27 fevereiro 2008

MIL FACES

VALDO CRUZ

Não é de hoje que o presidente Lula exercita seu lado teatral. Adora interpretar várias personagens ao mesmo tempo. Nos últimos dias, mostrou que está em forma na arte da ilusão.
Ato 1: em solenidade no Palácio do Planalto, Lula foi só elogios a Matilde Ribeiro. Disse que a ex-ministra da Igualdade Racial não cometeu nenhuma grande irregularidade, só erros administrativos.
Pois bem, esse é o Lula bonzinho. Aquele que adora passar a mão na cabeça de seus auxiliares flagrados em situações desabonadoras.
Não é o mesmo presidente que, nos bastidores, orientou sua equipe a divulgar que Matilde havia cometido falhas que não lhe deixavam outra saída senão pedir demissão do cargo.
Ato 2: Lula costuma dizer que defende a liberdade de imprensa, que é, inclusive, fruto dela. Só que o mesmo ator defendeu como natural a ação orquestrada de uma igreja contra a imprensa, destinada a intimidar jornalistas como Elvira Lobato. Sem falar que, reservadamente, costuma dizer coisas ainda piores sobre a mídia.
Ato 3: Lula está por aqui com a oposição. Mantém-se intransigente diante dos apelos de ceder aos tucanos a presidência da CPI dos Cartões Corporativos. Quer uma comissão totalmente dominada pelos parlamentares governistas.
Só que o petista adora o papel de quem está acima dessas briguinhas do Congresso, de quem não teme CPIs. Aí manda dizer que não vai interferir na disputa. Foi assim na CPI dos Correios. A mesma encenação se repete.
Interpretações como essas são recorrentes durante o mandato do petista. Ainda bem que seu melhor desempenho teatral está na economia. Nesse cenário, consegue ser mais fiel ao roteiro antes, durante e depois de abertas as cortinas.
Fora uma rata aqui, outra ali, no palco da economia Lula sempre veste o figurino do pragmático e conservador, rejeitando o ilusionismo. Saiu-se melhor. Nos outros papéis, deixa a desejar.

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