18 fevereiro 2008

LÍNGUA COMPRIDA

CLÓVIS ROSSI

Desconfio que qualquer um dos BBBs, os atuais ou os anteriores, produziria uma filosofada bem mais profunda do que o rés-do-chão despejado pelo deputado Ciro Gomes em cima da atriz Letícia Sabatella anteontem, em pleno Senado Federal, a saber:
"Eu, ao meu jeito, escolhi a opção de meter a mão na massa, às vezes suja de cocô, às vezes, mas minha cabeça, não, meu compromisso, não", disse o deputado.
O estilo não é exatamente o de um estadista, com perdão de usar palavra que não cabe neste contexto. Mas cada um tem o seu -e paga um preço por ele.
Ciro já pagou, na campanha eleitoral de 2002, ao enforcar-se na própria língua comprida, contando pequenas mentiras com sua inata presunção, justamente quando começava a subir nas pesquisas. Até aí, problema dele. Mas na frase do deputado à atriz há um problema muito mais sério do que o estilo. Vejamos:
1 - Ciro Gomes foi prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, ministro da Fazenda (governo Itamar Franco) e ministro da Integração Nacional (governo Luiz Inácio Lula da Silva), para citar apenas os cargos públicos mais relevantes e no Executivo.
2 - Nessas funções, obrigatoriamente, Ciro meteu a mão em muitíssimas massas. De acordo com sua própria contabilidade, "às vezes" colidiu com matéria fecal.
3 - Como em todas essas funções, foi pago com dinheiro público, tem a obrigação agora de prestar contas e explicar a quem o paga há muitíssimos anos quantas vezes encontrou "cocô" no meio da massa e o que fez ao descobri-lo (denunciou o defecador? omitiu-se?).
Não dá para falar esse tipo de coisa assim alegremente sem prestar a devida conta. Ainda mais quando, como é o caso de Ciro, faz parte de uma coligação campeã de "meter a mão na massa", para ficar na parte não-escatológica da história.

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