30 março 2007

LULA ACERTA E ERRA DEMAIS

Kennedy Alencar

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acerta muito. Mas também erra muito. Fazer uma reforma ministerial amarrada à criação de uma forte base de apoio no Congresso é um grande acerto. Lula errou em 2002 ao esnobar o PMDB e ao levar quatro anos para se render ao óbvio. Precisava compor com todo o partido, não apenas com algumas alas.

Também é correto buscar proteção política no Congresso contra CPIs, como é correto a oposição lutar pela instalação dessas comissões parlamentares de inquérito. Agora, por exemplo, ela achou um assunto concreto, a crise aérea, para desgastar o governo. Está cumprindo bem o seu papel.

No entanto, demorar cinco meses para concretizar a reforma foi um tremendo erro de Lula. Perda de tempo. Ele vai argumentar que é dono do tempo, que é quem manda, que assim foi melhor. Bobagem. Queimou 150 dias numa tarefa que poderia ter sido resolvida em 30. A ameaça concreta de instalação da CPI do Apagão Aéreo é resultado da demora em organizar suas forças de sustentação no Congresso.

Por ora, apenas uma medida provisória do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi aprovada no Legislativo federal. Reformas tributária e política caminham a passo de tartaruga. A violência se impõe como maior preocupação dos brasileiros, mostrou o Datafolha, superando a questão do emprego.

Lula levou ao limite as possibilidades de composição. Quinze partidos o apóiam formalmente no Congresso. São 376 deputados entre 513. É um Exército poderoso, mas que, como todo o Exército, precisará ser alimentado para entrar em batalhas. Logo, o preço não será baixo. E aí poderão estar sementes de novos escândalos.

Lula levou um mês só para decidir onde alojar o PDT. Partido atrasado, quase levou a Previdência. Seria um desastre. Um sinal anti-reforma. Na última hora, Lula deslocou a legenda para o Trabalho.

Precisava tanto assim do PDT, uma sigla de 23 deputados dividida e que não costuma ser fiel ao governo? Não poderia ter acomodado o partido em outro posto, talvez no segundo escalão? Era necessário demorar tanto a resolver esse assunto? Teve efeito positivo a paralisia de tantos ministérios e setores do governo enquanto Lula posava de senhor do tempo e da decisão?

É a segunda vez que Lula recomeça o segundo mandato. A primeira foi em 22 de janeiro, quando lançou o PAC. Até integrantes do governo diziam: "Agora vai. Começou o segundo governo". Na última quinta-feira, ele concluiu a primeira fase da reforma ministerial. Vejamos se começa de fato o segundo governo. O país tem pressa.


Segunda fase
Lula terá 36 ministros no segundo mandato. Ainda criará a Secretaria de Portos, dando a Pedro Brito status de ministro. Lula fez um acordo com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, para levar uns dias até criar a nova estrutura. Para não parecer atropelado.

O presidente deixou Guilherme Cassel no Desenvolvimento Agrário por falta de opção. Sondou o ex-ministro da Agricultura Luiz Carlos Guedes para o posto, que disse não. Não queria os outros nomes petistas levados pelo PT, como o deputado federal Walter Pinheiro (BA) e o dirigente partidário Joaquim Soriano.

Lula pretende tirar Waldir Pires da Defesa. Mas a crise aérea ajudou o ministro. No final do ano passado, quando amadureceu essa decisão, o presidente disse que aguardaria a reforma ministerial para dar à troca caráter natural. Veio nova crise. E Pires ganhou sobrevida. Lula disse que não o tiraria numa hora de sufoco.

O general Jorge Armando Félix, do Gabinete da Segurança Institucional, também deverá ser substituído numa segunda fase da reforma. Pelo ritmo da primeira, essa segunda poderá se estender por um ano!

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