24 março 2007

O TIME AGORA TEM DE JOGAR

A nova equipe do presidente Lula tem menos petistas e a forma de um governo de coalizão
Otávio Cabral
- VEJA

Em 2003, quando tomou posse como presidente da República, Lula nomeou um ministério à imagem e semelhança do seu partido. Eram dos petistas os postos mais importantes, como Educação e Saúde, os mais sensíveis, como Casa Civil e Fazenda, e os mais endinheirados, como Cidades e Desenvolvimento Social. O resultado da partidarização sem critérios, como se viu depois, foi o fracasso administrativo em vários setores e uma tragédia sob o ponto de vista ético em outros. Na semana passada, depois de cinco meses de negociações políticas, Lula praticamente concluiu a montagem de sua equipe para o segundo mandato. Dos 37 cargos com status de ministério, o presidente já escolheu 33. Os últimos quatro serão definidos nos próximos dias. A primeira característica marcante que se observa no novo ministério é que a supremacia petista não existe mais. Numericamente, o partido ainda ocupa quinze pastas, mas perdeu influência. Ficou tão visível o afastamento entre o governo e o PT na composição da nova equipe que para a maior estrela petista no ministério, a ex-prefeita Marta Suplicy, foi reservada a desimportante pasta do Turismo.

Por mais que se tente, não se pode enxergar nisso um sinal de prestígio do partido ou da própria Marta Suplicy, ainda mais se se levar em consideração que ela é uma das aspirantes à sucessão do próprio Lula. O presidente não quer ver seu governo contaminado por disputas intestinas. O afastamento entre Lula e o PT, além de conveniente, é resultado de puro pragmatismo. Na nova composição do governo, o PMDB é a face mais visível. Dono da maior bancada do Congresso, o partido, com seu apoio, deve dar tranqüilidade ao presidente e sepultar eventuais problemas no Parlamento. No comando de cinco ministérios importantes, o partido já cumpriu sua primeira missão na semana passada ao ajudar a engavetar a proposta de criação da CPI para investigar a crise do setor aéreo. Ao mesmo tempo, Lula sentiu rapidamente o gosto amargo do PMDB ao ter de cancelar a nomeação do enrolado Odílio Balbinotti para o Ministério da Agricultura. Ainda se viu obrigado a analisar a ficha criminal de meia dúzia de candidatos, até escolher o nome de Reinhold Stephanes. O critério foi a honestidade, como se isso fosse uma virtude difícil de encontrar no Planalto Central. É? Ministro de governos passados, Stephanes vai se juntar a Geddel Vieira Lima, um peemedebista que passou a amar o presidente Lula há pouquíssimo tempo – mais precisamente quando começou a vislumbrar a possibilidade de assumir o Ministério da Integração Nacional. Antes, Geddel gastava boa parte de seu tempo construindo frases de efeito para espezinhar o presidente e seu governo. Incompetente foi a forma mais educada como ele já se referiu a Lula. Mas isso ficou no passado. Em nome das alianças e do bem do Brasil, Geddel, o PMDB e Lula estarão juntos nos próximos anos.

Para consolidar o arco de alianças, Lula também reservou o Ministério dos Transportes para Alfredo Nascimento, senador eleito pelo PL do Amazonas. Partido de mensaleiros, o PL mudou recentemente de nome – agora se chama PR, Partido da República –, mas continua com os mesmos trejeitos do passado. Os "republicanos" elegeram 23 deputados, já aumentaram a bancada para quarenta e querem chegar a cinqüenta parlamentares até o fim do semestre. Todos mudaram de sigla movidos por promessas de cargos. A grande estrela do PR é o deputado Valdemar Costa Neto, aquele que renunciou ao mandato em 2005 por envolvimento no escândalo do mensalão. Eleito no ano passado, o parlamentar mudou de estratégia. Por princípios, não negocia mais cargos nem vantagens no governo. Manda alguém fazer isso por ele.

O presidente ainda não anunciou o ministro da Defesa, mas o futuro ocupante do cargo será Aldo Rebelo, do PCdoB. Lula também convidou dois jornalistas para sua nova equipe. Um deles, Miguel Jorge, foi vice-presidente do Banco Santander. O outro é Franklin Martins, encarregado da área de comunicação do governo. Ex-diretor da Rede Globo em Brasília, Franklin deixou o cargo após surgirem suspeitas de seu envolvimento na quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, responsável por denúncias que derrubaram o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Na nova equipe de Lula, dezoito ministros permaneceram no cargo e alguns foram promovidos. Tarso Genro deixou o Ministério das Relações Institucionais e assumiu o Ministério da Justiça. Walfrido Mares Guia, que ocupava o Ministério do Turismo, vai para o lugar de Genro com a missão de cuidar das articulações políticas do governo no Congresso. É bom articulador. Bom demais, talvez. Durante o escândalo do mensalão, a CPI descobriu um cheque de Mares Guia na conta do publicitário Marcos Valério – o banco central da corrupção petista. O ministro explicou que tudo não passava de um simples pagamento de empréstimo, um negócio particular entre dois conterrâneos, sem nenhum vínculo com suas funções públicas. É esse o novo time que está entrando em campo.

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