29 março 2007

FORA ABORRESCENTE!

Rosely Sayão

De vez em quando, surgem aqui questões que alguns adolescentes postam a respeito das dúvidas que têm sobre o exercício da sexualidade. Mesmo não tendo relação alguma com meu texto, eu entendo. É que, aqui no índice do blog, há um link para o UOL Teen Sexo, site que coordenei por um tempo e que se disponha a dialogar com os adolescentes a respeito desse assunto de tanta importância para eles. Importância vital, eu diria.

Creio que todo mundo conhece – e muitos usam – a expressão “aborrescente” para qualificar os adolescentes. Não sei de onde surgiu essa palavra, mas eu não a suporto.

Acho absolutamente encantadora essa fase da vida. É nesse período em que eles tentam descobrir quem são e que procuram encontrar – e/ou construir - seu lugar neste admirável e louco mundo. Claro que isso não é nada fácil para eles, principalmente quando os adultos que os rodeiam fazem pouco de suas angústias, nem sempre expressas com clareza, e os chamam de aborrescentes, por exemplo.

Afinal, por que é que muitos pais e professores se aborrecem com eles, com suas atrapalhadas contestações e rebeldias, com sua ruidosa e impetiosa maneira de viver? Entre vários motivos, porque eles nos colocam em cheque, nos questionam a respeito de nossa relação com a vida e exigem nossa firme presença – sem grandes embates – nesse final de relação de dependência deles para conosco.

Mas nós nem sempre estamos dispostos a doar a eles nosso precioso tempo, paciência, energia e disposição para caminhar ao lado e com eles, não é? Por isso, nos aborrecemos com tanta demanda.

Um jovem de 19 anos postou um comentário aqui no blog e, ao contar que sempre assiste ao “Momento Família” disse que não sente que tenha família. Dá para se sensibilizar com essa fala, não dá? Pois muitos adolescentes se sentem assim sozinhos, desacompanhados, excluídos da relação familiar porque seus pais não conseguem bancar a demanda que eles fazem.

Gostaria muito que nós fossemos mais generosos e disponíveis para eles. Que eles pudessem ser interpelados pelos seus educadores, que tivessem crédito da parte deles e que pudessem ser ajudados a aprender com seus erros.

Sei que não é fácil, pois meus filhos já f oram adolescentes. Mas, com paciência, disponibilidade e levando a sério as questões que os angustiam, conseguimos fazer muito por eles nessa fase. Mais do que os considerando aborrescentes, do que recusando diálogo com questões que, à primeira vista, parecem tolas, mais do que olhando mais para nós do que para eles.

Vamos combinar de retirar essa mal dita palavra de nosso vocabulário?

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