04 fevereiro 2008

MATILDE E O "COMPANHEIRO CARTÃO"

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Matilde Ribeiro caiu de forma humilhante e vexatória, incapaz de justificar os abusos com o cartão de crédito corporativo. Lula, desta vez, agiu rápido, o que parece suspeito. Seu gesto, de qualquer forma, não afasta o constrangimento nem atenua a gravidade do caso. Ainda resta muito para esclarecer.
O "erro administrativo" que a ex-ministra admitiu, mas sem arrependimentos, em português tem outro nome. Ou os neoaloprados também inventaram a sua própria língua?
Não é trivial nem deve passar batido que esse escândalo atinja a pasta da Igualdade Racial. Mas há evidências até em demasia de que o desvio envolve outros setores do governo, inclusive e sobretudo o Planalto. Ao que parece, criou-se um meio fácil para patrocinar mordomias privadas e baratos afins com o dinheiro público. Cerca de 75% dos R$ 75,6 milhões gastos em 2007 foram sacados em espécie. Algo em torno de R$ 58,7 milhões. Usados para quê?
Já conhecíamos a Lei de Gérson -o importante é levar vantagem em tudo, certo? O PT vem consagrar a Lei de Vavá: o sujeito chega à boca do caixa, aperta os botões e intima:
- Arruma dois pau pra eu!
Consta que o irmão de Lula voltava para casa de mãos vazias. Já a máquina obedece. O "companheiro cartão" tornou-se um instrumento eficaz do neopatrimonialismo petista.
E a Secretaria da Igualdade Racial, como fica? Ela era até aqui uma pasta simbólica, pouco mais que um slogan criado para afirmar um compromisso político. Slogan vazio, diga-se. Em 2007, do seu ridículo Orçamento de R$ 34 milhões, só conseguiu executar 38% (R$ 13 milhões), a maior parte com despesas burocráticas.
O assunto da pasta que foi de Matilde é muito sério, mas não o tratamento que o governo Lula lhe dispensa. Não bastou o mensalão; não bastaram os aloprados. Novamente tão à vontade no comércio com os aliados e no manejo da realpolitik, o "governo popular" - ainda não satisfeito - vem agora aviltar a pasta que deveria cuidar da nossa triste herança colonial e do racismo. Símbolos morrem. Lula deveria saber disso.

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