ELIANE CANTANHÊDE
Depois de cada eleição, é sempre a mesma coisa: os partidos vitoriosos (e governistas) incham, e os derrotados (e oposicionistas) murcham. FHC subiu a rampa, e o PFL se fortaleceu. FHC desceu, Lula subiu e o PFL se enfraqueceu a ponto de ter mudado de sigla ontem. Virou DEM. O poder atrai, a falta de poder afasta.
Além dessa regra, ou "movimento natural", há também uma espécie de leilão entre os partidos, expondo os parlamentares a um verdadeiro "quem dá mais?" e alimentando assim todo o processo de corrupção parlamentar.
É por isso, pela facilidade em trocar de legenda e pelas "facilidades" (não raro medidas em cifrões) oferecidas por alguns partidos, que uns sujeitos se elegem pelo PFL, passam para o PP, dão uma voltinha pelo PR e acabam no PTB, como se fosse um passeio.
A decisão de anteontem do TSE, portanto, provoca um sacolejo de bom tamanho no Congresso Nacional, ao determinar a fidelidade partidária e automaticamente prever uma pena para quem não cumpri-la: a perda de mandato.
Imagine você como estavam os parlamentares e os partidos ontem.
O PR, que mais recebeu "adesões", já chamava a decisão do TSE de "ditadura". O PFL, que perdeu sete deputados (fora um que morreu) e provocou o posicionamento do TSE, estava em estado de euforia.
Ou melhor: de revanche. E, no TSE, o ministro Marco Aurélio Mello se divertia. Ele foi o grande articulador da votação. Agora, falta saber se o sujeito que trocou de sigla vai querer voltar à original e se o partido que perdeu o sujeito vai aceitar o filho pródigo ou brigar pela vaga. E vamos torcer para que a Câmara não salve a pele dos atuais parlamentares. O TSE opinou sobre regras existentes, e a Câmara pode simplesmente criar uma nova regra. Aí, adeus decisão do TSE. Ou seja: adeus mais uma tentativa de moralização política.
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