04 fevereiro 2008

BETO CARRERO, 70 ANOS DE HISTÓRIA DO CAUBÓI BRASILEIRO

WILLIAN VIEIRA

Por décadas a fio raramente se viu João Batista Sérgio Murad sem o chapéu e a indefectível roupa de caubói -"em público, mesmo, jamais". Certa vez uma mulher insistiu tanto para provar o chapéu branco de abas largas que ele, para não ser deselegante, acabou tirando-o da cabeça. Mas foi apenas por um momento - desses raros, de vulnerabilidade.
Quem visse o empresário em seu show no quinto maior parque temático do mundo ao som do jingle do chicote estalando no ar, ou domando tigres e leões somente com a força dos braços -ou ainda montando o cavalo Faísca, arisco de mentirinha, "para salvar mocinhas do mal" -, não imaginava que o "caubói destemido" tivesse chegado aos 70 anos. Nem parecia.
A imagem de forte valente ele cultivara desde cedo. Nasceu menino pobre, filho de "agregados" de uma fazenda em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Tempos em que ia a cavalo até as cidades vizinhas vender o leite das poucas vacas da família. "Era já um peãozinho."
Dizem os amigos do parque, lembrando das histórias que contava, que "muito apanhou da mãe" por rasgar as roupas novinhas para se fantasiar de Zorro. Era fã do herói a cavalo, que acompanhava pelos quadrinhos velhos que chegavam nas suas mãos no interior.
Desde sempre trabalhou muito e estudou pouco. Aos 18, tentou o rádio e a música sertaneja e quis até promover rodeios. Mas foi na capital, como vendedor de anúncios de jornal, que achou a sua profissão. Abriu sua agência publicitária, ganhou clientes de peso e acabou ficando rico. Ao menos, rico o suficiente.
Havia, porém, "um personagem latente", dos tempos em que se vestia de Zorro, que ele sabia rentável. Aperfeiçoado entre colegas de idéias, o caubói Beto Carrero -homenagem ao pai, que tinha carro de bóis -, surgiu como protagonista do novo "circo mambembe". E saíram Brasil afora, salvando mocinhas e aterrorizando ladrões.
O sucesso da agência e do personagem, o preço baixo dos terrenos no litoral de Santa Catarina, onde foi morar, e o cansaço com a atividade mambembe o fizeram tomar a decisão: investir em um parque temático, focado no caubói destemido, na desconhecida cidade de Penha (SC).
No dia 28 de dezembro de 1991, o parque abriu as portas para o público com o show de Beto Carrero dançando o jingle já conhecido. "Na época, dia de sol era poeira, de chuva era lama." Mas o público e o parque cresceram, e Carrero virou celebridade -fez até filmes com Os Trapalhões e Xuxa e participou de novela.
"Arredio com os médicos", sentia há tempos dores no peito. Morreu ontem em São Paulo, após complicações de uma cirurgia no coração. Homenagens virão para o homem e o personagem. Do aeroporto catarinense, o corpo foi levado ao local do velório, pela viúva, os três filhos e um cortejo de caubóis com o velho cavalo Faísca.


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Belo texto!

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