15 março 2007

PLANALTO PREPARA ENCONTROS DE LULA COM COLLOR E ACM

Josias de Souza

A crônica política brasileira está repleta de brigas homéricas que terminam descambado para reconciliações desconcertantes. Evite-se mencionar, por abundantes, os casos recentes. Fique-se, por eloqüente, com aquela que, talvez, tenha sido a reconciliação mais surpreendente do gênero: as pazes seladas entre Luiz Carlos Prestes e Getúlio Vargas, em 1945.

Sob a ditadura de Getúlio, o Brasil deportou a mulher de Prestes, Olga Benario, para a Alemanha nazista. Grávida de sete meses, Olga foi despachada de navio. Sabia que navegava para a morte. Foi executada, em 1942, num campo de concentração. Três anos mais tarde, em 1945, Prestes aderiria ao movimento pela permanência de Getúlio no poder.

Perto de um gesto assim, tão eloqüente, tendem a passar despercebida a desfaçatez com que Lula estreita certas inimizades. Leia-se, a propósito, as notas abaixo, veiculadas na coluna de Mônica Bergamo (assinantes da Folha):

- Aquele abraço: O presidente Lula deve se encontrar nos próximos dias com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, hoje senador pelo PTB de Alagoas. O pedido de audiência já foi feito a Gilberto Carvalho, secretário particular de Lula -que acenou com a possibilidade de a reunião acontecer ainda nesta semana. "Estamos só aguardando o Lula chamar", diz o maranhense Epitácio Cafeteira, líder da bancada de cinco senadores do PTB, que também vão à audiência. "Vamos nos encontrar. Sem problema algum", diz Collor.

- Lembranças: Será a primeira vez que os dois ficam cara a cara desde o debate da campanha presidencial de 1989. Vai ter foto? "É claro. No Senado, o presidente Lula precisa do voto de cada um dos 81 senadores, inclusive o do Collor. Não vai querer fazer desfeita para o PTB", aposta um parlamentar governista.

- : Collor, por sinal, só anda com um broche de Nossa Senhora de Fátima na lapela.

- Gentileza: E, depois de Collor, o presidente Lula deve receber o senador Antonio Carlos Magalhães - que já o chamou de "ladrão", e a quem Lula já se referiu como "hamster". "Vou ao Palácio agradecer a gentileza da visita", diz ACM, que está internado no Incor e recebeu visita do presidente na UTI.

Para que não reste dúvida quanto ao inusitado dos encontros que se avizinham, o signatário do blog lembra que Collor já foi taxado por Lula de “corrupto” e “débil mental.” Deu-se numa entrevista que, depois do mensalão, acabou se convertendo em peça de campanha anti-Lula.

Quanto a ACM, não se cansa de referir-se a Lula como “ladrão”. No ano passado, a pretexto de reagir à invasão da Câmara por militantes do MLST, o morubixaba da tribo pefelê pronunciou o mais encardido de seus discursos. Referiu-se a Lula como “o maior ladrão do Brasil”, “o homem mais corrupto que já chegou ao governo da República.” Disse que, além do Congresso pós-valeriano, também “o Planalto” e “a família do presidente” são lugares de “ladrão”.

Ora, os mais pragmáticos podem até argumentar que rupturas e reconciliações são da essência da atividade política. São preferíveis ao derramamento de sangue. O repórter, dono de um estômago suscetível, prefere avaliar que a desfaçatez apenas reforça a impressão de que a política e seus agentes, por vezes, não merecem ser levados a sério.

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