Reinaldo Azevedo
Mas o etanol é uma alternativa para valer?Acho que dá para acreditar nisso, sempre tomando os devidos cuidados.O Oriente Médio, que fornece o petróleo que move o mundo — EUA são os maiores produtores, mas consomem todo o seu e mais o dos outros... — deixará de ser uma região instável? Bem, não no curto prazo. E, no longo, Lord Keynes já disse o que acontecerá conosco... Mas a questão não é só essa, não. Ainda que o preço do barril do petróleo despenque — e o Brasil parou de investir no programa do álcool a partir de meados da década de 80 por causa do baixo preço do óleo —, há a questão ambiental, que veio para ficar, mais difícil de se dissipar do que as camadas de dióxido de carbono...
O álcool, de cana, milho ou grama, agride muito menos o meio ambiente. Bush só dá esse passo em favor do etanol — passo importante, reitero — porque sabe que conseguiu queimar o seu filme em escala planetária. Imaginem só: o antes chamado lobista da indústria do petróleo pode ter dado uma contribuição definitiva no desenvolvimento de uma matriz energética para o mundo — o que ela não é hoje, restrita que está ao Brasil e aos próprios Estados Unidos.
O mundo, por sua vez, ficará na dependência desses dois países? É claro que não. Outros terão de entrar na produção de etanol e no desenvolvimento do álcool de celulose — cumpre ao Brasil, reitero, não perder as vantagens comparativas de que dispõe hoje. Para que os países refaçam seus planejamentos estratégicos, terão de ter a certeza de que a) não faltará etanol; b) não ficarão na dependência de um único país exportador (já que os EUA consomem todo o seu etanol).
Isso significa que haverá o momento em que, por exemplo, as indecentes tarifas cobradas no EUA para o álcool brasileiro terão de ser rediscutidas? Sem dúvida. Um leitor pergunta por que não existem barreiras para o petróleo. Porque não precisa, ora essa. Ao importar o produto, os países não criam uma concorrência com o produtor local. No caso do etanol, isso existe. Embora, vejam só, ao importar o álcool brasileiro, nem se pode dizer que os EUA criem constrangimentos a seus produtores, já que não resta excedente do produto nativo. E não custa lembrar: a "terceiro-mundista" União Européia impõe cotas de importação. Querem continuar a fazer álcool, sei lá eu, de beterraba.
A China tem muita terra para plantar cana? Tem. Mas não tem água o suficiente e um clima propício durante praticamente todo o ano. O mesmo se diz da Austrália? Sim. Os Estados Unidos usam todo o seu solo agriculturável. Quem ainda tem terra disponível, além das outras condições objetivas? O Brasil. O tal aquecimento global (vocês sabem que sou de outra religião, mas, se essa nos for útil...) manterá por pelo menos mais três décadas a questão ambiental como um dos principais itens da pauta dos países. Então, entendo, a questão do etanol e do álcool de celulose veio pra ficar.
E, quem diria?, devemos isso a Bush. Fosse Al Gore o presidente dos EUA, ao lado de um governo tanto ou mais protecionista do que o americano, no máximo, teríamos mais poesia. E mais documentários. Eis uma verdade realmente inconveniente.
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