Rosely Sayão
O ensino fundamental foi ampliado para nove anos e muitas escolas já se adaptaram à nova condição ou estão em plena fase de transição. Essa novidade tem deixado muitos pais bem confusos.
A decisão do MEC foi amplamente divulgada, mas vale lembrar alguns pontos. A ampliação traz benefícios à educação e segue uma tendência mundial - são muitos os países que adotam nove anos no ciclo básico.
No Brasil, inicialmente, são as crianças das classes populares as mais beneficiadas porque elas dependem da escola pública e muitas, aos seis anos, permaneciam excluídas do espaço escolar. As instituições que só trabalhavam com ensino fundamental devem se preparar para receber os novos alunos, que chegam com menos idade. Quais as mudanças que a nova duração do ciclo provoca nas escolas privadas? Inicialmente apenas uma troca de nomenclatura: o período antes chamado pré-escolar passa a ser primeiro ano ou primeira série.
No ano que antecedia a primeira série, as crianças eram introduzidas ao processo de leitura e escrita por meio de atividades lúdicas e o brincar ainda era a atividade mais importante.
Na fase de transição, muitas escolas não conseguiram explicar aos pais o espírito da nova decisão. Dessa maneira, alguns deles concluíram que seu filho pulara um ano e que, portanto, ficara prejudicado. Outros acreditaram que o currículo do ensino fundamental descera um ano e que seu filho começara a aprender tudo mais cedo.
Nessa visão, a ampliação da educação básica ganha um caráter de aumento de conteúdo, não é? Pois é preciso saber que não há essa intenção. A criança que antes freqüentava o último ano da educação infantil continua com a mesma idade, com o mesmo potencial e com a mesma curiosidade em relação ao que pode aprender e exige métodos diferenciados na escola.
É comum encontrarmos crianças com a mesma idade cronológica, mas em diferentes estágios do desenvolvimento, com ritmos diferenciados inclusive na aprendizagem de leitura, escrita e cálculo. Conheço crianças com quatro anos que já ensaiam leitura e escrita e outras com quase seis que estão se iniciando no processo. E todas vivem em ambientes alfabetizadores, tanto em casa quanto na escola. Mesmo com essa diversidade, uma coisa os alunos do primeiro ano têm em comum: estão na passagem para um outro patamar da infância. E qualquer transição na vida é delicada, pois envolve crescimento integral e não apenas cognitivo.
Por isso, os pais não precisam apressar a escola para que o processo inicial de alfabetização ocorra com mais rapidez nem para que mais conteúdo seja agregado ao currículo. Sabemos que uma boa educação formal não tem relação com a quantidade do que é ensinado.
Aliás, temos ensinado assuntos em demasia para os alunos do início do ensino fundamental. O que importa, de fato, é que o que é ensinado seja apresentado em todas as combinações possíveis para que os alunos apreendam a complexidade do conhecimento. Além disso, é importante que, nesse período, seja ensinado o ato de aprender com os colegas - em colaboração e publicamente.
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