JANIO DE FREITAS
A palavra do presidente da Petrobras aumenta o contraste com o dito no governo e faz da explicação um complicador
A inexistência de dados secretos, e nem mesmo de real importância, nos contêineres arrombados da Petrobras é a mais recente possibilidade deste caso cada vez mais confuso. Proveniente do próprio José Sérgio Gabrielli, presidente da empresa, a contrariedade ao até aqui noticiado foi sucinta, e com falta de clareza à altura do que se dá no caso todo. Mas, ainda assim, com um período bastante afirmativo, em relação à retirada de equipamentos de uma sonda em atividade:
(...)"essa retirada não é de dados, porque o transporte de dados é feito on-line. Não há transporte físico de dados". Ou seja, os dados provenientes da sonda não saem dela nos computadores.
Nessa primeira referência pública que fez ao roubo, Gabrielli discordou da ocorrência de "falha significativa" no transporte do contêiner em que estariam equipamentos de informática. Em mais um "procedimento usual de retirada de equipamentos de sondas", disse, "o que houve foi uma troca de equipamentos de uma sonda que precisou ser retirada". Foi "procedimento absolutamente normal", ou seja, mais um dos que não incluem "transporte físico de dados".
O silêncio de Sérgio Gabrielli até aqui, só rompido (reticentemente) por sugestão ostensiva de Lula na visita ao gasoduto de Vitória, anteontem, já contrastava com declarações de ministros, como Dilma Rousseff e Tarso Genro, e de Lula mesmo. Todos sugerindo que o roubo de "dados estratégicos" (Lula) do contêiner é "um problema de segurança nacional". E Tarso Genro, bem ao seu modo, logo estabeleceu que o roubo não é "caso só de espionagem de empresas, são interesses geopolíticos", de outros países. Ainda que poucas e pouco interessadas em esclarecer de fato, as palavras de Gabrielli aumentam o contraste com o dito no governo e fazem da explicação um complicador a mais.
O presidente da Petrobras é, em princípio, a pessoa mais informada sobre os pormenores técnicos e a importância implícita no caso. Sério e bem integrado no governo, é improvável que não desse informações adequadas aos superiores. Logo, ou a "normalidade" não era confiável e por isso não foi informada aos declarantes; ou o procedimento foi "absolutamente normal" e não havia "transporte físico de dados", informação que tornaria estranhas as declarações dos ministros e do presidente.
O governo e a Petrobras estão desatentos ao fato de que a empresa é patrimônio da nação e tudo o que lhe diga respeito é de interesse do conhecimento nacional. E, sobretudo, não seria correto o aproveitamento desse incidente, como tudo indica haver, para facilitar um ambiente favorável a negócios armamentistas -a idéia fixa que veio substituir o etanol silenciado pelas descobertas competentes da Petrobras.
As poucas palavras de José Sérgio Gabrielli contrastam com esse jogo.
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Este episódio é todo muito estranho.
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