ruim, prossegue Fernandes Gonçalves, é o fato de "o Estado brasileiro estar fora de controle, por falta de fiscalização e informações". Até já cansei de escrever aqui que o mundo político brasileiro e o Estado que ele construiu se tornaram entidades autônomas, que servem basicamente a seus próprios integrantes, com as (raras) exceções de praxe.
O economista da FGV lembra que, "anos atrás, dois executivos ingleses de uma empresa gastaram uma quantidade enorme num jantar. Foram demitidos assim que o gasto foi apontado". No Brasil, assim que qualquer abuso é apontado, o presidente da República pode até afastar os responsáveis, mas passa a mão na cabeça deles, afaga-os, continua tratando-os como "bons companheiros" (e o duplo sentido, neste caso, justifica-se plenamente), o que só estende a sensação, por todos os escalões da administração pública, de que abusar está permitido - e até incentivado.
Caiu-se em tal grau de degenerescência que o lulopetismo já nem tenta mais protestar inocência. Ao contrário: cada vez que aparece um escândalo, limita-se a gritar "eu faço, mas eles também fazem". Aliás, a frase-símbolo do atual governo é "o PT fez o que todo mundo faz", pronunciada na esquisita entrevista que Lula deu em Paris, durante o escândalo do mensalão.
Mesmo que "todo mundo faça", não deveria o presidente da República ser o primeiro a exigir que os "seus" não o façam, em vez de, ao absolver "todos", dar a senha para que continuem "fazendo"?
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