"O PSDB vai lançar o programa sutiã: oprime os grandes, protege os pequenos e levanta os caídos."
Gustavo Fruet, deputado federal (PSDB-PR), brincando, na recepção tucana a Geraldo Alckmin, em Brasília.
31 março 2007
O QUE É ISSO, MATILDE?
André Petry
"O projeto do governo Lula é forçar o Brasil a renunciar ao orgulho da mestiçagem – fonte de toda a nossa originalidade – para adotar uma versão americanizada de país bicolor, preto e branco"
O governo Lula acaba de brindar a sociedade com mais uma pérola inesperada: descobriu-se que a ministra da Igualdade Racial, que vem a ser a maior autoridade oficial em questões raciais, não sabe o que é racismo. Ou, dito de outro modo, tem uma visão exoticamente peculiar sobre racismo. Em entrevista à BBC, por ocasião dos 200 anos da proibição do tráfico negreiro pela Inglaterra, a ministra Matilde Ribeiro foi indagada se no Brasil, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, também havia racismo de negro contra branco. A ministra saiu-se com a declaração que há de lhe ficar encravada na biografia e merece ser reproduzida na íntegra: "Eu acho natural que tenha", começou a ministra, referindo-se ao racismo de negro contra branco no Brasil. "Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando a isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou."
Então, para ficar claro: a ministra da Igualdade Racial disse que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco".
O mundo deveria ter desabado, mas nada aconteceu: a ministra continua solidamente no cargo. Pelo seu raciocínio, o racismo, esse crime inafiançável no Brasil mestiço e miscigenado, é uma discriminação de mão única. Se um negro hostiliza um branco não é uma coisa boa, mas é uma vingança compreensível pelo açoite de séculos – já branco hostilizando negro é racismo. Se um negro despreza um branco também não é uma coisa boa, mas ele estará expressando um repúdio natural a uma agressão histórica – e branco desprezando negro é racismo. Se um negro se insurge contra um branco é um desabafo compreensível, embora indesejável, diante da opressão. O contrário é racismo.
Em que categoria a ministra Matilde colocaria os descendentes daqueles negros que, uma vez livres, tornaram-se eles próprios donos de escravos igualmente negros? São negros contra os quais outros negros podem naturalmente se insurgir, embora isso não seja uma coisa boa? E em que categoria a ministra incluiria a imensa massa brasileira de pardos, filhos da miscigenação entre açoitados e açoitadores?
A visão da ministra Matilde sobre racismo é um descalabro monumental, mas, no fundo, dá para compreender. Porque tudo se integra perfeitamente no projeto racial do governo Lula. Com seus estatutos de igualdade racial escandalosamente discriminadores, com suas pesquisas raciais em escolas, com suas políticas de cotas raciais em universidades e no serviço público, o projeto do governo é forçar o Brasil a renunciar ao orgulho da mestiçagem – fonte de toda a nossa originalidade – para adotar uma versão americanizada de país bicolor, preto e branco.
Com todo o orgulho, claro.
"O projeto do governo Lula é forçar o Brasil a renunciar ao orgulho da mestiçagem – fonte de toda a nossa originalidade – para adotar uma versão americanizada de país bicolor, preto e branco"
O governo Lula acaba de brindar a sociedade com mais uma pérola inesperada: descobriu-se que a ministra da Igualdade Racial, que vem a ser a maior autoridade oficial em questões raciais, não sabe o que é racismo. Ou, dito de outro modo, tem uma visão exoticamente peculiar sobre racismo. Em entrevista à BBC, por ocasião dos 200 anos da proibição do tráfico negreiro pela Inglaterra, a ministra Matilde Ribeiro foi indagada se no Brasil, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, também havia racismo de negro contra branco. A ministra saiu-se com a declaração que há de lhe ficar encravada na biografia e merece ser reproduzida na íntegra: "Eu acho natural que tenha", começou a ministra, referindo-se ao racismo de negro contra branco no Brasil. "Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando a isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou."
Então, para ficar claro: a ministra da Igualdade Racial disse que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco".
O mundo deveria ter desabado, mas nada aconteceu: a ministra continua solidamente no cargo. Pelo seu raciocínio, o racismo, esse crime inafiançável no Brasil mestiço e miscigenado, é uma discriminação de mão única. Se um negro hostiliza um branco não é uma coisa boa, mas é uma vingança compreensível pelo açoite de séculos – já branco hostilizando negro é racismo. Se um negro despreza um branco também não é uma coisa boa, mas ele estará expressando um repúdio natural a uma agressão histórica – e branco desprezando negro é racismo. Se um negro se insurge contra um branco é um desabafo compreensível, embora indesejável, diante da opressão. O contrário é racismo.
Em que categoria a ministra Matilde colocaria os descendentes daqueles negros que, uma vez livres, tornaram-se eles próprios donos de escravos igualmente negros? São negros contra os quais outros negros podem naturalmente se insurgir, embora isso não seja uma coisa boa? E em que categoria a ministra incluiria a imensa massa brasileira de pardos, filhos da miscigenação entre açoitados e açoitadores?
A visão da ministra Matilde sobre racismo é um descalabro monumental, mas, no fundo, dá para compreender. Porque tudo se integra perfeitamente no projeto racial do governo Lula. Com seus estatutos de igualdade racial escandalosamente discriminadores, com suas pesquisas raciais em escolas, com suas políticas de cotas raciais em universidades e no serviço público, o projeto do governo é forçar o Brasil a renunciar ao orgulho da mestiçagem – fonte de toda a nossa originalidade – para adotar uma versão americanizada de país bicolor, preto e branco.
Com todo o orgulho, claro.
ENTRE A FINLÂNDIA E O PIAUÍ
Cláudio de Moura Castro
"Os sistemas educativos que deram certo no mundo são simples, óbvios e robustos. Praticam o feijão-com-arroz da educação"
A Finlândia tem o melhor sistema educativo do mundo. O Piauí possui a melhor escola secundária do Brasil. O que mais haverá de comum entre a Finlândia e o Piauí? É simples, ambos praticam a teoria do feijão-com-arroz educativo.
Ouvindo alguns oráculos da nossa educação, sentimos falta de um dicionário para entender certas palavras e de suplemento de oxigênio para navegar nos ares rarefeitos das teorias recitadas. Para outros, sem doses fartas de tecnologia nada se vai resolver. Mas, esquadrinhando o mundo em busca dos sistemas educativos que deram certo, vamos descobrir que são simples, óbvios e robustos. Praticam o feijão-com-arroz da educação. Vejamos o que dizem as pesquisas peneirando os traços comuns das boas escolas e dos bons sistemas.
• Boas escolas têm clara percepção dos rumos em que navegam, isto é, possuem metas. Além disso, são poucas metas, que não mudam de uma hora para outra e são compartilhadas por todos. E não é só isso. As metas são quantificadas (exemplo: em dois anos, ganhar tantos pontos nos testes).
• O ambiente é sempre saudável, os fluidos são bons e os professores estão satisfeitos. De fato, para os professores, a atmosfera da escola é pelo menos tão importante quanto o salário. Ademais, a sociedade valoriza e prestigia os professores.
• As autoridades dão às escolas muita autonomia para operar. Há forte liderança do diretor ("a escola tem a cara do diretor"). Ele manda. É um real gerente, estando livre para se mover. Mas deve atingir as metas estabelecidas, e seu desempenho é avaliado com rigor. Quase não é preciso dizer: nem sua indicação é moeda de troca na política nem ele é eleito pelos seus pares.
• Sejam públicas ou privadas, as escolas são administradas como as boas empresas. Há cobrança de resultados e vantagens para quem desempenha bem seu papel. Os melhores mestres são colocados nas turmas mais difíceis. Ao mesmo tempo, malandros e incompetentes ganham puxões de orelha.
• Provavelmente, os professores nunca ouviram falar nem nos autores nem nas teorias da moda pedagógica. Contudo, conhecem bem os assuntos que ensinam e aprenderam a ensinar. De fato, pedagogia para eles significa saber ensinar cada ponto da matéria.
• Há muita ênfase em aplicar as teorias em problemas da vida real – em vez de decorar fatos, fórmulas e definições. Os livros são de boa qualidade, detalhados e universalmente usados. Os professores não precisam "criar" sua aula (embora não esteja proibido), pois existe uma retaguarda de planejamento e explicitação de tudo o que acontece na aula (os livros e os guias dos professores oferecem bancos de perguntas, de exercícios e de aplicações práticas).
• Os currículos oficiais são claros e precisos, dizendo exatamente o que é para ser ensinado e aprendido. Segundo um funcionário do Ministério da Educação da Finlândia: "Nosso currículo prescreve, nossos professores ensinam e nossos alunos aprendem as mesmas competências e conhecimentos que são avaliados no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos)".
• A sala de aula é convencional. Existem avaliações freqüentes, bastante dever de casa e muito feedback para o aluno. A jornada de trabalho é longa (pelo menos cinco horas), mas não há necessariamente tempo integral. Os alunos são seriamente cobrados e precisam estudar. A disciplina é "careta" (por exemplo, não se pode conversar durante a aula).
• A família acompanha a vida escolar do aluno e o vigia de perto, para assegurar que ele fez o dever de casa. Além disso, conversa muito com ele e garante a existência de um ambiente físico e psicológico que favorece o estudo e o aprendizado. Televisão berrando ou sintonizada na novela pode ser a distração da família, mas desvia o aluno do seu maior projeto de vida, que é a educação.
Quando examinamos as melhores escolas do Enem, lá está também a predominância da doutrina do feijão-com-arroz, observada nas melhores escolas de outros países. Colecionam os melhores lugares as instituições (confessionais ou não) de tradição rígida, os colégios militares e outras do mesmo estilo. Ainda bem que não são necessárias fórmulas mirabolantes para oferecer uma boa educação.
"Os sistemas educativos que deram certo no mundo são simples, óbvios e robustos. Praticam o feijão-com-arroz da educação"
A Finlândia tem o melhor sistema educativo do mundo. O Piauí possui a melhor escola secundária do Brasil. O que mais haverá de comum entre a Finlândia e o Piauí? É simples, ambos praticam a teoria do feijão-com-arroz educativo.
Ouvindo alguns oráculos da nossa educação, sentimos falta de um dicionário para entender certas palavras e de suplemento de oxigênio para navegar nos ares rarefeitos das teorias recitadas. Para outros, sem doses fartas de tecnologia nada se vai resolver. Mas, esquadrinhando o mundo em busca dos sistemas educativos que deram certo, vamos descobrir que são simples, óbvios e robustos. Praticam o feijão-com-arroz da educação. Vejamos o que dizem as pesquisas peneirando os traços comuns das boas escolas e dos bons sistemas.
• Boas escolas têm clara percepção dos rumos em que navegam, isto é, possuem metas. Além disso, são poucas metas, que não mudam de uma hora para outra e são compartilhadas por todos. E não é só isso. As metas são quantificadas (exemplo: em dois anos, ganhar tantos pontos nos testes).
• O ambiente é sempre saudável, os fluidos são bons e os professores estão satisfeitos. De fato, para os professores, a atmosfera da escola é pelo menos tão importante quanto o salário. Ademais, a sociedade valoriza e prestigia os professores.
• As autoridades dão às escolas muita autonomia para operar. Há forte liderança do diretor ("a escola tem a cara do diretor"). Ele manda. É um real gerente, estando livre para se mover. Mas deve atingir as metas estabelecidas, e seu desempenho é avaliado com rigor. Quase não é preciso dizer: nem sua indicação é moeda de troca na política nem ele é eleito pelos seus pares.
• Sejam públicas ou privadas, as escolas são administradas como as boas empresas. Há cobrança de resultados e vantagens para quem desempenha bem seu papel. Os melhores mestres são colocados nas turmas mais difíceis. Ao mesmo tempo, malandros e incompetentes ganham puxões de orelha.
• Provavelmente, os professores nunca ouviram falar nem nos autores nem nas teorias da moda pedagógica. Contudo, conhecem bem os assuntos que ensinam e aprenderam a ensinar. De fato, pedagogia para eles significa saber ensinar cada ponto da matéria.
• Há muita ênfase em aplicar as teorias em problemas da vida real – em vez de decorar fatos, fórmulas e definições. Os livros são de boa qualidade, detalhados e universalmente usados. Os professores não precisam "criar" sua aula (embora não esteja proibido), pois existe uma retaguarda de planejamento e explicitação de tudo o que acontece na aula (os livros e os guias dos professores oferecem bancos de perguntas, de exercícios e de aplicações práticas).
• Os currículos oficiais são claros e precisos, dizendo exatamente o que é para ser ensinado e aprendido. Segundo um funcionário do Ministério da Educação da Finlândia: "Nosso currículo prescreve, nossos professores ensinam e nossos alunos aprendem as mesmas competências e conhecimentos que são avaliados no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos)".
• A sala de aula é convencional. Existem avaliações freqüentes, bastante dever de casa e muito feedback para o aluno. A jornada de trabalho é longa (pelo menos cinco horas), mas não há necessariamente tempo integral. Os alunos são seriamente cobrados e precisam estudar. A disciplina é "careta" (por exemplo, não se pode conversar durante a aula).
• A família acompanha a vida escolar do aluno e o vigia de perto, para assegurar que ele fez o dever de casa. Além disso, conversa muito com ele e garante a existência de um ambiente físico e psicológico que favorece o estudo e o aprendizado. Televisão berrando ou sintonizada na novela pode ser a distração da família, mas desvia o aluno do seu maior projeto de vida, que é a educação.
Quando examinamos as melhores escolas do Enem, lá está também a predominância da doutrina do feijão-com-arroz, observada nas melhores escolas de outros países. Colecionam os melhores lugares as instituições (confessionais ou não) de tradição rígida, os colégios militares e outras do mesmo estilo. Ainda bem que não são necessárias fórmulas mirabolantes para oferecer uma boa educação.
UM RAIO DE LUZ, MAS... SERÁ?
Roberto Pompeu de Toledo
O parecer do TSE contra deputados vira-casacas é tão boa notícia que recomenda cautela
Uma oportunidade de ouro para restituir um pouco de decência ao sistema político brasileiro foi aberta na semana passada pelo Tribunal Superior Eleitoral ao afirmar que o mandato eletivo pertence antes ao partido do que ao deputado federal, deputado estadual ou vereador. A conseqüência prática disso é que a figura tão contumaz, no Brasil, do vira-casaca que, mal empossado, se bandeia para outro partido deve ficar sem mandato, cabendo ao partido pelo qual foi eleito o direito de substituí-lo por um suplente. Se o leitor ou a leitora estão pensando que o cenário é bom demais para ser verdade, estão certos. Vitórias da decência são eventos com que não dá para contar, no Brasil de hoje. Em todo caso...
O TSE se pronunciou em resposta a uma consulta do PFL (ou Democratas, como esse partido quer agora ser chamado). Até a semana passada, 37 dos deputados federais eleitos em outubro haviam mudado de partido. O PFL e o PPS foram os que mais perderam quadros – oito cada um –, seguidos pelo PSDB, com sete. Os trânsfugas mudaram-se todos para agremiações governistas, em busca de... Bem, o (a) leitor(a) já sabe. O mesmo sistema do mensalão, embora talvez não um mensalão tão mensalão, tão palpável, tão líquido, tão cash, se é que nos estamos fazendo entender (claro que estamos), navegava a todo o vapor, sob as cúpulas complacentes do Congresso Nacional. Notícias do balcão de ofertas de cargos e de privilégios a deputados interessados davam o ar de sua graça diariamente na imprensa, sem que o governo se desse ao trabalho de desmentir nem os colunistas políticos de se escandalizar. O partido preferido pelos vira-casacas é o Republicano, novo nome do Partido Liberal, de mensaleiras tradições. Com seu guichê alegremente aberto às adesões, o PR, que nas urnas elegeu 25 deputados, na semana passada já somava 41.
O voto do ministro Cesar Asfor Rocha, relator da consulta ao TSE, é, além de consistente peça jurídica, uma homenagem à instituição do partido político, esse "protagonista da democracia representativa", cujo vínculo com o candidato lhe proporciona "o mais forte, se não o único, elemento de sua identidade política". O sistema proporcional, pelo qual são eleitos os deputados brasileiros, tem por objetivo fazer com que as correntes de opinião, tal qual consolidadas nos partidos, sejam contempladas no Parlamento com representações proporcionais à sua acolhida na população. Daí que compreender o mandato como "algo integrante do patrimônio privado de um indivíduo, de que ele possa dispor", signifique negar sua natureza, "cuja justificativa é a função representativa de servir, em vez de dele servir-se".
Imagine-se, numa comparação tosca, que o morador de um edifício passe procuração a outro para, na reunião do condomínio, votar pela ampliação da garagem, já que os dois concordam com a medida. O procurador vai à reunião, mas lá troca de lado e usa a procuração para engrossar a votação contra a mudança. A coisa é simples assim. Espanta que a ilegalidade do troca-troca partidário não tenha sido argüida antes. Acresce, segundo a argumentação do ministro Asfor Rocha, que o que conta, para a distribuição das cadeiras na Câmara, assim como nas Assembléias e Câmaras Municipais, são os votos nos partidos. O sistema prevê que um "quociente eleitoral" será apurado da divisão do total dos votos válidos (isto é, excluídos os brancos e os nulos) pelo número de cadeiras em jogo. A cada partido caberá bancada igual a seu total de votos dividido pelo quociente eleitoral. Na esmagadora maioria, os deputados se elegem com votos abaixo do quociente eleitoral. São tonificados pelos votos dados aos companheiros de partido e pelos votos na legenda. Nas contas de Asfor Rocha, só 31, dos atuais 513 deputados federais, atingiram ou ultrapassaram, com seus próprios votos, o quociente eleitoral.
O voto do relator foi acompanhado por cinco outros ministros do TSE. Só um votou contra. O Supremo Tribunal Federal, no caso mais do que provável de vir a ser acionado, tenderia, segundo se entendia na semana passada, a confirmar o TSE. Contra tal ameaça a seus interesses, as forças pró-vira-casacas cogitavam em "provocar legislação nova", como disse um de seus comandantes, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. Não será fácil. A argumentação do ministro Asfor Rocha é toda assentada na Constituição. A ser mantida pelo Supremo, não poderia ser contrariada por legislação infraconstitucional. Restaria a opção de uma emenda constitucional. Mas, além da necessária maioria de três quintos, como explicitar, na Constituição, que o deputado está autorizado a trocar de legenda sempre que lhe aprouver?
O leitor e a leitora estão felizes em ver como parece bem amarrada a ofensiva contra os vira-casacas? Não fiquem. Voltemos à nota de cautela anunciada no primeiro parágrafo. Vida longa é assegurada, no Brasil, aos patronos da indecência. Se é o caso de apostar, nunca é recomendável gastar muita ficha na suposição de que eles serão derrotados.
O parecer do TSE contra deputados vira-casacas é tão boa notícia que recomenda cautela
Uma oportunidade de ouro para restituir um pouco de decência ao sistema político brasileiro foi aberta na semana passada pelo Tribunal Superior Eleitoral ao afirmar que o mandato eletivo pertence antes ao partido do que ao deputado federal, deputado estadual ou vereador. A conseqüência prática disso é que a figura tão contumaz, no Brasil, do vira-casaca que, mal empossado, se bandeia para outro partido deve ficar sem mandato, cabendo ao partido pelo qual foi eleito o direito de substituí-lo por um suplente. Se o leitor ou a leitora estão pensando que o cenário é bom demais para ser verdade, estão certos. Vitórias da decência são eventos com que não dá para contar, no Brasil de hoje. Em todo caso...
O TSE se pronunciou em resposta a uma consulta do PFL (ou Democratas, como esse partido quer agora ser chamado). Até a semana passada, 37 dos deputados federais eleitos em outubro haviam mudado de partido. O PFL e o PPS foram os que mais perderam quadros – oito cada um –, seguidos pelo PSDB, com sete. Os trânsfugas mudaram-se todos para agremiações governistas, em busca de... Bem, o (a) leitor(a) já sabe. O mesmo sistema do mensalão, embora talvez não um mensalão tão mensalão, tão palpável, tão líquido, tão cash, se é que nos estamos fazendo entender (claro que estamos), navegava a todo o vapor, sob as cúpulas complacentes do Congresso Nacional. Notícias do balcão de ofertas de cargos e de privilégios a deputados interessados davam o ar de sua graça diariamente na imprensa, sem que o governo se desse ao trabalho de desmentir nem os colunistas políticos de se escandalizar. O partido preferido pelos vira-casacas é o Republicano, novo nome do Partido Liberal, de mensaleiras tradições. Com seu guichê alegremente aberto às adesões, o PR, que nas urnas elegeu 25 deputados, na semana passada já somava 41.
O voto do ministro Cesar Asfor Rocha, relator da consulta ao TSE, é, além de consistente peça jurídica, uma homenagem à instituição do partido político, esse "protagonista da democracia representativa", cujo vínculo com o candidato lhe proporciona "o mais forte, se não o único, elemento de sua identidade política". O sistema proporcional, pelo qual são eleitos os deputados brasileiros, tem por objetivo fazer com que as correntes de opinião, tal qual consolidadas nos partidos, sejam contempladas no Parlamento com representações proporcionais à sua acolhida na população. Daí que compreender o mandato como "algo integrante do patrimônio privado de um indivíduo, de que ele possa dispor", signifique negar sua natureza, "cuja justificativa é a função representativa de servir, em vez de dele servir-se".
Imagine-se, numa comparação tosca, que o morador de um edifício passe procuração a outro para, na reunião do condomínio, votar pela ampliação da garagem, já que os dois concordam com a medida. O procurador vai à reunião, mas lá troca de lado e usa a procuração para engrossar a votação contra a mudança. A coisa é simples assim. Espanta que a ilegalidade do troca-troca partidário não tenha sido argüida antes. Acresce, segundo a argumentação do ministro Asfor Rocha, que o que conta, para a distribuição das cadeiras na Câmara, assim como nas Assembléias e Câmaras Municipais, são os votos nos partidos. O sistema prevê que um "quociente eleitoral" será apurado da divisão do total dos votos válidos (isto é, excluídos os brancos e os nulos) pelo número de cadeiras em jogo. A cada partido caberá bancada igual a seu total de votos dividido pelo quociente eleitoral. Na esmagadora maioria, os deputados se elegem com votos abaixo do quociente eleitoral. São tonificados pelos votos dados aos companheiros de partido e pelos votos na legenda. Nas contas de Asfor Rocha, só 31, dos atuais 513 deputados federais, atingiram ou ultrapassaram, com seus próprios votos, o quociente eleitoral.
O voto do relator foi acompanhado por cinco outros ministros do TSE. Só um votou contra. O Supremo Tribunal Federal, no caso mais do que provável de vir a ser acionado, tenderia, segundo se entendia na semana passada, a confirmar o TSE. Contra tal ameaça a seus interesses, as forças pró-vira-casacas cogitavam em "provocar legislação nova", como disse um de seus comandantes, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. Não será fácil. A argumentação do ministro Asfor Rocha é toda assentada na Constituição. A ser mantida pelo Supremo, não poderia ser contrariada por legislação infraconstitucional. Restaria a opção de uma emenda constitucional. Mas, além da necessária maioria de três quintos, como explicitar, na Constituição, que o deputado está autorizado a trocar de legenda sempre que lhe aprouver?
O leitor e a leitora estão felizes em ver como parece bem amarrada a ofensiva contra os vira-casacas? Não fiquem. Voltemos à nota de cautela anunciada no primeiro parágrafo. Vida longa é assegurada, no Brasil, aos patronos da indecência. Se é o caso de apostar, nunca é recomendável gastar muita ficha na suposição de que eles serão derrotados.
A BANCADA DO PRESO
Diogo Mainardi
"O petismo nem encara a criminalidade como um problema. O site do PT acusou a Rede Globo de provocar uma 'histeria fascistizante e autoritária', argumentando que o 'caso João Hélio só se tornou uma comoção nacional por causa de sua exploração mórbida pelo Jornal Nacional"
Jilmar Tatto foi acusado por um perueiro de favorecer empresas de transporte ligadas ao PCC. Isso aconteceu em meados do ano passado. Mesmo assim ele conseguiu se eleger deputado federal pelo PT. O primeiro projeto de lei que Jilmar Tatto apresentou ao Congresso Nacional abrirá as portas das cadeias: ele oferece aos condenados um desconto de pena de um dia para cada oito horas de estudo. Qualquer tipo de estudo. Até pelo correio. Até pela internet. Se o que conta é o tempo de estudo, Marcola tem de ser solto imediatamente. Ele é o Ph.D. do PCC. Como declarou à CPI do Tráfico de Armas, ele estuda o dia inteiro. O deputado Neucimar Fraga perguntou qual era seu livro preferido:
Marcola: Assim Falou Zaratustra.
Neucimar Fraga: Assim Falou...?
Marcola: Zaratustra.
Nas últimas semanas, os parlamentares de todos os partidos foram obrigados a aprovar algumas medidas que endurecem o combate ao crime. Os eleitores estavam de olho neles. Por isso eles aprovaram as medidas. Mas, assim como há uma Bancada da Bala, há também uma Bancada do Preso. É formada por deputados federais e senadores que resistem a qualquer mudança nessa área. Quem tenta reduzir a maioridade penal tem de enfrentar Arlindo Chinaglia, Aloizio Mercadante, Patrícia Saboya. Quem quer impedir que os crimes sejam prescritos tem de negociar com Jovair Arantes e o resto do PTB. Quem deseja tornar mais rigoroso o regime carcerário dos presos de alta periculosidade tem de driblar Ideli Salvatti, Sérgio Barradas Carneiro e Luiz Couto, além do ministro Tarso Genro.
O PT sempre foi mole contra o crime. O PSDB também. Cedo ou tarde o assunto se esgotará. Ninguém está disposto a falar de sangue e de morte todos os dias. Quando isso ocorrer, a Bancada do Preso poderá amenizar algumas das leis que acabam de entrar em vigor. Na realidade, o petismo nem encara a criminalidade como um problema. A segunda linha do partido já está espalhando que a crise de segurança pública foi inventada pela imprensa. A mesma imprensa golpista que inventou o valerioduto para derrubar Lula. O site do PT acusou a Rede Globo de provocar uma "histeria fascistizante e autoritária", argumentando que o "caso João Hélio só se tornou uma comoção nacional por causa de sua exploração mórbida pelo Jornal Nacional". E um membro do diretório paulista acrescentou: "É mister denunciar a manipulação feita pela mídia – Marinhos à frente – no sentido de criar um clima de prendo e arrebento".
A própria imprensa comprou a impostura do PT. O colunista Fernando de Barros e Silva, ao comentar a pesquisa do Datafolha em que o crime aparece como o maior problema do país, disse que "há no ar um clima de justiça justiceira, uma mistura de clamor punitivo com alarmismo social cultivado pela mídia". Ele pode ficar calmo. A Bancada do Preso acabará soltando todo mundo. Assim Falou Diogo.
"O petismo nem encara a criminalidade como um problema. O site do PT acusou a Rede Globo de provocar uma 'histeria fascistizante e autoritária', argumentando que o 'caso João Hélio só se tornou uma comoção nacional por causa de sua exploração mórbida pelo Jornal Nacional"
Jilmar Tatto foi acusado por um perueiro de favorecer empresas de transporte ligadas ao PCC. Isso aconteceu em meados do ano passado. Mesmo assim ele conseguiu se eleger deputado federal pelo PT. O primeiro projeto de lei que Jilmar Tatto apresentou ao Congresso Nacional abrirá as portas das cadeias: ele oferece aos condenados um desconto de pena de um dia para cada oito horas de estudo. Qualquer tipo de estudo. Até pelo correio. Até pela internet. Se o que conta é o tempo de estudo, Marcola tem de ser solto imediatamente. Ele é o Ph.D. do PCC. Como declarou à CPI do Tráfico de Armas, ele estuda o dia inteiro. O deputado Neucimar Fraga perguntou qual era seu livro preferido:
Marcola: Assim Falou Zaratustra.
Neucimar Fraga: Assim Falou...?
Marcola: Zaratustra.
Nas últimas semanas, os parlamentares de todos os partidos foram obrigados a aprovar algumas medidas que endurecem o combate ao crime. Os eleitores estavam de olho neles. Por isso eles aprovaram as medidas. Mas, assim como há uma Bancada da Bala, há também uma Bancada do Preso. É formada por deputados federais e senadores que resistem a qualquer mudança nessa área. Quem tenta reduzir a maioridade penal tem de enfrentar Arlindo Chinaglia, Aloizio Mercadante, Patrícia Saboya. Quem quer impedir que os crimes sejam prescritos tem de negociar com Jovair Arantes e o resto do PTB. Quem deseja tornar mais rigoroso o regime carcerário dos presos de alta periculosidade tem de driblar Ideli Salvatti, Sérgio Barradas Carneiro e Luiz Couto, além do ministro Tarso Genro.
O PT sempre foi mole contra o crime. O PSDB também. Cedo ou tarde o assunto se esgotará. Ninguém está disposto a falar de sangue e de morte todos os dias. Quando isso ocorrer, a Bancada do Preso poderá amenizar algumas das leis que acabam de entrar em vigor. Na realidade, o petismo nem encara a criminalidade como um problema. A segunda linha do partido já está espalhando que a crise de segurança pública foi inventada pela imprensa. A mesma imprensa golpista que inventou o valerioduto para derrubar Lula. O site do PT acusou a Rede Globo de provocar uma "histeria fascistizante e autoritária", argumentando que o "caso João Hélio só se tornou uma comoção nacional por causa de sua exploração mórbida pelo Jornal Nacional". E um membro do diretório paulista acrescentou: "É mister denunciar a manipulação feita pela mídia – Marinhos à frente – no sentido de criar um clima de prendo e arrebento".
A própria imprensa comprou a impostura do PT. O colunista Fernando de Barros e Silva, ao comentar a pesquisa do Datafolha em que o crime aparece como o maior problema do país, disse que "há no ar um clima de justiça justiceira, uma mistura de clamor punitivo com alarmismo social cultivado pela mídia". Ele pode ficar calmo. A Bancada do Preso acabará soltando todo mundo. Assim Falou Diogo.
O BRASIL E A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Do Ex-Blog de César Maia:
Brasil cai para 52º em ranking de tecnologia da informação
O Brasil caiu uma posição e ficou em 52º lugar no ranking que mede a capacidadedos países de usar a tecnologia da informação para incentivar o desenvolvimentoe a competitividade. O Relatório Global de Tecnologia da Informação - que este ano analisou um recorde de 122 países - é elaborado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial. Brasil vem perdendo posições há quatro anos consecutivos. Em 2003, o país estava em 39º lugar.
Brasil cai para 52º em ranking de tecnologia da informação
O Brasil caiu uma posição e ficou em 52º lugar no ranking que mede a capacidadedos países de usar a tecnologia da informação para incentivar o desenvolvimentoe a competitividade. O Relatório Global de Tecnologia da Informação - que este ano analisou um recorde de 122 países - é elaborado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial. Brasil vem perdendo posições há quatro anos consecutivos. Em 2003, o país estava em 39º lugar.
30 março 2007
LULA ACERTA E ERRA DEMAIS
Kennedy Alencar
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acerta muito. Mas também erra muito. Fazer uma reforma ministerial amarrada à criação de uma forte base de apoio no Congresso é um grande acerto. Lula errou em 2002 ao esnobar o PMDB e ao levar quatro anos para se render ao óbvio. Precisava compor com todo o partido, não apenas com algumas alas.
Também é correto buscar proteção política no Congresso contra CPIs, como é correto a oposição lutar pela instalação dessas comissões parlamentares de inquérito. Agora, por exemplo, ela achou um assunto concreto, a crise aérea, para desgastar o governo. Está cumprindo bem o seu papel.
No entanto, demorar cinco meses para concretizar a reforma foi um tremendo erro de Lula. Perda de tempo. Ele vai argumentar que é dono do tempo, que é quem manda, que assim foi melhor. Bobagem. Queimou 150 dias numa tarefa que poderia ter sido resolvida em 30. A ameaça concreta de instalação da CPI do Apagão Aéreo é resultado da demora em organizar suas forças de sustentação no Congresso.
Por ora, apenas uma medida provisória do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi aprovada no Legislativo federal. Reformas tributária e política caminham a passo de tartaruga. A violência se impõe como maior preocupação dos brasileiros, mostrou o Datafolha, superando a questão do emprego.
Lula levou ao limite as possibilidades de composição. Quinze partidos o apóiam formalmente no Congresso. São 376 deputados entre 513. É um Exército poderoso, mas que, como todo o Exército, precisará ser alimentado para entrar em batalhas. Logo, o preço não será baixo. E aí poderão estar sementes de novos escândalos.
Lula levou um mês só para decidir onde alojar o PDT. Partido atrasado, quase levou a Previdência. Seria um desastre. Um sinal anti-reforma. Na última hora, Lula deslocou a legenda para o Trabalho.
Precisava tanto assim do PDT, uma sigla de 23 deputados dividida e que não costuma ser fiel ao governo? Não poderia ter acomodado o partido em outro posto, talvez no segundo escalão? Era necessário demorar tanto a resolver esse assunto? Teve efeito positivo a paralisia de tantos ministérios e setores do governo enquanto Lula posava de senhor do tempo e da decisão?
É a segunda vez que Lula recomeça o segundo mandato. A primeira foi em 22 de janeiro, quando lançou o PAC. Até integrantes do governo diziam: "Agora vai. Começou o segundo governo". Na última quinta-feira, ele concluiu a primeira fase da reforma ministerial. Vejamos se começa de fato o segundo governo. O país tem pressa.
Segunda fase
Lula terá 36 ministros no segundo mandato. Ainda criará a Secretaria de Portos, dando a Pedro Brito status de ministro. Lula fez um acordo com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, para levar uns dias até criar a nova estrutura. Para não parecer atropelado.
O presidente deixou Guilherme Cassel no Desenvolvimento Agrário por falta de opção. Sondou o ex-ministro da Agricultura Luiz Carlos Guedes para o posto, que disse não. Não queria os outros nomes petistas levados pelo PT, como o deputado federal Walter Pinheiro (BA) e o dirigente partidário Joaquim Soriano.
Lula pretende tirar Waldir Pires da Defesa. Mas a crise aérea ajudou o ministro. No final do ano passado, quando amadureceu essa decisão, o presidente disse que aguardaria a reforma ministerial para dar à troca caráter natural. Veio nova crise. E Pires ganhou sobrevida. Lula disse que não o tiraria numa hora de sufoco.
O general Jorge Armando Félix, do Gabinete da Segurança Institucional, também deverá ser substituído numa segunda fase da reforma. Pelo ritmo da primeira, essa segunda poderá se estender por um ano!
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acerta muito. Mas também erra muito. Fazer uma reforma ministerial amarrada à criação de uma forte base de apoio no Congresso é um grande acerto. Lula errou em 2002 ao esnobar o PMDB e ao levar quatro anos para se render ao óbvio. Precisava compor com todo o partido, não apenas com algumas alas.
Também é correto buscar proteção política no Congresso contra CPIs, como é correto a oposição lutar pela instalação dessas comissões parlamentares de inquérito. Agora, por exemplo, ela achou um assunto concreto, a crise aérea, para desgastar o governo. Está cumprindo bem o seu papel.
No entanto, demorar cinco meses para concretizar a reforma foi um tremendo erro de Lula. Perda de tempo. Ele vai argumentar que é dono do tempo, que é quem manda, que assim foi melhor. Bobagem. Queimou 150 dias numa tarefa que poderia ter sido resolvida em 30. A ameaça concreta de instalação da CPI do Apagão Aéreo é resultado da demora em organizar suas forças de sustentação no Congresso.
Por ora, apenas uma medida provisória do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi aprovada no Legislativo federal. Reformas tributária e política caminham a passo de tartaruga. A violência se impõe como maior preocupação dos brasileiros, mostrou o Datafolha, superando a questão do emprego.
Lula levou ao limite as possibilidades de composição. Quinze partidos o apóiam formalmente no Congresso. São 376 deputados entre 513. É um Exército poderoso, mas que, como todo o Exército, precisará ser alimentado para entrar em batalhas. Logo, o preço não será baixo. E aí poderão estar sementes de novos escândalos.
Lula levou um mês só para decidir onde alojar o PDT. Partido atrasado, quase levou a Previdência. Seria um desastre. Um sinal anti-reforma. Na última hora, Lula deslocou a legenda para o Trabalho.
Precisava tanto assim do PDT, uma sigla de 23 deputados dividida e que não costuma ser fiel ao governo? Não poderia ter acomodado o partido em outro posto, talvez no segundo escalão? Era necessário demorar tanto a resolver esse assunto? Teve efeito positivo a paralisia de tantos ministérios e setores do governo enquanto Lula posava de senhor do tempo e da decisão?
É a segunda vez que Lula recomeça o segundo mandato. A primeira foi em 22 de janeiro, quando lançou o PAC. Até integrantes do governo diziam: "Agora vai. Começou o segundo governo". Na última quinta-feira, ele concluiu a primeira fase da reforma ministerial. Vejamos se começa de fato o segundo governo. O país tem pressa.
Segunda fase
Lula terá 36 ministros no segundo mandato. Ainda criará a Secretaria de Portos, dando a Pedro Brito status de ministro. Lula fez um acordo com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, para levar uns dias até criar a nova estrutura. Para não parecer atropelado.
O presidente deixou Guilherme Cassel no Desenvolvimento Agrário por falta de opção. Sondou o ex-ministro da Agricultura Luiz Carlos Guedes para o posto, que disse não. Não queria os outros nomes petistas levados pelo PT, como o deputado federal Walter Pinheiro (BA) e o dirigente partidário Joaquim Soriano.
Lula pretende tirar Waldir Pires da Defesa. Mas a crise aérea ajudou o ministro. No final do ano passado, quando amadureceu essa decisão, o presidente disse que aguardaria a reforma ministerial para dar à troca caráter natural. Veio nova crise. E Pires ganhou sobrevida. Lula disse que não o tiraria numa hora de sufoco.
O general Jorge Armando Félix, do Gabinete da Segurança Institucional, também deverá ser substituído numa segunda fase da reforma. Pelo ritmo da primeira, essa segunda poderá se estender por um ano!
TESTE DE DNA
De Cheng-Pong
Se você der risada na maioria das questões, é sinal que sabe muito bem do que estamos falando.
Responda com sinceridade.
01. Você já tomou Ki Suco?
02. Você bebia Grapette?
03. Sua primeira bebida alcoólica foi Cuba Libre?
04. Já comeu goiabada cascão?
05. Você tomou leite que vinha em garrafa de vidro com tampinha de alumínio?
06. Já tomou Cibalena?
07. Tomou Biotônico Foutoura?
08. Você cuidou de suas espinhas adolescentes com pomada Minâncora?
09. Sua mãe usava Violeta Genciana para cuidar de seus machucados?
10. Seu pai usava aparelho de Gillete com lâminas removíveis?
11. Sua mãe tinha secador de cabelos com touca?
12. Sua mãe usava Leite de Colônia?
13. Você jogava bilboquê?
14. Usava tampinha de guaraná para fazer distintivo de polícia?
15. Soltava bombinha de quinhentos, em época de festa junina?
16. Você andou de carrinho de rolimã?
17. Brincou de queimada?
18. Você lembra quando o Ronnie Von jogava a Laranjinha de lado Meu Bem?
19. Você assistia Perdidos no Espaço?
20. Você sabia de cor a música de Bat Masterson?
21. Sabe quem foi Phantomas?
22. Quem foi Ted Boy Marino?
23. Você assistia ao Repórter Esso?
24. Assistia ao Toppo Giggio?
25. Assistia Vila Sésamo?
26. Você sabe quem foi Jonhnny Weissmuller?
27. Assistiu ao Vigilante Rodoviário?
28. Sabe quem foi Odorico Paraguassu?
29. Você se lembra o que era compacto simples e o que era um compacto duplo?
30. Você já teve um Bamba?
31. Se lembra do Vulcabrás 752?
32. Você usava japona?
33. Quando estudava, os graus eram: primário, admissão, ginásio e científico?
34. Você chamava revista em quadrinhos de gibi?
35. Sua mãe tinha caderneta no armazém?
36. Usou bomba de flit?
37. Já andou de Simca Chambord?
38. Conheceu o Aero Willys?
39. E o Kharman Guia? - (que saudade!!!)
40. Já andou de Vemaguete?
41. Já usou gasolina azul no seu carro?
42. Sua mãe usava cera Parquetina?
43. Você se lembra do sabão em pó Rinso?
44. Da televisão com seletor de canais rotativo?
45. Sua mãe usava bombinha de laquê de plástico?
46. Ela chegou a usar meia com risca atrás?
47. E anágua?
Se você respondeu SIM para pelo menos 30% das questões, está confirmado seu DNA: Data de Nascimento Avançada.
Não jogue sujo!
Você deve ter respondido SIM, a pelo menos 99% das perguntas.
Então você não tem problemas de DNA... Você teve o privilégio de ter vivido tempos maravilhosos.
Se você der risada na maioria das questões, é sinal que sabe muito bem do que estamos falando.
Responda com sinceridade.
01. Você já tomou Ki Suco?
02. Você bebia Grapette?
03. Sua primeira bebida alcoólica foi Cuba Libre?
04. Já comeu goiabada cascão?
05. Você tomou leite que vinha em garrafa de vidro com tampinha de alumínio?
06. Já tomou Cibalena?
07. Tomou Biotônico Foutoura?
08. Você cuidou de suas espinhas adolescentes com pomada Minâncora?
09. Sua mãe usava Violeta Genciana para cuidar de seus machucados?
10. Seu pai usava aparelho de Gillete com lâminas removíveis?
11. Sua mãe tinha secador de cabelos com touca?
12. Sua mãe usava Leite de Colônia?
13. Você jogava bilboquê?
14. Usava tampinha de guaraná para fazer distintivo de polícia?
15. Soltava bombinha de quinhentos, em época de festa junina?
16. Você andou de carrinho de rolimã?
17. Brincou de queimada?
18. Você lembra quando o Ronnie Von jogava a Laranjinha de lado Meu Bem?
19. Você assistia Perdidos no Espaço?
20. Você sabia de cor a música de Bat Masterson?
21. Sabe quem foi Phantomas?
22. Quem foi Ted Boy Marino?
23. Você assistia ao Repórter Esso?
24. Assistia ao Toppo Giggio?
25. Assistia Vila Sésamo?
26. Você sabe quem foi Jonhnny Weissmuller?
27. Assistiu ao Vigilante Rodoviário?
28. Sabe quem foi Odorico Paraguassu?
29. Você se lembra o que era compacto simples e o que era um compacto duplo?
30. Você já teve um Bamba?
31. Se lembra do Vulcabrás 752?
32. Você usava japona?
33. Quando estudava, os graus eram: primário, admissão, ginásio e científico?
34. Você chamava revista em quadrinhos de gibi?
35. Sua mãe tinha caderneta no armazém?
36. Usou bomba de flit?
37. Já andou de Simca Chambord?
38. Conheceu o Aero Willys?
39. E o Kharman Guia? - (que saudade!!!)
40. Já andou de Vemaguete?
41. Já usou gasolina azul no seu carro?
42. Sua mãe usava cera Parquetina?
43. Você se lembra do sabão em pó Rinso?
44. Da televisão com seletor de canais rotativo?
45. Sua mãe usava bombinha de laquê de plástico?
46. Ela chegou a usar meia com risca atrás?
47. E anágua?
Se você respondeu SIM para pelo menos 30% das questões, está confirmado seu DNA: Data de Nascimento Avançada.
Não jogue sujo!
Você deve ter respondido SIM, a pelo menos 99% das perguntas.
Então você não tem problemas de DNA... Você teve o privilégio de ter vivido tempos maravilhosos.
29 março 2007
APAGÃO AÉREO
Reinaldo Azevedo:
www.apagaoaereo.com.br
Eis o novo endereço eletrônico da página suprapartidária sobre o apagão.
Ali você encontra o abaixo-assinado em favor da CPI.
Então é isto: http://www.apagaoaereo.com.br/
www.apagaoaereo.com.br
Eis o novo endereço eletrônico da página suprapartidária sobre o apagão.
Ali você encontra o abaixo-assinado em favor da CPI.
Então é isto: http://www.apagaoaereo.com.br/
PERGUNTAR NÃO ENGARRAFA
Cláudio Humberto:
Com a compra da Varig pela Gol a nova empresa se chamará Vagol?
Com a compra da Varig pela Gol a nova empresa se chamará Vagol?
FORA ABORRESCENTE!
Rosely Sayão
De vez em quando, surgem aqui questões que alguns adolescentes postam a respeito das dúvidas que têm sobre o exercício da sexualidade. Mesmo não tendo relação alguma com meu texto, eu entendo. É que, aqui no índice do blog, há um link para o UOL Teen Sexo, site que coordenei por um tempo e que se disponha a dialogar com os adolescentes a respeito desse assunto de tanta importância para eles. Importância vital, eu diria.
Creio que todo mundo conhece – e muitos usam – a expressão “aborrescente” para qualificar os adolescentes. Não sei de onde surgiu essa palavra, mas eu não a suporto.
Acho absolutamente encantadora essa fase da vida. É nesse período em que eles tentam descobrir quem são e que procuram encontrar – e/ou construir - seu lugar neste admirável e louco mundo. Claro que isso não é nada fácil para eles, principalmente quando os adultos que os rodeiam fazem pouco de suas angústias, nem sempre expressas com clareza, e os chamam de aborrescentes, por exemplo.
Afinal, por que é que muitos pais e professores se aborrecem com eles, com suas atrapalhadas contestações e rebeldias, com sua ruidosa e impetiosa maneira de viver? Entre vários motivos, porque eles nos colocam em cheque, nos questionam a respeito de nossa relação com a vida e exigem nossa firme presença – sem grandes embates – nesse final de relação de dependência deles para conosco.
Mas nós nem sempre estamos dispostos a doar a eles nosso precioso tempo, paciência, energia e disposição para caminhar ao lado e com eles, não é? Por isso, nos aborrecemos com tanta demanda.
Um jovem de 19 anos postou um comentário aqui no blog e, ao contar que sempre assiste ao “Momento Família” disse que não sente que tenha família. Dá para se sensibilizar com essa fala, não dá? Pois muitos adolescentes se sentem assim sozinhos, desacompanhados, excluídos da relação familiar porque seus pais não conseguem bancar a demanda que eles fazem.
Gostaria muito que nós fossemos mais generosos e disponíveis para eles. Que eles pudessem ser interpelados pelos seus educadores, que tivessem crédito da parte deles e que pudessem ser ajudados a aprender com seus erros.
Sei que não é fácil, pois meus filhos já f oram adolescentes. Mas, com paciência, disponibilidade e levando a sério as questões que os angustiam, conseguimos fazer muito por eles nessa fase. Mais do que os considerando aborrescentes, do que recusando diálogo com questões que, à primeira vista, parecem tolas, mais do que olhando mais para nós do que para eles.
Vamos combinar de retirar essa mal dita palavra de nosso vocabulário?
De vez em quando, surgem aqui questões que alguns adolescentes postam a respeito das dúvidas que têm sobre o exercício da sexualidade. Mesmo não tendo relação alguma com meu texto, eu entendo. É que, aqui no índice do blog, há um link para o UOL Teen Sexo, site que coordenei por um tempo e que se disponha a dialogar com os adolescentes a respeito desse assunto de tanta importância para eles. Importância vital, eu diria.
Creio que todo mundo conhece – e muitos usam – a expressão “aborrescente” para qualificar os adolescentes. Não sei de onde surgiu essa palavra, mas eu não a suporto.
Acho absolutamente encantadora essa fase da vida. É nesse período em que eles tentam descobrir quem são e que procuram encontrar – e/ou construir - seu lugar neste admirável e louco mundo. Claro que isso não é nada fácil para eles, principalmente quando os adultos que os rodeiam fazem pouco de suas angústias, nem sempre expressas com clareza, e os chamam de aborrescentes, por exemplo.
Afinal, por que é que muitos pais e professores se aborrecem com eles, com suas atrapalhadas contestações e rebeldias, com sua ruidosa e impetiosa maneira de viver? Entre vários motivos, porque eles nos colocam em cheque, nos questionam a respeito de nossa relação com a vida e exigem nossa firme presença – sem grandes embates – nesse final de relação de dependência deles para conosco.
Mas nós nem sempre estamos dispostos a doar a eles nosso precioso tempo, paciência, energia e disposição para caminhar ao lado e com eles, não é? Por isso, nos aborrecemos com tanta demanda.
Um jovem de 19 anos postou um comentário aqui no blog e, ao contar que sempre assiste ao “Momento Família” disse que não sente que tenha família. Dá para se sensibilizar com essa fala, não dá? Pois muitos adolescentes se sentem assim sozinhos, desacompanhados, excluídos da relação familiar porque seus pais não conseguem bancar a demanda que eles fazem.
Gostaria muito que nós fossemos mais generosos e disponíveis para eles. Que eles pudessem ser interpelados pelos seus educadores, que tivessem crédito da parte deles e que pudessem ser ajudados a aprender com seus erros.
Sei que não é fácil, pois meus filhos já f oram adolescentes. Mas, com paciência, disponibilidade e levando a sério as questões que os angustiam, conseguimos fazer muito por eles nessa fase. Mais do que os considerando aborrescentes, do que recusando diálogo com questões que, à primeira vista, parecem tolas, mais do que olhando mais para nós do que para eles.
Vamos combinar de retirar essa mal dita palavra de nosso vocabulário?
"ELES SÃO UNS BOBÕES"
Hélio Schwartsman
Ele é branquinho, felpudinho e fofinho. Basta ver uma das inúmeras fotografias divulgadas pelo zoológico de Berlim para apaixonar-se por ele. Falo de Knut, o filhote de urso polar que, depois de ter sido rejeitado pela mãe e quase morrer, foi "adotado" por funcionários do zôo e acabou sobrevivendo. A saga de Knut cativou a Alemanha e mundo. Bem, nem todos. O ativista de direitos dos animais Frank Albrecht declarou ao jornal "Bild" - 3,8 milhões de exemplares diários - que o fato de o ursinho estar sendo criado por humanos era uma aberração e que o animal deveria ser sacrificado.
Foi um qüiproquó. Protestos surgiram imediatamente de todos os lugares. O ursinho, que já era uma sensação em Berlim - já fora fotografado por Annie Leibovitz -, tornou-se uma celebridade mundial. Ele recebeu até a visita do premiê italiano Romano Prodi, que fez questão de encaixar o bichinho na agenda de sua visita a Berlim por ocasião do cinqüentenário do bloco europeu. São agora absolutamente nulas as chances de Knut receber a injeção letal sugerida por Albrecht. Na verdade, agora é o ativista quem tem recebido ameaças de morte.
Vale a pena analisar mais de perto a epopéia do ursinho. Ela produziu uma série de paradoxos que oferecem farto material para reflexão.
Knut nasceu de parto gemelar no dia 5 de dezembro de 2006. Ele e seu irmão, porém, foram rejeitados pela mãe, Tosca, que "trabalhara" como ursa amestrada num circo da antiga Alemanha Oriental. (Esses comunistas nunca me enganaram; seu plano maligno sempre foi o de destruir a família!). O gêmeo de nosso pequeno herói faleceu quatro dias depois de ter vislumbrado o mundo.
Knut, entre a vida e a morte, foi metido numa incubadeira onde permaneceu por 44 dias. Tendo superado a fase crítica, passou a ser alimentado com uma mamadeira e a dormir com os tratadores.
Acho que foi dessa promiscuidade que Albrecht não gostou. "Criá-lo com mãos humanas não é apropriado para a espécie, mas uma flagrante violação das leis de proteção aos animais", disse. Segundo o ativista essa forma de tratamento deixará o urso com distúrbios comportamentais pelo resto de sua vida. "Na verdade, o zôo precisa matar o filhote", concluiu. Foi o que bastou para o sensacionalista "Bild" estampar como manchete de sua edição de 19 de março: "O doce Knut será morto com uma injeção letal?".
Não é todo dia que se vê um defensor dos animais advogando pela eutanásia de um filhote saudável. Tal contradição não passou despercebida nem de criancinhas. "Eu achava que ativistas de direitos dos animais protegiam animais e não que quisessem matá-los", disse ao "Bild" Alexander, 4, que participava de uma manifestação pela vida de Knut no zôo de Berlim na quinta-feira passada. "Eles são mesmo uns bobões", acrescentou.
A proposta de Albrecht, apesar de ter recebido generalizado opróbrio, não chega a ser o avesso de uma unanimidade. Wolfram Graf-Rudolf, diretor do zoológico de Aachen, concorda em parte com o ativista. "Não acho apropriado para a espécie a criação na mamadeira", disse ao jornal. De acordo com Graf-Rudolf, o animal desenvolverá uma fixação pelo tratador e não será um urso polar "real". O diretor, porém, considera que já é tarde demais para sacrificar Knut.
Há quem chegue mesmo às vias de fato. No final do ano passado, Hugo, um filhote de preguiça também rejeitado pela mãe foi morto com uma injeção letal no zoológico de Leipzig.
Antes que me acusem de conspirar para assassinar o doce Knut, alerto que não concordo com Albrecht. Valho-me de critérios puramente utilitaristas. Os tratadores do zôo, os berlinenses e boa parte da opinião pública pública ocidental - além, é claro, do próprio Knut - parecem estar mais felizes com o ursinho vivo do que morto. Não sou eu, portanto, quem vai se opor a tanto amor inter-espécies. Podemos ir um pouco mais longe e admitir, como o ativista afirma, que a "educação" que o animalzinho está recebendo render-lhe-á problemas psiquiátricos. Qual é o mal? Quer dizer, será que futuras dificuldades de adaptação de um indivíduo justificariam sua não-existência ou seu "assassinato"? Não é melhor estar vivo e sofrer um pouco do que simplesmente não existir e, portanto, jamais experimentar nem a dor nem o prazer?
Não tenho evidentemente uma resposta para essa última pergunta, mas acho que nossos instintos mais do que a razão nos levam a preferir quase sempre a primeira opção. A equação só costuma inverter-se em casos relativamente raros nos quais o sofrimento psíquico ou físico supera qualquer possibilidade de alegria e torna o simples fato de permanecer vivo um martírio.
(Vale aqui a pena abrir um parêntese a respeito da diferença entre veterinários e médicos. Enquanto os primeiros raramente hesitam antes de abreviar o sofrimento de um bicho gravemente enfermo, os segundos, também por força da lei, raramente o fazem. Das duas uma: ou o tratamento que dispensamos aos animais é, por assim dizer, desumano; ou são nossos homólogos hominídeos que não vêm recebendo os cuidados finais como deveriam. Como nunca vi alma alguma insurgir-se contra a eutanásia de animais, fico com a segunda opção. Novo paradoxo: pelo menos nos momentos finais, recusamos a nossos semelhantes tratamento que nos vangloriamos de dar até a cães).
Voltando ao doce Knut, não me parece que ele enfrente ou virá a enfrentar suplícios por conta da "adoção". Dificuldades de relacionamento não tendem a ser um problema grave para animais que passam a maior parte de sua vida adulta em completa solidão, como é o caso do Ursus maritimus macho. Muito menos para exemplares de zoológico, que já vivem em condições bastante diversas daquelas prevalecentes em seu habitat original.
Quem é então a vítima no suposto crime que o zôo de Berlim teria cometido ao salvar Knut? Albrecht fala da "flagrante violação às leis de proteção aos animais" ("Tierschutzgesetz"). Graf-Rudolf, numa colocação que evoca Heidegger, menciona o que seria uma espécie de "ser autêntico" dos ursos polares. Pode-se inferir daí que a parte lesada seria ninguém menos do que a mãe-natureza, aquela à qual cada um de nós, gotinhas de vida na imensidão do universo, deve prestar totais lealdade e obediência.
Lamento decepcionar os defensores dessa edificante cosmovisão, mas o que chamamos de natureza não passa de uma abstração humana, sem correspondência no mundo real. A natureza compreendida como uma ordem que paira acima dos seres vivos atribuindo-lhes um "télos" e submetendo-os a um conjunto de normas simplesmente não existe.
Se quisermos, vigora no mundo natural uma única regra - e tautológica: para fazer parte da natureza é preciso estar na natureza. Ela pode ser traduzida de forma mais econômica com um simples: o que importa é sobreviver.
Em termos evolutivos é absolutamente irrelevante se vivemos ou não como nossos ancestrais, se somos ou não autênticos, se "trapaceamos" ou não recebendo auxílio de tratadores de zôo ou de ETs pendurados em OVNIs, se fazemos ou não papel de palhaços em jardins zoológicos, circos ou templos. Desde que consigamos chegar à maturidade sexual e tenhamos a chance de empurrar nossos genes por mais uma geração, estamos no jogo. E tudo o que há é o jogo para jogar. A rigor, nós mesmos tomados como indivíduos sensientes somos meros "acidentes", não passando de "máquinas de sobrevivência" através das quais genes se perpetuam, como bem descreveu o biólogo Richard Dawkins em seu já clássico "O Gene Egoísta". Se temos ou não uma consciência, se ela é ou não uma ilusão, tanto faz, desde que obtenhamos sucesso reprodutivo.
Knut pode tornar-se um animal neurótico, quem sabe até um ursideopata forjado em mamadeiras humanas. Isso, entretanto, será totalmente irrelevante se ele chegar à idade adulta e lhe for oferecida uma fêmea para procriar.
Certos discursos de defesa dos animais (não todos, mas boa parte) têm muito mais de religião do que de ciência. Não estou, com isso dizendo que devemos matar todo bicho que encontremos na nossa frente, mas apenas que convém examinar criticamente os argumentos.
E não me parece que possamos erigir uma suposta "ordem natural" em critério de verdade. Freqüentemente, tudo o que desejamos é livrar-nos dessa ordem natural. Não me parece exagero afirmar que a cada uma das conquistas tecnológicas da humanidade nada mais é do que uma forma de "ludibriar" a gentil mãe-natureza, livrando-nos de um fardo por ela imposto e tornando nossa vida em teoria mais confortável. Um exemplo: inventamos a roda porque somos, por natureza, péssimos corredores. Deu certo. (Daí não se segue, é claro, que carros, um desenvolvimento posterior da roda, não possam nos trazer novas dores de cabeça, como congestionamentos e efeito-estufa, mas essa é uma outra história).
É justamente porque a natureza nada tem de sábia que sou contra sacrificar o doce Knut e defendo a utilização dos malvados antibióticos, que assassinam diariamente bilhões de bactérias patogênicas.
Ele é branquinho, felpudinho e fofinho. Basta ver uma das inúmeras fotografias divulgadas pelo zoológico de Berlim para apaixonar-se por ele. Falo de Knut, o filhote de urso polar que, depois de ter sido rejeitado pela mãe e quase morrer, foi "adotado" por funcionários do zôo e acabou sobrevivendo. A saga de Knut cativou a Alemanha e mundo. Bem, nem todos. O ativista de direitos dos animais Frank Albrecht declarou ao jornal "Bild" - 3,8 milhões de exemplares diários - que o fato de o ursinho estar sendo criado por humanos era uma aberração e que o animal deveria ser sacrificado.
Foi um qüiproquó. Protestos surgiram imediatamente de todos os lugares. O ursinho, que já era uma sensação em Berlim - já fora fotografado por Annie Leibovitz -, tornou-se uma celebridade mundial. Ele recebeu até a visita do premiê italiano Romano Prodi, que fez questão de encaixar o bichinho na agenda de sua visita a Berlim por ocasião do cinqüentenário do bloco europeu. São agora absolutamente nulas as chances de Knut receber a injeção letal sugerida por Albrecht. Na verdade, agora é o ativista quem tem recebido ameaças de morte.
Vale a pena analisar mais de perto a epopéia do ursinho. Ela produziu uma série de paradoxos que oferecem farto material para reflexão.
Knut nasceu de parto gemelar no dia 5 de dezembro de 2006. Ele e seu irmão, porém, foram rejeitados pela mãe, Tosca, que "trabalhara" como ursa amestrada num circo da antiga Alemanha Oriental. (Esses comunistas nunca me enganaram; seu plano maligno sempre foi o de destruir a família!). O gêmeo de nosso pequeno herói faleceu quatro dias depois de ter vislumbrado o mundo.
Knut, entre a vida e a morte, foi metido numa incubadeira onde permaneceu por 44 dias. Tendo superado a fase crítica, passou a ser alimentado com uma mamadeira e a dormir com os tratadores.
Acho que foi dessa promiscuidade que Albrecht não gostou. "Criá-lo com mãos humanas não é apropriado para a espécie, mas uma flagrante violação das leis de proteção aos animais", disse. Segundo o ativista essa forma de tratamento deixará o urso com distúrbios comportamentais pelo resto de sua vida. "Na verdade, o zôo precisa matar o filhote", concluiu. Foi o que bastou para o sensacionalista "Bild" estampar como manchete de sua edição de 19 de março: "O doce Knut será morto com uma injeção letal?".
Não é todo dia que se vê um defensor dos animais advogando pela eutanásia de um filhote saudável. Tal contradição não passou despercebida nem de criancinhas. "Eu achava que ativistas de direitos dos animais protegiam animais e não que quisessem matá-los", disse ao "Bild" Alexander, 4, que participava de uma manifestação pela vida de Knut no zôo de Berlim na quinta-feira passada. "Eles são mesmo uns bobões", acrescentou.
A proposta de Albrecht, apesar de ter recebido generalizado opróbrio, não chega a ser o avesso de uma unanimidade. Wolfram Graf-Rudolf, diretor do zoológico de Aachen, concorda em parte com o ativista. "Não acho apropriado para a espécie a criação na mamadeira", disse ao jornal. De acordo com Graf-Rudolf, o animal desenvolverá uma fixação pelo tratador e não será um urso polar "real". O diretor, porém, considera que já é tarde demais para sacrificar Knut.
Há quem chegue mesmo às vias de fato. No final do ano passado, Hugo, um filhote de preguiça também rejeitado pela mãe foi morto com uma injeção letal no zoológico de Leipzig.
Antes que me acusem de conspirar para assassinar o doce Knut, alerto que não concordo com Albrecht. Valho-me de critérios puramente utilitaristas. Os tratadores do zôo, os berlinenses e boa parte da opinião pública pública ocidental - além, é claro, do próprio Knut - parecem estar mais felizes com o ursinho vivo do que morto. Não sou eu, portanto, quem vai se opor a tanto amor inter-espécies. Podemos ir um pouco mais longe e admitir, como o ativista afirma, que a "educação" que o animalzinho está recebendo render-lhe-á problemas psiquiátricos. Qual é o mal? Quer dizer, será que futuras dificuldades de adaptação de um indivíduo justificariam sua não-existência ou seu "assassinato"? Não é melhor estar vivo e sofrer um pouco do que simplesmente não existir e, portanto, jamais experimentar nem a dor nem o prazer?
Não tenho evidentemente uma resposta para essa última pergunta, mas acho que nossos instintos mais do que a razão nos levam a preferir quase sempre a primeira opção. A equação só costuma inverter-se em casos relativamente raros nos quais o sofrimento psíquico ou físico supera qualquer possibilidade de alegria e torna o simples fato de permanecer vivo um martírio.
(Vale aqui a pena abrir um parêntese a respeito da diferença entre veterinários e médicos. Enquanto os primeiros raramente hesitam antes de abreviar o sofrimento de um bicho gravemente enfermo, os segundos, também por força da lei, raramente o fazem. Das duas uma: ou o tratamento que dispensamos aos animais é, por assim dizer, desumano; ou são nossos homólogos hominídeos que não vêm recebendo os cuidados finais como deveriam. Como nunca vi alma alguma insurgir-se contra a eutanásia de animais, fico com a segunda opção. Novo paradoxo: pelo menos nos momentos finais, recusamos a nossos semelhantes tratamento que nos vangloriamos de dar até a cães).
Voltando ao doce Knut, não me parece que ele enfrente ou virá a enfrentar suplícios por conta da "adoção". Dificuldades de relacionamento não tendem a ser um problema grave para animais que passam a maior parte de sua vida adulta em completa solidão, como é o caso do Ursus maritimus macho. Muito menos para exemplares de zoológico, que já vivem em condições bastante diversas daquelas prevalecentes em seu habitat original.
Quem é então a vítima no suposto crime que o zôo de Berlim teria cometido ao salvar Knut? Albrecht fala da "flagrante violação às leis de proteção aos animais" ("Tierschutzgesetz"). Graf-Rudolf, numa colocação que evoca Heidegger, menciona o que seria uma espécie de "ser autêntico" dos ursos polares. Pode-se inferir daí que a parte lesada seria ninguém menos do que a mãe-natureza, aquela à qual cada um de nós, gotinhas de vida na imensidão do universo, deve prestar totais lealdade e obediência.
Lamento decepcionar os defensores dessa edificante cosmovisão, mas o que chamamos de natureza não passa de uma abstração humana, sem correspondência no mundo real. A natureza compreendida como uma ordem que paira acima dos seres vivos atribuindo-lhes um "télos" e submetendo-os a um conjunto de normas simplesmente não existe.
Se quisermos, vigora no mundo natural uma única regra - e tautológica: para fazer parte da natureza é preciso estar na natureza. Ela pode ser traduzida de forma mais econômica com um simples: o que importa é sobreviver.
Em termos evolutivos é absolutamente irrelevante se vivemos ou não como nossos ancestrais, se somos ou não autênticos, se "trapaceamos" ou não recebendo auxílio de tratadores de zôo ou de ETs pendurados em OVNIs, se fazemos ou não papel de palhaços em jardins zoológicos, circos ou templos. Desde que consigamos chegar à maturidade sexual e tenhamos a chance de empurrar nossos genes por mais uma geração, estamos no jogo. E tudo o que há é o jogo para jogar. A rigor, nós mesmos tomados como indivíduos sensientes somos meros "acidentes", não passando de "máquinas de sobrevivência" através das quais genes se perpetuam, como bem descreveu o biólogo Richard Dawkins em seu já clássico "O Gene Egoísta". Se temos ou não uma consciência, se ela é ou não uma ilusão, tanto faz, desde que obtenhamos sucesso reprodutivo.
Knut pode tornar-se um animal neurótico, quem sabe até um ursideopata forjado em mamadeiras humanas. Isso, entretanto, será totalmente irrelevante se ele chegar à idade adulta e lhe for oferecida uma fêmea para procriar.
Certos discursos de defesa dos animais (não todos, mas boa parte) têm muito mais de religião do que de ciência. Não estou, com isso dizendo que devemos matar todo bicho que encontremos na nossa frente, mas apenas que convém examinar criticamente os argumentos.
E não me parece que possamos erigir uma suposta "ordem natural" em critério de verdade. Freqüentemente, tudo o que desejamos é livrar-nos dessa ordem natural. Não me parece exagero afirmar que a cada uma das conquistas tecnológicas da humanidade nada mais é do que uma forma de "ludibriar" a gentil mãe-natureza, livrando-nos de um fardo por ela imposto e tornando nossa vida em teoria mais confortável. Um exemplo: inventamos a roda porque somos, por natureza, péssimos corredores. Deu certo. (Daí não se segue, é claro, que carros, um desenvolvimento posterior da roda, não possam nos trazer novas dores de cabeça, como congestionamentos e efeito-estufa, mas essa é uma outra história).
É justamente porque a natureza nada tem de sábia que sou contra sacrificar o doce Knut e defendo a utilização dos malvados antibióticos, que assassinam diariamente bilhões de bactérias patogênicas.
NA MOSCA
ELIANE CANTANHÊDE
Depois de cada eleição, é sempre a mesma coisa: os partidos vitoriosos (e governistas) incham, e os derrotados (e oposicionistas) murcham. FHC subiu a rampa, e o PFL se fortaleceu. FHC desceu, Lula subiu e o PFL se enfraqueceu a ponto de ter mudado de sigla ontem. Virou DEM. O poder atrai, a falta de poder afasta.
Além dessa regra, ou "movimento natural", há também uma espécie de leilão entre os partidos, expondo os parlamentares a um verdadeiro "quem dá mais?" e alimentando assim todo o processo de corrupção parlamentar.
É por isso, pela facilidade em trocar de legenda e pelas "facilidades" (não raro medidas em cifrões) oferecidas por alguns partidos, que uns sujeitos se elegem pelo PFL, passam para o PP, dão uma voltinha pelo PR e acabam no PTB, como se fosse um passeio.
A decisão de anteontem do TSE, portanto, provoca um sacolejo de bom tamanho no Congresso Nacional, ao determinar a fidelidade partidária e automaticamente prever uma pena para quem não cumpri-la: a perda de mandato.
Imagine você como estavam os parlamentares e os partidos ontem.
O PR, que mais recebeu "adesões", já chamava a decisão do TSE de "ditadura". O PFL, que perdeu sete deputados (fora um que morreu) e provocou o posicionamento do TSE, estava em estado de euforia.
Ou melhor: de revanche. E, no TSE, o ministro Marco Aurélio Mello se divertia. Ele foi o grande articulador da votação. Agora, falta saber se o sujeito que trocou de sigla vai querer voltar à original e se o partido que perdeu o sujeito vai aceitar o filho pródigo ou brigar pela vaga. E vamos torcer para que a Câmara não salve a pele dos atuais parlamentares. O TSE opinou sobre regras existentes, e a Câmara pode simplesmente criar uma nova regra. Aí, adeus decisão do TSE. Ou seja: adeus mais uma tentativa de moralização política.
Depois de cada eleição, é sempre a mesma coisa: os partidos vitoriosos (e governistas) incham, e os derrotados (e oposicionistas) murcham. FHC subiu a rampa, e o PFL se fortaleceu. FHC desceu, Lula subiu e o PFL se enfraqueceu a ponto de ter mudado de sigla ontem. Virou DEM. O poder atrai, a falta de poder afasta.
Além dessa regra, ou "movimento natural", há também uma espécie de leilão entre os partidos, expondo os parlamentares a um verdadeiro "quem dá mais?" e alimentando assim todo o processo de corrupção parlamentar.
É por isso, pela facilidade em trocar de legenda e pelas "facilidades" (não raro medidas em cifrões) oferecidas por alguns partidos, que uns sujeitos se elegem pelo PFL, passam para o PP, dão uma voltinha pelo PR e acabam no PTB, como se fosse um passeio.
A decisão de anteontem do TSE, portanto, provoca um sacolejo de bom tamanho no Congresso Nacional, ao determinar a fidelidade partidária e automaticamente prever uma pena para quem não cumpri-la: a perda de mandato.
Imagine você como estavam os parlamentares e os partidos ontem.
O PR, que mais recebeu "adesões", já chamava a decisão do TSE de "ditadura". O PFL, que perdeu sete deputados (fora um que morreu) e provocou o posicionamento do TSE, estava em estado de euforia.
Ou melhor: de revanche. E, no TSE, o ministro Marco Aurélio Mello se divertia. Ele foi o grande articulador da votação. Agora, falta saber se o sujeito que trocou de sigla vai querer voltar à original e se o partido que perdeu o sujeito vai aceitar o filho pródigo ou brigar pela vaga. E vamos torcer para que a Câmara não salve a pele dos atuais parlamentares. O TSE opinou sobre regras existentes, e a Câmara pode simplesmente criar uma nova regra. Aí, adeus decisão do TSE. Ou seja: adeus mais uma tentativa de moralização política.
É ISTO UM PAÍS? É ISTO UM POVO?
ALCINO LEITE NETO
A barbárie brasileira
Um dos constrangimentos a que o brasileiro é submetido atualmente no exterior consiste em tentar explicar o estado da violência no país. Você entra no táxi e, conversa vai, conversa vem, o motorista indaga: "O Brasil é muito perigoso, não é?". Você está em um jantar, cercado de executivos, e, de repente, um deles lhe pergunta: "Como fazem os brasileiros para viverem em meio a tanta violência?".
As TVs e a imprensa também adoram as notícias da barbárie brasileira. A prestigiosa revista "Vanity Fair", em seu número de abril, que já está nas bancas nos EUA, publica uma reportagem de 11 páginas sobre o PCC e o crime em São Paulo. A matéria mereceu até mesmo uma chamada de capa, que diz: "Como uma gangue de prisioneiros tomou conta de uma cidade de 20 milhões de habitantes".
Dentro, o título da reportagem é "Cidade do Medo", e o texto descreve meticulosamente os ataques do PCC em São Paulo no ano passado, explica como surgiu a organização criminosa, descreve como a pobreza é vasta e alienante no país e como o Estado se revela fraco diante do crime.
Durante décadas, o Brasil representou, aos olhos estrangeiros, um país alegre, musical e até utópico.
Esse Brasil já não existe mais. A fantasia do país idílico e feliz deu lugar à imagem de uma terra violenta, criminal, corrupta e à beira do desgoverno. A nova imagem que os estrangeiros fazem do Brasil está obviamente mais próxima de nossa realidade social. É também mais condizente com o modo como os próprios brasileiros agora representam o país para si mesmos, entre o cinismo e a má consciência.
Desde tempos coloniais, o Brasil foi marcado por uma multidão de utopias -de políticas a antropológicas, de culturais a religiosas. Todas elas foram contrariadas, uma a uma, demonstrando que nossa imaginação era muito mais fértil do que nossa vontade política.
Hoje, esvaziados de utopias, decepcionados com a realidade adversa, desconfiados dos ideais políticos, os brasileiros também já não se interessam por nada que possa levá-los coletivamente a construir uma civilização forte e respeitável.
Aqui e agora, todo ideal soa hipócrita ou ridículo. Todo discurso parece inócuo ou oportunista. Ninguém confia em mais ninguém. As instituições públicas estão desacreditadas. As elites políticas, econômicas e sociais servem mais como contra-exemplos do que como modelos. A vulgaridade se dissemina por todas as classes. O arrivismo virou regra social. A inteligência mergulha na desrazão. O trabalho perdeu a dignidade. As ruas são perigosas. As casas estão ameaçadas.
A vida foi rebaixada ao seu estado mais rudimentar: o medo permanente. É isto um país? É isto um povo?
A barbárie brasileira
Um dos constrangimentos a que o brasileiro é submetido atualmente no exterior consiste em tentar explicar o estado da violência no país. Você entra no táxi e, conversa vai, conversa vem, o motorista indaga: "O Brasil é muito perigoso, não é?". Você está em um jantar, cercado de executivos, e, de repente, um deles lhe pergunta: "Como fazem os brasileiros para viverem em meio a tanta violência?".
As TVs e a imprensa também adoram as notícias da barbárie brasileira. A prestigiosa revista "Vanity Fair", em seu número de abril, que já está nas bancas nos EUA, publica uma reportagem de 11 páginas sobre o PCC e o crime em São Paulo. A matéria mereceu até mesmo uma chamada de capa, que diz: "Como uma gangue de prisioneiros tomou conta de uma cidade de 20 milhões de habitantes".
Dentro, o título da reportagem é "Cidade do Medo", e o texto descreve meticulosamente os ataques do PCC em São Paulo no ano passado, explica como surgiu a organização criminosa, descreve como a pobreza é vasta e alienante no país e como o Estado se revela fraco diante do crime.
Durante décadas, o Brasil representou, aos olhos estrangeiros, um país alegre, musical e até utópico.
Esse Brasil já não existe mais. A fantasia do país idílico e feliz deu lugar à imagem de uma terra violenta, criminal, corrupta e à beira do desgoverno. A nova imagem que os estrangeiros fazem do Brasil está obviamente mais próxima de nossa realidade social. É também mais condizente com o modo como os próprios brasileiros agora representam o país para si mesmos, entre o cinismo e a má consciência.
Desde tempos coloniais, o Brasil foi marcado por uma multidão de utopias -de políticas a antropológicas, de culturais a religiosas. Todas elas foram contrariadas, uma a uma, demonstrando que nossa imaginação era muito mais fértil do que nossa vontade política.
Hoje, esvaziados de utopias, decepcionados com a realidade adversa, desconfiados dos ideais políticos, os brasileiros também já não se interessam por nada que possa levá-los coletivamente a construir uma civilização forte e respeitável.
Aqui e agora, todo ideal soa hipócrita ou ridículo. Todo discurso parece inócuo ou oportunista. Ninguém confia em mais ninguém. As instituições públicas estão desacreditadas. As elites políticas, econômicas e sociais servem mais como contra-exemplos do que como modelos. A vulgaridade se dissemina por todas as classes. O arrivismo virou regra social. A inteligência mergulha na desrazão. O trabalho perdeu a dignidade. As ruas são perigosas. As casas estão ameaçadas.
A vida foi rebaixada ao seu estado mais rudimentar: o medo permanente. É isto um país? É isto um povo?
28 março 2007
SARGENTO STEPHANES
Cláudio Humberto
Em 1958, Tenente Ribas, um oficial de Engenharia do Exército, era o subcomandante da 5ª Companhia, em Curitiba (PR), e descobriu que um dos recrutas tinha nível melhor que os demais: era aluno do segundo ano da Escola Técnica. Ficou curioso: por que ele não incorporou no CPOR? "Não tenho condições, senhor", respondeu o filho de pequenos agricultores. Em dois meses o rapaz foi promovido a sargento e ficou cinco anos na tropa. Era o sargento Reinhold Stephanes, atual ministro da Agricultura.
Em 1958, Tenente Ribas, um oficial de Engenharia do Exército, era o subcomandante da 5ª Companhia, em Curitiba (PR), e descobriu que um dos recrutas tinha nível melhor que os demais: era aluno do segundo ano da Escola Técnica. Ficou curioso: por que ele não incorporou no CPOR? "Não tenho condições, senhor", respondeu o filho de pequenos agricultores. Em dois meses o rapaz foi promovido a sargento e ficou cinco anos na tropa. Era o sargento Reinhold Stephanes, atual ministro da Agricultura.
AS ELEIÇÕES NA AMÉRICA LATINA
Do Ex-Blog de César Maia:
DANIEL ZOVATTO – DIRETOR PARA AMÉRICA LATINA DO INSTITUTO INTERNACIONAL PARA A DEMOCRACIA E ASSISTÊNCIA ELEITORAL DIZ QUE “ESTÁ NA HORA DE GOVERNAR” DEPOIS DE TANTAS ELEIÇÕES NO CONTINENTE
Resumo de artigo em El País.
01. Depois do histórico rally eleitoral que acaba de passar América Latina, de longe o mais importante desde a democratização, está na hora de se produzir resultados, cumprir com as promessas de campanha, gerar crescimento alto e sustentável e empregos de qualidade, e reduzir drasticamente a pobreza e a desigualdade.
02. Entre novembro de 2005 e dezembro de 2006 dos 18 países da região, 11 realizaram eleições presidenciais: Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica,Equador, Honduras, México, Nicarágua, Peru e Venezuela.
03. América Latina na verdade girou ao centro e não a esquerda se analisarmos as três grandes correntes: centro-direita, social democrata e populista. Brasil,Chile e Uruguai são do eixo social-democrata. O eixo nacional-populista temVenezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua. E o de centro-direita México Colômbia ePeru.
04. Das 11 eleições, 8 previam segundo turno e em 4 isso ocorreu.
05. Dos 11 presidentes eleitos só quatro obtiveram maioria legislativa própria:Morales, Bachelet, Uribe e Chávez.
06. Cinco partidos dos que estavam no governo venceram: Brasil, Chile, Colômbia,México e Venezuela.
07. No Chile, Costa Rica, Honduras, México e Nicarágua a participação eleitoral diminuiu comparando com a eleição anterior. Nos demais aumentou.
08. Os questionamentos pós-eleitorais se deram no México, Costa Rica, Honduras ePeru.
09. Em 7 dos 11 paises havia a possibilidade de re-eleição. Todos os candidatos-presidentes conseguiram se reeleger.
10. A democracia eleitoral saiu fortalecida deste intenso rally. Não ocorreu qualquer tsunami político. Mudança mesmo só na Bolívia, Equador e Honduras.
11. Em 2007 teremos mais duas eleições presidenciais: Argentina e Guatemala.
DANIEL ZOVATTO – DIRETOR PARA AMÉRICA LATINA DO INSTITUTO INTERNACIONAL PARA A DEMOCRACIA E ASSISTÊNCIA ELEITORAL DIZ QUE “ESTÁ NA HORA DE GOVERNAR” DEPOIS DE TANTAS ELEIÇÕES NO CONTINENTE
Resumo de artigo em El País.
01. Depois do histórico rally eleitoral que acaba de passar América Latina, de longe o mais importante desde a democratização, está na hora de se produzir resultados, cumprir com as promessas de campanha, gerar crescimento alto e sustentável e empregos de qualidade, e reduzir drasticamente a pobreza e a desigualdade.
02. Entre novembro de 2005 e dezembro de 2006 dos 18 países da região, 11 realizaram eleições presidenciais: Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica,Equador, Honduras, México, Nicarágua, Peru e Venezuela.
03. América Latina na verdade girou ao centro e não a esquerda se analisarmos as três grandes correntes: centro-direita, social democrata e populista. Brasil,Chile e Uruguai são do eixo social-democrata. O eixo nacional-populista temVenezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua. E o de centro-direita México Colômbia ePeru.
04. Das 11 eleições, 8 previam segundo turno e em 4 isso ocorreu.
05. Dos 11 presidentes eleitos só quatro obtiveram maioria legislativa própria:Morales, Bachelet, Uribe e Chávez.
06. Cinco partidos dos que estavam no governo venceram: Brasil, Chile, Colômbia,México e Venezuela.
07. No Chile, Costa Rica, Honduras, México e Nicarágua a participação eleitoral diminuiu comparando com a eleição anterior. Nos demais aumentou.
08. Os questionamentos pós-eleitorais se deram no México, Costa Rica, Honduras ePeru.
09. Em 7 dos 11 paises havia a possibilidade de re-eleição. Todos os candidatos-presidentes conseguiram se reeleger.
10. A democracia eleitoral saiu fortalecida deste intenso rally. Não ocorreu qualquer tsunami político. Mudança mesmo só na Bolívia, Equador e Honduras.
11. Em 2007 teremos mais duas eleições presidenciais: Argentina e Guatemala.
MAIS UM FERIADO
Do Blog de Josias de Souza:
Senado deseja criar, veja você, mais um feriado
O Brasil é, como se sabe, um país por fazer. A despeito disso, a Comissão de Educação do Senado aprovou nesta terça-feira (27) um projeto que cria mais um feriado nacional: o Dia de Frei Galvão. Seria festejado já a partir deste ano, em 11 de maio, o mesmo dia em que o papa Bento 16 vai transformar em santo Antônio de Sant’Anna Galvão (1739-1822), o frei Galvão, primeiro brasileiro a ser canonizado pelo Vaticano.
O relator do projeto, senador Jonas Pinheiro (PFL-MT), diz que a criação do novo feriado é justificável para que "os brasileiros fiquem atentos ao movimento do papa e à canonização do frei." Seja lá o que isso signifique.
A Comissão de Educação tem poderes terminativos. Ou seja, o que se aprova ali não precisa passar pelo plenário do Senado. A encrenca vai direto para a Câmara. Se for aprovada também pelos deputados, vai à sanção do presidente da República.
Há no Brasil nada menos que 14 feriados nacionais. E querem criar mais um. Uma concessão absurda ao lobby da batina. Nelson Rodrigues nunca foi tão atual: “O brasileiro”, dizia o cronista, “é um feriado”.
Senado deseja criar, veja você, mais um feriado
O Brasil é, como se sabe, um país por fazer. A despeito disso, a Comissão de Educação do Senado aprovou nesta terça-feira (27) um projeto que cria mais um feriado nacional: o Dia de Frei Galvão. Seria festejado já a partir deste ano, em 11 de maio, o mesmo dia em que o papa Bento 16 vai transformar em santo Antônio de Sant’Anna Galvão (1739-1822), o frei Galvão, primeiro brasileiro a ser canonizado pelo Vaticano.
O relator do projeto, senador Jonas Pinheiro (PFL-MT), diz que a criação do novo feriado é justificável para que "os brasileiros fiquem atentos ao movimento do papa e à canonização do frei." Seja lá o que isso signifique.
A Comissão de Educação tem poderes terminativos. Ou seja, o que se aprova ali não precisa passar pelo plenário do Senado. A encrenca vai direto para a Câmara. Se for aprovada também pelos deputados, vai à sanção do presidente da República.
Há no Brasil nada menos que 14 feriados nacionais. E querem criar mais um. Uma concessão absurda ao lobby da batina. Nelson Rodrigues nunca foi tão atual: “O brasileiro”, dizia o cronista, “é um feriado”.
27 março 2007
LIDERANÇA DE MARKETING
Pela quarta vez consecutiva, a Casas Bahia manteve a liderança no ranking do Ibope com investimento em mídia. Em 2006, foram R$ 2,093 bilhões.
A Fiat ultrapassou o Pão de Açúcar, sendo assim, a única alteração na lista das cinco primeiras.
Empresas que lideram com investimento em mídia:
1ª) CASAS BAHIA - R$ 2.093.896
2ª) UNILEVER BRASIL - R$ 835.418
3ª) AMBEV - R$ 481.207
4ª) GENERAL MOTORS - R$ 416.151
5ª) FIAT - R$ 410.238
6ª) PÃO DE AÇÚCAR - R$ 399.112
7ª) CAIXA ECONÔMICA FEDERAL- R$ 373.941
8ª) FORD - R$ 363.404
9ª) PETROBRAS - R$ 347.453
10ª) BANCO DO BRASIL - R$ 333.902
11ª) BRADESCO - R$ 312.962
12ª) ITAÚ - R$ 302.332
13ª) VIVO - R$ 300.323
A Fiat ultrapassou o Pão de Açúcar, sendo assim, a única alteração na lista das cinco primeiras.
Empresas que lideram com investimento em mídia:
1ª) CASAS BAHIA - R$ 2.093.896
2ª) UNILEVER BRASIL - R$ 835.418
3ª) AMBEV - R$ 481.207
4ª) GENERAL MOTORS - R$ 416.151
5ª) FIAT - R$ 410.238
6ª) PÃO DE AÇÚCAR - R$ 399.112
7ª) CAIXA ECONÔMICA FEDERAL- R$ 373.941
8ª) FORD - R$ 363.404
9ª) PETROBRAS - R$ 347.453
10ª) BANCO DO BRASIL - R$ 333.902
11ª) BRADESCO - R$ 312.962
12ª) ITAÚ - R$ 302.332
13ª) VIVO - R$ 300.323
PRESIDENTES AMERICANOS MAIS LEMBRADOS
1º - Abraham Lincoln
2º - Ronald Reagan
3º - John Kennedy
4º - Bill Clinton
5º - Franklin Roosevelt
6º - George Washington
7º - Harry Truman
8º - George W. Bush
9º - Theodore Roosevelt
10º - Dwight Eisenhower
11º - Thomas Jefferson
12º - Jimmy Carter
13º - Gerald Ford
14º - George Bush
15 º - Richard Nixon
2º - Ronald Reagan
3º - John Kennedy
4º - Bill Clinton
5º - Franklin Roosevelt
6º - George Washington
7º - Harry Truman
8º - George W. Bush
9º - Theodore Roosevelt
10º - Dwight Eisenhower
11º - Thomas Jefferson
12º - Jimmy Carter
13º - Gerald Ford
14º - George Bush
15 º - Richard Nixon
CAPITAIS: RANKING DE MORTES VIOLENTAS
Mortes violentas por 100 mil habitantes.
Capitais com maiores índices de mortes violentas:
1ª) Recife - 91,2
2ª) Vitória - 78,6
Maceió - 62,4
Porto Velho - 62
3ª) Rio de Janeiro - 57,2
Belo Horizonte - 55,1
4ª) Aracaju - 50,7
Cuiabá - 49,1
São Paulo - 48,2
5ª) João Pessoa - 43,3
Macapá - 42,1
Capitais com menores índices de mortes violentas:
1ª) Natal - 16,7
2ª) Palmas - 21,1
3ª) Salvador - 26,8
4ª) Florianópolis - 26,9
5ª) Manaus - 27,3
Capitais com maiores índices de mortes violentas:
1ª) Recife - 91,2
2ª) Vitória - 78,6
Maceió - 62,4
Porto Velho - 62
3ª) Rio de Janeiro - 57,2
Belo Horizonte - 55,1
4ª) Aracaju - 50,7
Cuiabá - 49,1
São Paulo - 48,2
5ª) João Pessoa - 43,3
Macapá - 42,1
Capitais com menores índices de mortes violentas:
1ª) Natal - 16,7
2ª) Palmas - 21,1
3ª) Salvador - 26,8
4ª) Florianópolis - 26,9
5ª) Manaus - 27,3
REINHOLD STEPHANES
Foi com muita alegria que o Paraná, especialmente Astrorga, recebeu a notícia que o deputado federal Reinhold Stephanes, assumiria o Ministério da Agricultura.
A votação expressiva que Reinhold Stephanes recebeu em Astorga, (foi o 2º mais votado, com 2.175 votos, apenas 50 a menos que o 1º colocado), reflete a consciência do eleitor, que preocupado com os últimos acontecimentos na política brasileira, está cada vez mais consciente, e opta por trabalho, dedicação, seriedade, honestidade e competência.
Reinhold Stephanes é exemplo no cenário político do Estado do Paraná.
Com apenas 25 anos, assumiu a Secretaria da Fazenda de Curitiba; trabalhou no Ministério da Agricultura; foi Diretor do Incra (Governo Médici); Diretor do INPS (Governo Geisel); foi Secretário de Estado da Agricultura; três vezes ministro ( Previdência e Assistência Social, e Trabalho e Previdência Social; nos Governos de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso); Presidente do Banestado; Secretário de Estado da Administração e Secretário de Estado do Planejamento (Governo Requião).
Além, é claro, de ser reconhecido como autoridade no tema Previdência Social, inclusive com livros publicados. “Reforma da Previdência sem Segredos”, de sua autoria, é um dos livros mais completos sobre o assunto.
Agora em seu 6º mandato como deputado federal, volta a ser ministro.
Em Astorga, temos a grande honra que contar com seu apoio junto ao Hospital Cristo Rei, desde a fundação. Se não fosse esta ajuda incondicional, talvez hoje o Hospital não existisse mais.
É assim: espírito público elevado, respeito ao seu povo, determinação em fazer o melhor para todos.
Obrigado Reinhold Stephanes por tudo que já fez pelo Paraná e pelo Brasil. E por tudo que ainda irá fazer.
Astorga deseja muito sucesso ao nosso ministro. Que Deus abençoe todas as suas ações.
Conte conosco. Nós contamos sempre com você.
A votação expressiva que Reinhold Stephanes recebeu em Astorga, (foi o 2º mais votado, com 2.175 votos, apenas 50 a menos que o 1º colocado), reflete a consciência do eleitor, que preocupado com os últimos acontecimentos na política brasileira, está cada vez mais consciente, e opta por trabalho, dedicação, seriedade, honestidade e competência.
Reinhold Stephanes é exemplo no cenário político do Estado do Paraná.
Com apenas 25 anos, assumiu a Secretaria da Fazenda de Curitiba; trabalhou no Ministério da Agricultura; foi Diretor do Incra (Governo Médici); Diretor do INPS (Governo Geisel); foi Secretário de Estado da Agricultura; três vezes ministro ( Previdência e Assistência Social, e Trabalho e Previdência Social; nos Governos de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso); Presidente do Banestado; Secretário de Estado da Administração e Secretário de Estado do Planejamento (Governo Requião).
Além, é claro, de ser reconhecido como autoridade no tema Previdência Social, inclusive com livros publicados. “Reforma da Previdência sem Segredos”, de sua autoria, é um dos livros mais completos sobre o assunto.
Agora em seu 6º mandato como deputado federal, volta a ser ministro.
Em Astorga, temos a grande honra que contar com seu apoio junto ao Hospital Cristo Rei, desde a fundação. Se não fosse esta ajuda incondicional, talvez hoje o Hospital não existisse mais.
É assim: espírito público elevado, respeito ao seu povo, determinação em fazer o melhor para todos.
Obrigado Reinhold Stephanes por tudo que já fez pelo Paraná e pelo Brasil. E por tudo que ainda irá fazer.
Astorga deseja muito sucesso ao nosso ministro. Que Deus abençoe todas as suas ações.
Conte conosco. Nós contamos sempre com você.
CUIDADOS QUE DEVEMOS TER AO FALAR COM CRIANÇAS
Rosely Sayão
Mesmo sem perceber, a gente adora enquadrar as pessoas em categorias para defini-las e descrevê-las. Quando isso envolve uma criança, criamos um problema. E pais e professores fazem isso em profusão. “Meu filho é tímido”, “aquela criança é agitada”, “fulano é mentiroso”, “tal aluno é fofoqueiro” são algumas descrições que já ouvi adultos fazerem a respeito de crianças. E, de fato, essas crianças podem apresentar as características apontadas. Mas, por que isso é problemático?
É que a criança vive, na infância, o período em que constrói sua imagem, e esse processo ocorre a partir de matrizes de identificação que ela encontra no ambiente em que vive. Quando uma criança mente algumas vezes e, a partir de então, passa a ser descrita como mentirosa, essa matriz passa a fazer parte da imagem que ela constrói a seu respeito. E vira até profecia, mesmo quando negada. Quando um educador, familiar ou escolar, diz para uma criança que ela não deve ser mentirosa, por exemplo, está afirmando que ela já é, ou está se tornando.
Mentir é diferente de ser mentiroso, mas uma criança ainda não faz essa distinção e, quando percebe que essa imagem a descreve, acaba por tomar essa referência para se situar, para se perceber e para se identificar. Ela adota uma parte como o todo e, a partir de então, é bem mais provável que a mentira passe a se tornar mais freqüente em sua vida. É que é assim que ela se reconhece porque é assim que os adultos próximos a reconhecem. O que um adulto diz para uma criança a respeito dela funciona, na verdade, como em espelho.
Pode parecer apenas uma questão de construção lingüística, mas não é. Dizer para uma criança que ela mentiu e dizer que ela é uma mentirosa faz uma grande diferença no seu desenvolvimento. Ralhar com o filho por ele ter feito sujeira onde não deveria é diferente de dizer que ele é um porcalhão. Chamar a atenção de um aluno por ele não parar quieto quando deveria é bem diferente de dizer que ele é hiperativo. Além disso, enquadrar a criança em determinadas categorias de comportamento ou de atitude, aniquila também a possibilidade de ela experimentar até encontrar o jeito mais adequado para si.
Lembro-me de um fato bem interessante que ilustra essa questão. Três crianças entre seis e oito anos, mais ou menos, almoçavam juntas no restaurante de um hotel. Os pais estavam por perto, mas elas preferiram a independência. Enquanto almoçavam, conversavam e se observavam, é claro. Em determinado momento, uma delas tirou um alimento do prato e colocou sobre a toalha da mesa. A outra, atenta, disparou: “Isso é feio! Se você não quer comer, deixa no prato”. A resposta veio curta e grossa: “Eu sei”. E, quando indagado do motivo de, mesmo assim, fazer, o garoto afirmou com a maior tranqüilidade: “É que sou teimoso”. Dá para imaginar que essa criança ouve isso com muita freqüência, não é verdade?
Mesmo sem perceber, a gente adora enquadrar as pessoas em categorias para defini-las e descrevê-las. Quando isso envolve uma criança, criamos um problema. E pais e professores fazem isso em profusão. “Meu filho é tímido”, “aquela criança é agitada”, “fulano é mentiroso”, “tal aluno é fofoqueiro” são algumas descrições que já ouvi adultos fazerem a respeito de crianças. E, de fato, essas crianças podem apresentar as características apontadas. Mas, por que isso é problemático?
É que a criança vive, na infância, o período em que constrói sua imagem, e esse processo ocorre a partir de matrizes de identificação que ela encontra no ambiente em que vive. Quando uma criança mente algumas vezes e, a partir de então, passa a ser descrita como mentirosa, essa matriz passa a fazer parte da imagem que ela constrói a seu respeito. E vira até profecia, mesmo quando negada. Quando um educador, familiar ou escolar, diz para uma criança que ela não deve ser mentirosa, por exemplo, está afirmando que ela já é, ou está se tornando.
Mentir é diferente de ser mentiroso, mas uma criança ainda não faz essa distinção e, quando percebe que essa imagem a descreve, acaba por tomar essa referência para se situar, para se perceber e para se identificar. Ela adota uma parte como o todo e, a partir de então, é bem mais provável que a mentira passe a se tornar mais freqüente em sua vida. É que é assim que ela se reconhece porque é assim que os adultos próximos a reconhecem. O que um adulto diz para uma criança a respeito dela funciona, na verdade, como em espelho.
Pode parecer apenas uma questão de construção lingüística, mas não é. Dizer para uma criança que ela mentiu e dizer que ela é uma mentirosa faz uma grande diferença no seu desenvolvimento. Ralhar com o filho por ele ter feito sujeira onde não deveria é diferente de dizer que ele é um porcalhão. Chamar a atenção de um aluno por ele não parar quieto quando deveria é bem diferente de dizer que ele é hiperativo. Além disso, enquadrar a criança em determinadas categorias de comportamento ou de atitude, aniquila também a possibilidade de ela experimentar até encontrar o jeito mais adequado para si.
Lembro-me de um fato bem interessante que ilustra essa questão. Três crianças entre seis e oito anos, mais ou menos, almoçavam juntas no restaurante de um hotel. Os pais estavam por perto, mas elas preferiram a independência. Enquanto almoçavam, conversavam e se observavam, é claro. Em determinado momento, uma delas tirou um alimento do prato e colocou sobre a toalha da mesa. A outra, atenta, disparou: “Isso é feio! Se você não quer comer, deixa no prato”. A resposta veio curta e grossa: “Eu sei”. E, quando indagado do motivo de, mesmo assim, fazer, o garoto afirmou com a maior tranqüilidade: “É que sou teimoso”. Dá para imaginar que essa criança ouve isso com muita freqüência, não é verdade?
26 março 2007
LAVOU, TÁ NOVO?
Adriana Vandoni *
Na semana passada o Brasil acompanhou a subida e queda de um pretenso ministro. Esse fato reabriu duas antigas dúvidas: sobre a origem das fortunas brasileiras e sobre a possibilidade de impedir que envolvidos em denúncias ou investigados sejam candidatos a cargos eletivos, mesmo antes que suas ações tenham transitado em julgado. A seleção, de acordo com o entendimento das leis, fica por conta da população, que, segundo alguns, é sábia e apta para escolher o melhor.
O presidente Lula escolheu para ministro da Agricultura o deputado Odílio Balbinotti. A escolha não durou 48 h. Contra o indicado pesam crimes graves do ponto de vista moral, mas que não foram cometidos por falta de competência ou retidão administrativa na gestão da coisa pública. Pode se caracterizar como presença de esperteza, mas falta de competência, jamais.
Pesa sobre o cidadão Odílio Balbinotti, segundo o STF, crime de falsificação. De acordo com o processo, para conseguir um financiamento do Banco do Brasil, a empresa de Odílio teria forjado um pedido de empréstimo de 1,7 milhão de reais em nome de laranjas. Outro crime atribuído ao produtor de sementes e à Fundação MT, instituição de pesquisa fundada por Balbinotti e amigos, foi feita pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), de roubo na propriedade intelectual. Furto de sementes. De acordo com o processo, junto a Balbinotti estão um suplente de Senador e um Governador, ambos do Estado de Mato Grosso. Todos conhecidos como bem sucedidos empresários.
Pois bem, Balbinotti desistiu de sua indicação, mas o Brasil tomou conhecimento de crimes que provavelmente lastrearam o seu sucesso empresarial. Há de se deixar claro, repito, que este não foi um crime de improbidade administrativa, foi apenas um cidadão comum que na ânsia de se dar bem, cometeu crimes.
Quantas fortunas brasileiras estão alicerçadas em falcatruas, desvios ou roubos? Qual é a integridade de um país que enaltece infratores bem-sucedidos? Quanto à segunda dúvida que este fato reabriu, sobre a possibilidade de se candidatar, eu pergunto: Como pôde um cidadão tão complicado com a justiça se eleger representante dos cidadãos do Paraná? Seus eleitores tinham conhecimento das acusações que pesam sobre ele? Se o presidente da república se enganou ao escolhê-lo, o povo não pode ter se enganado?
Esta é a mais explícita prova da responsabilidade (ou culpa) do Judiciário na qualidade do legislativo brasileiro. O povo não tem condições de conhecer a vida pregressa do candidato, que muitas vezes está envolvido em processos que corre em segredo de justiça, impedindo que o eleitor saiba para quem está dando seu voto.
Outro Ministro já foi escolhido para ocupar o cargo que seria do deputado, e o Brasil, desatento, parece acreditar que a sua desistência o faz probo.
Então é assim: lavou, tá novo?
* Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ
Na semana passada o Brasil acompanhou a subida e queda de um pretenso ministro. Esse fato reabriu duas antigas dúvidas: sobre a origem das fortunas brasileiras e sobre a possibilidade de impedir que envolvidos em denúncias ou investigados sejam candidatos a cargos eletivos, mesmo antes que suas ações tenham transitado em julgado. A seleção, de acordo com o entendimento das leis, fica por conta da população, que, segundo alguns, é sábia e apta para escolher o melhor.
O presidente Lula escolheu para ministro da Agricultura o deputado Odílio Balbinotti. A escolha não durou 48 h. Contra o indicado pesam crimes graves do ponto de vista moral, mas que não foram cometidos por falta de competência ou retidão administrativa na gestão da coisa pública. Pode se caracterizar como presença de esperteza, mas falta de competência, jamais.
Pesa sobre o cidadão Odílio Balbinotti, segundo o STF, crime de falsificação. De acordo com o processo, para conseguir um financiamento do Banco do Brasil, a empresa de Odílio teria forjado um pedido de empréstimo de 1,7 milhão de reais em nome de laranjas. Outro crime atribuído ao produtor de sementes e à Fundação MT, instituição de pesquisa fundada por Balbinotti e amigos, foi feita pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), de roubo na propriedade intelectual. Furto de sementes. De acordo com o processo, junto a Balbinotti estão um suplente de Senador e um Governador, ambos do Estado de Mato Grosso. Todos conhecidos como bem sucedidos empresários.
Pois bem, Balbinotti desistiu de sua indicação, mas o Brasil tomou conhecimento de crimes que provavelmente lastrearam o seu sucesso empresarial. Há de se deixar claro, repito, que este não foi um crime de improbidade administrativa, foi apenas um cidadão comum que na ânsia de se dar bem, cometeu crimes.
Quantas fortunas brasileiras estão alicerçadas em falcatruas, desvios ou roubos? Qual é a integridade de um país que enaltece infratores bem-sucedidos? Quanto à segunda dúvida que este fato reabriu, sobre a possibilidade de se candidatar, eu pergunto: Como pôde um cidadão tão complicado com a justiça se eleger representante dos cidadãos do Paraná? Seus eleitores tinham conhecimento das acusações que pesam sobre ele? Se o presidente da república se enganou ao escolhê-lo, o povo não pode ter se enganado?
Esta é a mais explícita prova da responsabilidade (ou culpa) do Judiciário na qualidade do legislativo brasileiro. O povo não tem condições de conhecer a vida pregressa do candidato, que muitas vezes está envolvido em processos que corre em segredo de justiça, impedindo que o eleitor saiba para quem está dando seu voto.
Outro Ministro já foi escolhido para ocupar o cargo que seria do deputado, e o Brasil, desatento, parece acreditar que a sua desistência o faz probo.
Então é assim: lavou, tá novo?
* Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ
QUANDO A FELICIDADE É QUE TRAZ O DINHEIRO
Ricardo Bellino
Manter uma atitude positiva é uma expressão que, para muitos, não passa de um chavão. Mas não é bem assim. A experiência – e também a ciência – mostram que isso realmente funciona.
A Royal Economic Society, uma tradicional instituição britânica, publicou uma pesquisa realizada com 7.500 pessoas durante 10 anos. O objetivo era verificar a relação entre dinheiro e felicidade. Os pesquisadores concluíram que pessoas com mais dinheiro não eram necessariamente mais felizes. Porém, as pessoas felizes são as que têm as melhores chances de ganhar mais dinheiro, pois sua atitude positiva facilita os relacionamentos, abre mais portas e cria novas oportunidades.
Ou seja: o dinheiro pode não trazer felicidade, mas a felicidade com certeza traz dinheiro.
Manter uma atitude positiva é uma expressão que, para muitos, não passa de um chavão. Mas não é bem assim. A experiência – e também a ciência – mostram que isso realmente funciona.
A Royal Economic Society, uma tradicional instituição britânica, publicou uma pesquisa realizada com 7.500 pessoas durante 10 anos. O objetivo era verificar a relação entre dinheiro e felicidade. Os pesquisadores concluíram que pessoas com mais dinheiro não eram necessariamente mais felizes. Porém, as pessoas felizes são as que têm as melhores chances de ganhar mais dinheiro, pois sua atitude positiva facilita os relacionamentos, abre mais portas e cria novas oportunidades.
Ou seja: o dinheiro pode não trazer felicidade, mas a felicidade com certeza traz dinheiro.
TRÁFICO SEXUAL ESCRAVIZA UM MILHÃO DE MULHERES, DIZ OIT
UOL
Mais de um milhão de mulheres trabalham como escravas sexuais para redes internacionais de tráfico de pessoas, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Vítimas de um negócio que fatura US$ 32 bilhões por ano no mundo, muitas são atraídas com promessas de casamento e melhores oportunidades de vida, e acabam nas mãos de aliciadores em cativeiros na Ásia e na Europa onde são forçadas a se prostituir.
Na ponta do esquema, estão aliciadores, na maioria das vezes, da própria comunidade em que elas vivem. No Brasil, um 'olheiro' ganha cerca R$ 600 por "escrava", segundo os cálculos dos serviços de assistência a vítimas.
Não há estimativas sobre o número de brasileiras escravizadas no exterior. Mas só em Portugal, autoridades estimam que cerca de quatro mil sejam vítimas de redes de prostituição. As rotas de tráfico do Brasil levam, principalmente, à Espanha, mas também à Holanda, Itália, Suíça, Alemanha e França.
A experiência da pernambucana Elaine* incluiu os três últimos países em menos de vinte dias: "Fui a primeira mulher a ser registrada em Pernambuco como 'vendida'", ela disse à BBC Brasil, sem orgulho na entonação.
'Molto bella'
Convencida por uma mulher de sua própria comunidade, um bairro modesto nos arredores do Recife, a se "casar" com um italiano que vivia na Alemanha, ela só se deu conta de que era vítima do tráfico quando foi obrigada a ter relações sexuais com o "marido" no trajeto de carro entre o aeroporto e seu cativeiro.
Elaine foi colocada dentro de um quarto trancado por fora e de janelas vedadas. Conta que foi "oferecida" a clientes alemães e turcos.
A fuga de Elaine ocorreu durante uma briga do casal que a traficou. Com a roupa do corpo, ela conseguiu chegar a uma estação de trem. Mais magra, foi levada ao hospital e diagnosticada com hepatite.
"Foram quinze dias que pareceram quinze anos", ela diz.
Indústria bilionária
O caso de Elaine é um entre diversos sob supervisão de Ricardo Lins, chefe da unidade de combate ao tráfico de pessoas na Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.
Pelos Estados do Norte e Nordeste do país passam 60% das cerca de 240 rotas conhecidas de tráfico que utilizam o Brasil como ponto de origem ou passagem.
Mas metade dos US$ 32 bilhões faturados pelo tráfico internacional de pessoas se dá nos países industrializados.
O escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) estima que o lucro das redes criminosas com o trabalho de cada ser humano transportado ilegalmente de um país para outro varie entre US$ 13 mil e US$ 30 mil por ano.
Em 2000, os países da ONU assinaram em Palermo, na Itália, um protocolo que em linhas gerais define o tráfico de pessoas como o "recrutamento" ou "transporte forçado" de pessoas, em que uma tem "autoridade sobre outra para fins de exploração".
O entendimento marcou o início de uma maior cooperação internacional, já que permite que casos de tráfico para exploração sexual não sejam tratados simplesmente como de imigração ilegal.
Em muitos casos até hoje, a vítima de tráfico é punida duas vezes, porque é logo deportada como imigrante ilegal.
Organizações humanitárias, como a britânica Refugee Women, militam para que mulheres provenientes de países 'fornecedores', como o Brasil, tenham o direito de permanecer no país até que sua volta já não seja considerada mais um risco.
Em um plano de combate ao tráfico de pessoas lançado na sexta-feira, 23, o Ministério do Interior britânico reconhece que "o braço repressivo não é efetivo sem a proteção e a assistência às vítimas".
Apenas na Grã-Bretanha, a Unicef calcula que cinco mil crianças ou adolescentes - principalmente da Europa do leste - trabalhem como escravas do sexo, de acordo com um estudo da Fundação Joseph Rowntree, de York.
"Muitos criminosos preferem ser traficantes de pessoas a traficante de drogas", diz Lins. "É muito mais fácil ser traficante de pessoas e ficar impune."
*Nome fictício
Mais de um milhão de mulheres trabalham como escravas sexuais para redes internacionais de tráfico de pessoas, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Vítimas de um negócio que fatura US$ 32 bilhões por ano no mundo, muitas são atraídas com promessas de casamento e melhores oportunidades de vida, e acabam nas mãos de aliciadores em cativeiros na Ásia e na Europa onde são forçadas a se prostituir.
Na ponta do esquema, estão aliciadores, na maioria das vezes, da própria comunidade em que elas vivem. No Brasil, um 'olheiro' ganha cerca R$ 600 por "escrava", segundo os cálculos dos serviços de assistência a vítimas.
Não há estimativas sobre o número de brasileiras escravizadas no exterior. Mas só em Portugal, autoridades estimam que cerca de quatro mil sejam vítimas de redes de prostituição. As rotas de tráfico do Brasil levam, principalmente, à Espanha, mas também à Holanda, Itália, Suíça, Alemanha e França.
A experiência da pernambucana Elaine* incluiu os três últimos países em menos de vinte dias: "Fui a primeira mulher a ser registrada em Pernambuco como 'vendida'", ela disse à BBC Brasil, sem orgulho na entonação.
'Molto bella'
Convencida por uma mulher de sua própria comunidade, um bairro modesto nos arredores do Recife, a se "casar" com um italiano que vivia na Alemanha, ela só se deu conta de que era vítima do tráfico quando foi obrigada a ter relações sexuais com o "marido" no trajeto de carro entre o aeroporto e seu cativeiro.
Elaine foi colocada dentro de um quarto trancado por fora e de janelas vedadas. Conta que foi "oferecida" a clientes alemães e turcos.
A fuga de Elaine ocorreu durante uma briga do casal que a traficou. Com a roupa do corpo, ela conseguiu chegar a uma estação de trem. Mais magra, foi levada ao hospital e diagnosticada com hepatite.
"Foram quinze dias que pareceram quinze anos", ela diz.
Indústria bilionária
O caso de Elaine é um entre diversos sob supervisão de Ricardo Lins, chefe da unidade de combate ao tráfico de pessoas na Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.
Pelos Estados do Norte e Nordeste do país passam 60% das cerca de 240 rotas conhecidas de tráfico que utilizam o Brasil como ponto de origem ou passagem.
Mas metade dos US$ 32 bilhões faturados pelo tráfico internacional de pessoas se dá nos países industrializados.
O escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) estima que o lucro das redes criminosas com o trabalho de cada ser humano transportado ilegalmente de um país para outro varie entre US$ 13 mil e US$ 30 mil por ano.
Em 2000, os países da ONU assinaram em Palermo, na Itália, um protocolo que em linhas gerais define o tráfico de pessoas como o "recrutamento" ou "transporte forçado" de pessoas, em que uma tem "autoridade sobre outra para fins de exploração".
O entendimento marcou o início de uma maior cooperação internacional, já que permite que casos de tráfico para exploração sexual não sejam tratados simplesmente como de imigração ilegal.
Em muitos casos até hoje, a vítima de tráfico é punida duas vezes, porque é logo deportada como imigrante ilegal.
Organizações humanitárias, como a britânica Refugee Women, militam para que mulheres provenientes de países 'fornecedores', como o Brasil, tenham o direito de permanecer no país até que sua volta já não seja considerada mais um risco.
Em um plano de combate ao tráfico de pessoas lançado na sexta-feira, 23, o Ministério do Interior britânico reconhece que "o braço repressivo não é efetivo sem a proteção e a assistência às vítimas".
Apenas na Grã-Bretanha, a Unicef calcula que cinco mil crianças ou adolescentes - principalmente da Europa do leste - trabalhem como escravas do sexo, de acordo com um estudo da Fundação Joseph Rowntree, de York.
"Muitos criminosos preferem ser traficantes de pessoas a traficante de drogas", diz Lins. "É muito mais fácil ser traficante de pessoas e ficar impune."
*Nome fictício
ALCKMIN
Oposição não tem que dar trégua a Lula, diz Alckmin
Na opinião de tucano, segundo mandato confirma "autoritarismo" do governo
Alckmin admite que estratégia de comunicação da campanha presidencial teve falhas e diz que volta à vida pública em junho
JOSÉ ALBERTO BOMBIGDA
Em sua primeira grande entrevista após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) diz que a oposição não deve dar trégua ao presidente petista, admite que sua campanha ao Planalto falhou na estratégia de comunicação e anuncia: retomará a vida pública em junho. De acordo com o tucano, o segundo mandato de Lula confirma o que ele chama de "autoritarismo" do PT e do governo. Ontem pela manhã, Alckmin recebeu a Folha em seu apartamento, em São Paulo. Leia a seguir os principais trechos:
FOLHA - O sr. chamou muito a atenção para a questão do crescimento econômico durante sua campanha. O que pensa do PAC?
GERALDO ALCKMIN - Conseguimos colocar no centro da agenda nacional esse tema. O Brasil continua perdendo oportunidades, estamos ficando para trás em um cenário mundial ótimo. Vejo com preocupação o segundo mandato do presidente Lula porque ele não pode ser entendido como uma continuação do primeiro. Não. O presidente tem legitimidade para fazer as mudanças. O PAC é um elenco de obras, algumas necessárias. É melhor do que nada, mas não é suficiente. Os entraves ao crescimento só serão eliminados com as reformas fiscal, tributária, trabalhista e política, a mãe de todas elas.
FOLHA - O que sr. achou do novo ministério?
ALCKMIN - O governo está perdendo tempo. É inconcebível você levar quase meio ano para montar um ministério que é uma colcha de retalhos. De outro lado, me preocupa o aspecto autoritário. Ou seja, pela primeira vez o time não foi formado antes da eleição para a direção da Câmara dos Deputados. O governo subordinou um Poder ao outro.
FOLHA - Preocupa o sr. a forma como o governo vem organizando sua nova base? ALCKMIN - Sim. A quantidade de deputados que já mudaram de partido é inacreditável. Se as reformas não forem feitas neste ano, não vão mais sair do papel. Lula quer uma grande base para quê? Só para prorrogar a DRU (Desvinculação das Receitas Orçamentárias da União) e a CPMF?
FOLHA - Como o sr. avalia o papel da oposição até agora?
ALCKMIN - Ela não é como foi a do PT, raivosa, do "quanto pior, melhor". Ela é mais madura. Mas, quando eu vi o Lula propor trégua de dois anos, dizendo que ia convidar líderes do PSDB para conversar, achei que ele não entendeu a lógica da democracia: quem ganha, governa, quem perde, fiscaliza, propõe alternativas, cobra. Ele quer o quê? Um partido único por dois anos? É, de novo, o perfil autoritário do governo.
FOLHA - O sr. pretende disputar a presidência do PSDB?
ALCKMIN - Em maio ou junho, quando terminar meu período sabático na Universidade Harvard [EUA], pretendo me dedicar à questão do PSDB. Tem gente cobrando e apontando problemas. A questão da infra-estrutura e da logística é preocupante. Não há a necessidade de assumir a presidência do partido para trabalhar por ele. Vou visitar o país organizando o partido e agradecendo a votação em 2006.
FOLHA - O sr. pretende disputar a eleição para prefeito de São Paulo?
ALCKMIN - Essa é uma disputa de muita relevância. Em um país continental, só se fala de Brasília. Isso precisa mudar. Quando o assunto é eleição, sempre fui contra antecipar a discussão de nomes. Não há eleição neste ano.
FOLHA - O acidente da linha 4 do metrô, obra de sua gestão, o preocupa quando ao seu futuro político?
ALCKMIN - É um acidente lamentável, precisa ser apurado, vamos aguardar as conclusões. Agora, não tem nenhuma ligação com a questão contratual. A PPP [Parceria Público Privada] é para comprar o material rodante, não tem nada a ver com obras. A PPP está correta. O "turn key", o modelo do contrato, que é recomendado pelo Banco Mundial, também não tem nada a ver.
FOLHA - Se o sr. voltasse no tempo, o que mudaria em sua campanha? Acha que errou no episódio das privatizações, por exemplo?
ALCKMIN - Em relação às privatizações, eu reagi contra a mentira de que eu ia privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal... Talvez, a nossa comunicação [na campanha] tenha falhado. Mas a mentira me revoltou. Procurando reagir, tivemos um resultado que não foi bom.
FOLHA - O Datafolha mostra hoje [ontem] que a principal preocupação do brasileiro é a segurança, tema central de sua campanha.
ALCKMIN - Nós realizamos o sonho de Mario Covas e reduzimos em 50% o número de homicídios no Estado. Vejo no governo federal uma omissão muito grave. Combater o crime organizado, o tráfico de armas, de drogas é tarefa federal.
FOLHA - Na outra mão, o que o sr. acha do caso do dossiê?
ALCKMIN - Esse episódio é grave. É a impunidade, isso é triste. É ela que estimula a corrupção. Lamentável. Tenho evitado falar sobre isso para não dizerem que sou mau perdedor.
No entanto, o fato é que não se chegou até a origem do dinheiro.
FOLHA - São Paulo teve um resultado muito ruim no Enem...
ALCKMIN - Ele não pode ser analisado sozinho como referência, ele é para avaliar aluno para o vestibular. São Paulo deu passos importantes, como a capacitação de professores e o aumento no tempo de alunos nas escolas. Mas, é claro, precisamos avançar mais.
Na opinião de tucano, segundo mandato confirma "autoritarismo" do governo
Alckmin admite que estratégia de comunicação da campanha presidencial teve falhas e diz que volta à vida pública em junho
JOSÉ ALBERTO BOMBIGDA
Em sua primeira grande entrevista após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) diz que a oposição não deve dar trégua ao presidente petista, admite que sua campanha ao Planalto falhou na estratégia de comunicação e anuncia: retomará a vida pública em junho. De acordo com o tucano, o segundo mandato de Lula confirma o que ele chama de "autoritarismo" do PT e do governo. Ontem pela manhã, Alckmin recebeu a Folha em seu apartamento, em São Paulo. Leia a seguir os principais trechos:
FOLHA - O sr. chamou muito a atenção para a questão do crescimento econômico durante sua campanha. O que pensa do PAC?
GERALDO ALCKMIN - Conseguimos colocar no centro da agenda nacional esse tema. O Brasil continua perdendo oportunidades, estamos ficando para trás em um cenário mundial ótimo. Vejo com preocupação o segundo mandato do presidente Lula porque ele não pode ser entendido como uma continuação do primeiro. Não. O presidente tem legitimidade para fazer as mudanças. O PAC é um elenco de obras, algumas necessárias. É melhor do que nada, mas não é suficiente. Os entraves ao crescimento só serão eliminados com as reformas fiscal, tributária, trabalhista e política, a mãe de todas elas.
FOLHA - O que sr. achou do novo ministério?
ALCKMIN - O governo está perdendo tempo. É inconcebível você levar quase meio ano para montar um ministério que é uma colcha de retalhos. De outro lado, me preocupa o aspecto autoritário. Ou seja, pela primeira vez o time não foi formado antes da eleição para a direção da Câmara dos Deputados. O governo subordinou um Poder ao outro.
FOLHA - Preocupa o sr. a forma como o governo vem organizando sua nova base? ALCKMIN - Sim. A quantidade de deputados que já mudaram de partido é inacreditável. Se as reformas não forem feitas neste ano, não vão mais sair do papel. Lula quer uma grande base para quê? Só para prorrogar a DRU (Desvinculação das Receitas Orçamentárias da União) e a CPMF?
FOLHA - Como o sr. avalia o papel da oposição até agora?
ALCKMIN - Ela não é como foi a do PT, raivosa, do "quanto pior, melhor". Ela é mais madura. Mas, quando eu vi o Lula propor trégua de dois anos, dizendo que ia convidar líderes do PSDB para conversar, achei que ele não entendeu a lógica da democracia: quem ganha, governa, quem perde, fiscaliza, propõe alternativas, cobra. Ele quer o quê? Um partido único por dois anos? É, de novo, o perfil autoritário do governo.
FOLHA - O sr. pretende disputar a presidência do PSDB?
ALCKMIN - Em maio ou junho, quando terminar meu período sabático na Universidade Harvard [EUA], pretendo me dedicar à questão do PSDB. Tem gente cobrando e apontando problemas. A questão da infra-estrutura e da logística é preocupante. Não há a necessidade de assumir a presidência do partido para trabalhar por ele. Vou visitar o país organizando o partido e agradecendo a votação em 2006.
FOLHA - O sr. pretende disputar a eleição para prefeito de São Paulo?
ALCKMIN - Essa é uma disputa de muita relevância. Em um país continental, só se fala de Brasília. Isso precisa mudar. Quando o assunto é eleição, sempre fui contra antecipar a discussão de nomes. Não há eleição neste ano.
FOLHA - O acidente da linha 4 do metrô, obra de sua gestão, o preocupa quando ao seu futuro político?
ALCKMIN - É um acidente lamentável, precisa ser apurado, vamos aguardar as conclusões. Agora, não tem nenhuma ligação com a questão contratual. A PPP [Parceria Público Privada] é para comprar o material rodante, não tem nada a ver com obras. A PPP está correta. O "turn key", o modelo do contrato, que é recomendado pelo Banco Mundial, também não tem nada a ver.
FOLHA - Se o sr. voltasse no tempo, o que mudaria em sua campanha? Acha que errou no episódio das privatizações, por exemplo?
ALCKMIN - Em relação às privatizações, eu reagi contra a mentira de que eu ia privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal... Talvez, a nossa comunicação [na campanha] tenha falhado. Mas a mentira me revoltou. Procurando reagir, tivemos um resultado que não foi bom.
FOLHA - O Datafolha mostra hoje [ontem] que a principal preocupação do brasileiro é a segurança, tema central de sua campanha.
ALCKMIN - Nós realizamos o sonho de Mario Covas e reduzimos em 50% o número de homicídios no Estado. Vejo no governo federal uma omissão muito grave. Combater o crime organizado, o tráfico de armas, de drogas é tarefa federal.
FOLHA - Na outra mão, o que o sr. acha do caso do dossiê?
ALCKMIN - Esse episódio é grave. É a impunidade, isso é triste. É ela que estimula a corrupção. Lamentável. Tenho evitado falar sobre isso para não dizerem que sou mau perdedor.
No entanto, o fato é que não se chegou até a origem do dinheiro.
FOLHA - São Paulo teve um resultado muito ruim no Enem...
ALCKMIN - Ele não pode ser analisado sozinho como referência, ele é para avaliar aluno para o vestibular. São Paulo deu passos importantes, como a capacitação de professores e o aumento no tempo de alunos nas escolas. Mas, é claro, precisamos avançar mais.
UMAS E OUTRAS
De Lauro Jardim:
Record cresce, mas não é vice-líder
A propaganda da Record a respeito de sua suposta vice-liderança é poderosa, mas exagerada. Os números do Ibope de janeiro e fevereiro revelam que a rede está crescendo, sim, mas o SBT ainda tem mais audiência no país. Aos números: neste bimestre, entre 7 da manhã e meia-noite, a Globo aparece com 51% de participação total, o SBT com 15% e a Record com 13%. Dois anos atrás, o SBT tinha 20%, a rede do bispo Macedo, 9% e a emissora presidida por Roberto Irineu Marinho, 53%. Tudo indica que ainda neste ano a Record chegará de fato ao segundo lugar. E, embora a léguas de distância da Globo, não será apenas uma troca de vice-líderes: a Record tem estrutura e dinheiro farto, o que a emissora de Silvio Santos nunca teve. E, portanto, tem condições inéditas para competir com a Globo.
Gol na Varig
As negociações decolaram e está por um fio a consumação da venda da Nova Varig para a Gol. Se o negócio for mesmo fechado, a Varig será transformada no braço internacional da empresa. A marca Gol seria usada apenas nos vôos domésticos.
Na boca do povo
O aquecimento global caiu na boca do povo. É o que se pode constatar de uma pesquisa encomendada ao Ibope pela agência Nova/SB. É a primeira pesquisa nacional de opinião, com brasileiros de todas as classes, sobre o tema. Nada menos que 91% dos brasileiros já ouviram falar no aquecimento global e 86% deles estão "preocupados" ou " muito preocupados" com isso.
Faça o que eu digo...
Atenção, governantes: uma das respostas mais surpreendentes da pesquisa, que será divulgada na quarta-feira, é sobre crescimento econômico e sustentabilidade. A maioria dos brasileiros (63%) diz que aceitaria um crescimento econômico um pouco menor em troca de maiores cuidados com o meio ambiente. Apenas 25% dos entrevistados acham que o crescimento deve ser prioridade para o Brasil mesmo que "prejudique o meio ambiente".
...mas não o que eu faço
De qualquer forma, outra resposta revela uma contradição dos brasileiros que se mostraram tão preocupados com o ambiente. Apenas 25% estariam dispostos a trocar os seus carros por outros menos poluentes.
Mu quem?
Um dos sócios das Lojas Americanas fez as contas e concluiu: o coreano Mu Hak You já ganhou 500 milhões de reais com a empresa. Anos atrás, ele comprou ações das Americanas por 4 reais. Agora, o papel está na faixa dos 120 reais. Aos 55 anos, radicado em São Paulo e avesso a holofotes (você já ouviu falar dele ou viu o seu rosto?), Mu Hak é dono de tantas ações da empresa que se senta no seu conselho de administração.
Casas Bahia agora em Harvard
A partir do segundo semestre e ao longo dos próximos três anos, os alunos do MBA da Universidade Harvard, nos EUA, terão de estudar uma história de sucesso made in Brazil: o vertiginoso crescimento e as estratégias que levaram as Casas Bahia ao topo do varejo nacional serão objetos de estudo por lá.
Record cresce, mas não é vice-líder
A propaganda da Record a respeito de sua suposta vice-liderança é poderosa, mas exagerada. Os números do Ibope de janeiro e fevereiro revelam que a rede está crescendo, sim, mas o SBT ainda tem mais audiência no país. Aos números: neste bimestre, entre 7 da manhã e meia-noite, a Globo aparece com 51% de participação total, o SBT com 15% e a Record com 13%. Dois anos atrás, o SBT tinha 20%, a rede do bispo Macedo, 9% e a emissora presidida por Roberto Irineu Marinho, 53%. Tudo indica que ainda neste ano a Record chegará de fato ao segundo lugar. E, embora a léguas de distância da Globo, não será apenas uma troca de vice-líderes: a Record tem estrutura e dinheiro farto, o que a emissora de Silvio Santos nunca teve. E, portanto, tem condições inéditas para competir com a Globo.
Gol na Varig
As negociações decolaram e está por um fio a consumação da venda da Nova Varig para a Gol. Se o negócio for mesmo fechado, a Varig será transformada no braço internacional da empresa. A marca Gol seria usada apenas nos vôos domésticos.
Na boca do povo
O aquecimento global caiu na boca do povo. É o que se pode constatar de uma pesquisa encomendada ao Ibope pela agência Nova/SB. É a primeira pesquisa nacional de opinião, com brasileiros de todas as classes, sobre o tema. Nada menos que 91% dos brasileiros já ouviram falar no aquecimento global e 86% deles estão "preocupados" ou " muito preocupados" com isso.
Faça o que eu digo...
Atenção, governantes: uma das respostas mais surpreendentes da pesquisa, que será divulgada na quarta-feira, é sobre crescimento econômico e sustentabilidade. A maioria dos brasileiros (63%) diz que aceitaria um crescimento econômico um pouco menor em troca de maiores cuidados com o meio ambiente. Apenas 25% dos entrevistados acham que o crescimento deve ser prioridade para o Brasil mesmo que "prejudique o meio ambiente".
...mas não o que eu faço
De qualquer forma, outra resposta revela uma contradição dos brasileiros que se mostraram tão preocupados com o ambiente. Apenas 25% estariam dispostos a trocar os seus carros por outros menos poluentes.
Mu quem?
Um dos sócios das Lojas Americanas fez as contas e concluiu: o coreano Mu Hak You já ganhou 500 milhões de reais com a empresa. Anos atrás, ele comprou ações das Americanas por 4 reais. Agora, o papel está na faixa dos 120 reais. Aos 55 anos, radicado em São Paulo e avesso a holofotes (você já ouviu falar dele ou viu o seu rosto?), Mu Hak é dono de tantas ações da empresa que se senta no seu conselho de administração.
Casas Bahia agora em Harvard
A partir do segundo semestre e ao longo dos próximos três anos, os alunos do MBA da Universidade Harvard, nos EUA, terão de estudar uma história de sucesso made in Brazil: o vertiginoso crescimento e as estratégias que levaram as Casas Bahia ao topo do varejo nacional serão objetos de estudo por lá.
ANTÍDOTO CONTRA A TIMIDEZ
O comportamento da mãe é decisivo para evitar que a inibição natural das crianças se transforme em fobia
Anna Paula Buchalla - VEJA
O senso comum prega que, uma vez tímido, sempre tímido. Ao longo dos últimos vinte anos, porém, os estudos sobre o comportamento humano têm revelado que a timidez, ao contrário da cor dos olhos ou dos cabelos, é uma característica passível de ser mudada. Uma criança inibida não está condenada a ser um adulto retraído. Publicada na revista americana Current Directions in Psychological Science, a mais nova pesquisa sobre o assunto dá pistas de como se pode ajudar os pequenos a vencer a inibição. A chave, segundo psicólogos da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, está no relacionamento da criança com sua mãe (sempre ela). A mãe tem um papel essencial na timidez de seu filho – para o bem ou para o mal. Ela deve estimulá-lo a fazer amigos, mas, ao mesmo tempo, precisa entender que timidez, num grau razoável, não é doença. Só se torna um problema quando isola a criança do mundo. Criança assim não se diverte e corre o risco de, na adolescência, desenvolver transtornos psiquiátricos, como ansiedade e fobia social.
Por cinco anos, os pesquisadores de Maryland acompanharam meninos e meninas portadores de uma mutação no gene 5-HTT, que, como se sabe há uma década, aumenta a tendência à timidez.
A primeira avaliação foi feita quando as crianças tinham 2 anos. Quando elas foram analisadas novamente, aos 7 anos, os especialistas notaram que algumas continuavam retraídas e outras não. As mães responderam, então, a um questionário sobre como haviam lidado com a introversão de seus filhos durante esse período. "As mulheres mais solitárias e mais estressadas eram as mães das crianças com maiores dificuldades de socialização", disse a VEJA o pesquisador Nathan Fox, um dos autores do estudo e coordenador do Laboratório de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Maryland.
Os resultados do trabalho já vinham sendo esboçados por outras pesquisas. Uma delas constatou que crianças tímidas filhas de pais superprotetores têm grande probabilidade de ser adultos retraídos. Por outro lado, os bebês matriculados numa creche nos primeiros meses de vida mostraram-se, quando crescidos, capazes de vencer a timidez com mais facilidade do que aqueles que haviam permanecido em casa com a mãe. Os sinais de que uma criança é tímida são dados ainda no berço. "Bebês que respondem rápido a estímulos de estranhos ou a novidades, como um brinquedo que não conhecem, tendem a ser crianças mais extrovertidas", afirma a psicóloga paulista Ceres Alves de Araujo, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Os que se mostram mais ressabiados diante de uma situação nova tendem a ser mais tímidos.
Essa cena todo mundo já presenciou: diante de um desconhecido, a criança tímida esconde o rosto, agarra-se às pernas da mãe ou se esconde atrás delas. Como a mãe é o modelo de socialização do filho nos primeiros anos de vida (muito mais do que o pai), cabe a ela ajudá-lo a enfrentar situações desconfortáveis. Como se consegue isso? Agindo naturalmente. Não adianta querer que o filho introvertido vire, de uma hora para outra, a criança mais popular da escola – provavelmente, ele nunca o será. E não há nada de errado nisso. "Exigir de uma criança o que ela não pode dar só aumenta a sua angústia e reforça o seu comportamento retraído", diz o psiquiatra infantil Francisco Assumpção Júnior, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Se seu filho não quiser ir à festa junina da escola, é importante demovê-lo da idéia. Afinal de contas, é fundamental que participe das atividades das quais os coleguinhas participam. Mas, se ele não quiser dançar a quadrilha, não o force. Esse tipo de exposição só o deixará mais aflito e, conseqüentemente, mais tímido. "A melhor receita para ajudar uma criança a vencer a timidez é ir devagar, respeitando seus limites", diz Nathan Fox. "Aos poucos, a tendência é que ela se solte e faça mais amigos."
Da mesma forma que a timidez excessiva é prejudicial, a extroversão desmedida também não é desejável. Um pouco de timidez é sempre útil. Ela nos torna mais cautelosos, atentos ao comportamento e aos sentimentos dos outros e menos impulsivos. "Na primeira metade da vida, até por volta dos 30 anos, as pessoas extrovertidas, mais atiradas, tendem a se sair melhor", diz a psicóloga Ceres Araujo. "Na segunda metade da vida, contudo, os mais introvertidos ganham terreno. Eles tendem a ser mais tranqüilos e estáveis em seus relacionamentos afetivos."
(para ver mais dicas, acesse esta reportagem no site da revista: www.veja.com.br)
Anna Paula Buchalla - VEJA
O senso comum prega que, uma vez tímido, sempre tímido. Ao longo dos últimos vinte anos, porém, os estudos sobre o comportamento humano têm revelado que a timidez, ao contrário da cor dos olhos ou dos cabelos, é uma característica passível de ser mudada. Uma criança inibida não está condenada a ser um adulto retraído. Publicada na revista americana Current Directions in Psychological Science, a mais nova pesquisa sobre o assunto dá pistas de como se pode ajudar os pequenos a vencer a inibição. A chave, segundo psicólogos da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, está no relacionamento da criança com sua mãe (sempre ela). A mãe tem um papel essencial na timidez de seu filho – para o bem ou para o mal. Ela deve estimulá-lo a fazer amigos, mas, ao mesmo tempo, precisa entender que timidez, num grau razoável, não é doença. Só se torna um problema quando isola a criança do mundo. Criança assim não se diverte e corre o risco de, na adolescência, desenvolver transtornos psiquiátricos, como ansiedade e fobia social.
Por cinco anos, os pesquisadores de Maryland acompanharam meninos e meninas portadores de uma mutação no gene 5-HTT, que, como se sabe há uma década, aumenta a tendência à timidez.
A primeira avaliação foi feita quando as crianças tinham 2 anos. Quando elas foram analisadas novamente, aos 7 anos, os especialistas notaram que algumas continuavam retraídas e outras não. As mães responderam, então, a um questionário sobre como haviam lidado com a introversão de seus filhos durante esse período. "As mulheres mais solitárias e mais estressadas eram as mães das crianças com maiores dificuldades de socialização", disse a VEJA o pesquisador Nathan Fox, um dos autores do estudo e coordenador do Laboratório de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Maryland.
Os resultados do trabalho já vinham sendo esboçados por outras pesquisas. Uma delas constatou que crianças tímidas filhas de pais superprotetores têm grande probabilidade de ser adultos retraídos. Por outro lado, os bebês matriculados numa creche nos primeiros meses de vida mostraram-se, quando crescidos, capazes de vencer a timidez com mais facilidade do que aqueles que haviam permanecido em casa com a mãe. Os sinais de que uma criança é tímida são dados ainda no berço. "Bebês que respondem rápido a estímulos de estranhos ou a novidades, como um brinquedo que não conhecem, tendem a ser crianças mais extrovertidas", afirma a psicóloga paulista Ceres Alves de Araujo, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Os que se mostram mais ressabiados diante de uma situação nova tendem a ser mais tímidos.
Essa cena todo mundo já presenciou: diante de um desconhecido, a criança tímida esconde o rosto, agarra-se às pernas da mãe ou se esconde atrás delas. Como a mãe é o modelo de socialização do filho nos primeiros anos de vida (muito mais do que o pai), cabe a ela ajudá-lo a enfrentar situações desconfortáveis. Como se consegue isso? Agindo naturalmente. Não adianta querer que o filho introvertido vire, de uma hora para outra, a criança mais popular da escola – provavelmente, ele nunca o será. E não há nada de errado nisso. "Exigir de uma criança o que ela não pode dar só aumenta a sua angústia e reforça o seu comportamento retraído", diz o psiquiatra infantil Francisco Assumpção Júnior, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Se seu filho não quiser ir à festa junina da escola, é importante demovê-lo da idéia. Afinal de contas, é fundamental que participe das atividades das quais os coleguinhas participam. Mas, se ele não quiser dançar a quadrilha, não o force. Esse tipo de exposição só o deixará mais aflito e, conseqüentemente, mais tímido. "A melhor receita para ajudar uma criança a vencer a timidez é ir devagar, respeitando seus limites", diz Nathan Fox. "Aos poucos, a tendência é que ela se solte e faça mais amigos."
Da mesma forma que a timidez excessiva é prejudicial, a extroversão desmedida também não é desejável. Um pouco de timidez é sempre útil. Ela nos torna mais cautelosos, atentos ao comportamento e aos sentimentos dos outros e menos impulsivos. "Na primeira metade da vida, até por volta dos 30 anos, as pessoas extrovertidas, mais atiradas, tendem a se sair melhor", diz a psicóloga Ceres Araujo. "Na segunda metade da vida, contudo, os mais introvertidos ganham terreno. Eles tendem a ser mais tranqüilos e estáveis em seus relacionamentos afetivos."
(para ver mais dicas, acesse esta reportagem no site da revista: www.veja.com.br)
QUARTO DE DESPEJO
Do Blog do Rigon:
Da coluna de Sebastião Nery deste sábado:
Na véspera da posse, depois do golpe de 64, Castelo Branco pediu ao governador Ademar de Barros que indicasse o ministro da Agricultura. Ademar indicou um amigo. Castelo telefonou e convidou.- Presidente, agradeço, mas antes tenho que consultar o governador.- Não precisa consultar não, que agora já decidi convidar outro.E bateu o telefone. Ademar indicou seu secretário da Agricultura, o agrônomo Oscar Thompson, Castelo nomeou e dois meses depois demitiu “por falta de unidade de pensamento”. E nomeou o paulista Hugo Leme. Em 65, Hugo Leme caiu e foi substituído pelo coronel paranaense Ney Braga.Feito presidente, Costa e Silva convidou o prefeito de Curitiba Ivo Arzua para o BNH. Foi para Brasília tomar posse, mas foi vetado pelos construtores. O jeito foi Costa e Silva “rebaixá-lo” para o ministério da Agricultura. Arzua não entendia nada. Trancou-se uma semana na Copamar (sic) (Cooperativa Agrícola de Maringá) , fez um curso intensivo e assumiu.
Stephanes
O ministério da Agricultura sempre foi quarto de despejo dos governos no Brasil. O único ministro de que se tem notícia durando um governo inteiro foi o mineiro Alysson Paulinelli, que entrou e saiu com Geisel, cinco anos depois, e também por isso foi o melhor ministro da Agricultura que o país teve.Lula deu sorte na Agricultura. No primeiro governo, Roberto Rodrigues, excelente ministro. Agora, depois de vários agropicaretas, convidou um veterano e exemplar servidor público, Reinhold Stephanes (PMDB-PR). Não é fácil, no Brasil, passar por quatro governos (diretor do Incra com Médici, do INPS com Geisel, ministro da Previdência com Collor e Fernando Henrique) e nunca ser acusado, sequer insinuado, de nada. Antes, professor, secretário da Prefeitura de Curitiba e do governo do Paraná, deputado.
Da coluna de Sebastião Nery deste sábado:
Na véspera da posse, depois do golpe de 64, Castelo Branco pediu ao governador Ademar de Barros que indicasse o ministro da Agricultura. Ademar indicou um amigo. Castelo telefonou e convidou.- Presidente, agradeço, mas antes tenho que consultar o governador.- Não precisa consultar não, que agora já decidi convidar outro.E bateu o telefone. Ademar indicou seu secretário da Agricultura, o agrônomo Oscar Thompson, Castelo nomeou e dois meses depois demitiu “por falta de unidade de pensamento”. E nomeou o paulista Hugo Leme. Em 65, Hugo Leme caiu e foi substituído pelo coronel paranaense Ney Braga.Feito presidente, Costa e Silva convidou o prefeito de Curitiba Ivo Arzua para o BNH. Foi para Brasília tomar posse, mas foi vetado pelos construtores. O jeito foi Costa e Silva “rebaixá-lo” para o ministério da Agricultura. Arzua não entendia nada. Trancou-se uma semana na Copamar (sic) (Cooperativa Agrícola de Maringá) , fez um curso intensivo e assumiu.
Stephanes
O ministério da Agricultura sempre foi quarto de despejo dos governos no Brasil. O único ministro de que se tem notícia durando um governo inteiro foi o mineiro Alysson Paulinelli, que entrou e saiu com Geisel, cinco anos depois, e também por isso foi o melhor ministro da Agricultura que o país teve.Lula deu sorte na Agricultura. No primeiro governo, Roberto Rodrigues, excelente ministro. Agora, depois de vários agropicaretas, convidou um veterano e exemplar servidor público, Reinhold Stephanes (PMDB-PR). Não é fácil, no Brasil, passar por quatro governos (diretor do Incra com Médici, do INPS com Geisel, ministro da Previdência com Collor e Fernando Henrique) e nunca ser acusado, sequer insinuado, de nada. Antes, professor, secretário da Prefeitura de Curitiba e do governo do Paraná, deputado.
25 março 2007
O MINISTRO FRANKLIN MARTINS
Futuro ministro de imprensa critica cultivo de mídia simpática
KENNEDY ALENCAR
O jornalista Franklin Martins, 58, futuro ministro que comandará as áreas de imprensa e publicidade do governo, diz que esses "guichês serão separados". "
As empresas de comunicação no Brasil, de modo geral e em sua maioria, são empresas sérias. Não aceitariam misturar os guichês. Eu sou uma pessoa séria e não aceito misturar os guichês.
"Fala, porém, que a imprensa "não está numa redoma" e "será criticada sempre que avançar o sinal". Na sua visão, isso ocorre quando a mídia "pretende puxar a sociedade pelo nariz para um lado e para o outro".I
ndagado se o governo incentivaria a criação de órgãos de imprensa simpáticos, como prega o PT, diz: "Não cabe ao governo plantar, regar e colher veículos de comunicação simpáticos a ele".
Prega a criação de uma rede pública de TV, dizendo que ela não deve funcionar com lógica comercial. Afirma que o governo fará indicação inicial de diretoria, mas sem partidarismo. "Senti na conversa com o presidente que é TV pública e não estatal. Plural e não partidária."
Defende encontro entre Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para que se mantenha agenda comum nacional que quase se perdeu na crise do mensalão devido a "luta política" entre PT e PSDB. A agenda tem cinco pontos: democracia, estabilidade monetária, responsabilidade fiscal, crescer com distribuição de renda e combater a exclusão social.
"Os dois precisam conversar. Seria muito bom para os dois e para o país, mantendo as opiniões e divergências. Cada macaco no seu galho. E, do seu galho, cada um pode conversar com o outro."
O novo ministro manterá o processo contra o jornalista Diogo Mainardi, da revista "Veja", porque ele o acusou de crimes. "Fiz o que se faz em qualquer estado de direito." Diz que tratará a Globo profissionalmente, empresa da qual foi demitido após o episódio Mainardi. "Quem olha para trás vira estátua de sal."
Diz ter "orgulho" de ter combatido a ditadura militar de 1964. "Lutei do lado certo." Com olhos marejados, demonstra emoção ao falar desse assunto. "Vivi na clandestinidade cinco anos e meio. Vivi cinco anos e meio no exílio. No entanto, não vivo mais na clandestinidade. Muita gente que torturou e matou é clandestina até hoje, até para a sua família", afirma.
Indagado a respeito do que achava hoje de o manifesto dos seqüestradores do embaixador americano Charles Elbrick defender a matança de torturadores e carrascos da ditadura, afirma: "Naquela época, quem fizesse oposição ao regime estava sob o risco de ser preso, torturado e morto. Eram outras circunstâncias, circunstâncias de guerra".
Imagina que seria negado um pedido de visto de entrada nos EUA devido à sua participação no seqüestro de Elbrick, ação de um grupo formado por militantes de duas organizações guerrilheiras, a Ação Libertadora Nacional e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro, que seqüestrou o embaixador americano para forçar a ditadura a libertar 15 presos políticos, entre os quais José Dirceu, hoje ex-ministro da Casa Civil.
"[O visto] É uma questão secundária. Tanto os Estados Unidos quanto eu sobreviveremos a esse detalhe", diz, num tom bem-humorado.
Franklin acumulará a função de secretário de imprensa com a de ministro até indicar um substituto para o cargo hoje exercido pelo jornalista André Singer. Para porta-voz, nomeará alguém de fala "concisa". Convidou o jornalista Eugênio Bucci a permanecer à frente da Radiobrás e aguarda resposta. A seguir, a íntegra da entrevista dada em sua casa, em Brasília, na tarde de sexta-feira:
Folha - Por que o presidente o convidou?
Franklin Martins - A idéia do presidente é passar para a sociedade a idéia de que deseja ter uma relação de comunicação forte, mais intensa e mais profissional. Simbolicamente, ao chamar um profissional como eu, quis passar essa idéia. Comunicação é falar e ouvir. Não é só falar.
Folha - Lula é criticado por ter dado raras entrevistas coletivas no primeiro mandato.
Franklin - Isso correspondeu a um momento. O presidente tem dado entrevista quase todo dia, falando ao final dos eventos.
Folha - Mas foge ao formato de coletiva e às exclusivas em que pode haver o pingue-pongue entre entrevistado e entrevistador.
Franklin - Cabe o formato de coletiva, que não é para se fazer todo dia. O presidente fará uma coletiva em breve. E cabem essas entrevistas de saída de eventos em que dará a palavra do presidente sobre o assunto do dia, o que é fundamental para os jornalistas. E cabem os formatos de conversas com jornalistas e entrevistas para órgãos de imprensa. O presidente terá uma comunicação muito mais intensa e profissional.
Folha - E por que o sr. aceitou?
Franklin - Um pouco de vaidade com essa coisa de ser ministro. Gosto de desafios. Profissionalmente, estava no auge da minha carreira. Comentarista respeitado, prestigiado junto aos colegas e às fontes. Mas, no fundo, queria fazer coisas novas, diferentes. Tem a ver com as circunstâncias políticas do país. Passamos por uma crise política extremamente dura, selvagem em alguns momentos, e estamos saindo dela. Foram cometidos erros de lado, do governo e da imprensa. O povo brasileiro demonstrou maturidade. Quis a apuração dos fatos. Mas também olhou e disse: eu também quero que o país continue a melhorar, a enfrentar os seus problemas reais. Não vamos confundir disputa política com solução dos grandes problemas nacionais".Isso baixou a intoxicação do debate político. Na campanha, quando os candidatos subiram de tom, tiveram queda nas pesquisas. O recado era "menos, gente". Lula venceu com grande vantagem, demonstrando que a opção do eleitor não foi fortuita. Mas o eleitor disse: "Não quero perder os avanços que nós temos devido a luta política tumultuada".
Folha - Não foi só luta política. Houve escândalos de corrupção sérios. Houve o dossiegate. O sr. acha que a imprensa exagerou?
Franklin - Falando ainda como jornalista, não como ministro, a imprensa cumpriu um papel importante no primeiro momento da crise, forçando a realização das CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito). De certa forma, pautou os primeiros momentos. Trouxe à tona o caixa dois, os recebimentos de dinheiro por parlamentares. Entretanto, a partir de determinado momento, era preciso avançar e responder a uma questão crucial que eu repetia como um mantra nos comentários: "De onde veio o dinheiro do valerioduto?" Por quê?Essa resposta permitiria que a investigação desse os passos seguintes. Hoje, não contamos a história. Há a suspeita. Evidente que o dinheiro do valerioduto foi para maior número de parlamentares do que o apontado pela CPI. O dinheiro havia sido aplicado para financiar troca de partidos, uma hipótese bastante plausível. Por que a CPI não quebrou o sigilo desses parlamentares? Não houve da parte da CPI esse interesse. E a imprensa não fez uma investigação independente para saber de onde veio e para onde foi o dinheiro do valerioduto, o que permitiu que o processo ficasse apenas com aparência de discurso político. A partir de um determinado momento, a imprensa parou de pautar a CPI e passou a ser pautada pela CPI. Prevaleceu não a investigação, mas o discurso. E a população percebeu isso e se afastou, o que é ruim, pois nos afastou de conhecer melhor e mais o que aconteceu.
Folha - Colocar numa mesma pasta a verba publicitária do governo e a relação com a imprensa não traz o risco de tentativa de manipulação política da mídia?Franklin - Traz. Viver é muito perigoso, como dizia Guimarães Rosa. Risco sempre existe, mas não é um risco novo. Em todos os Estados da Federação, é assim. No governo federal, sempre foi assim. Já tivemos casos em que o porta-voz do presidente [diplomata Sérgio Amaral no governo FHC] era também quem controlava a verba de publicidade. E não houve nada demais.
Folha - No segundo mandato, FHC separou as funções. E Lula as deixou assim no primeiro mandato.
Franklin - O Sérgio Amaral controlou a verba de publicidade e isso não resultou em coisa escusa, malandragem. Não houve nada.
Folha - Separar publicidade e imprensa não é uma fórmula mais imparcial?Franklin - A maioria esmagadora dos recursos de verba publicitária é das estatais. O governo não controla. As campanhas de publicidade do governo têm uma dimensão política e técnica. Vou indicar alguém da minha absoluta confiança, íntegro e com conhecimento do mercado de publicidade, com experiência de trabalho executivo, para cuidar da parte técnica. Serei responsável em última instância. Na dimensão política, deve-se discutir qual o sentido da campanha que o governo realiza ou vai realizar. Se há dúvidas sobre um programa social do governo ou uma medida do governo, talvez caiba uma campanha para esclarecer melhor. O acompanhamento da mídia é fundamental para sentir, por exemplo, se há dúvidas sobre o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Colhe-se isso também na relação com a imprensa, que expressa as mais variadas posições da sociedade. Uma eventual inflexão da propaganda poderá esclarecer tais dúvidas.É um conceito de unificação da comunicação do governo, não é para misturar dois guichês. Os guichês serão absolutamente separados. As empresas de comunicação no Brasil, de modo geral e em sua maioria, são empresas sérias. Não aceitariam misturar os guichês. Eu sou uma pessoa séria e não aceito misturar os guichês. O governo é sério e não aceita misturar os guichês.
Folha - Concorda com as teses do PT de que é preciso democratizar os meios de comunicação? Acha que deve ser estimulada a criação de veículos de comunicação simpáticos ao governo, dando-lhes financiamento oficial direto ou indireto?
Franklin - Essa questão de democratização dos meios de comunicação é uma fórmula na qual cabe tudo. Sou a favor, óbvio. Quanto mais democrática e plural a circulação de idéias na sociedade, melhor. Mas não cabe ao governo plantar, regar e colher órgãos de comunicação simpáticos a ele. Quem cria órgãos de comunicação é a sociedade. O governo tem uma função na relação com a imprensa: garantir a liberdade de imprensa. Ponto. O resto é a sociedade quem faz.
Folha - A rede pública de TV não corre risco de virar uma nova Radiobrás ou TV Voz do Brasil? Ela é necessária?
Franklin - É necessária. A intensidade com que essa discussão surgiu mostra que o país estava precisando discutir isso. Em qualquer discussão que se inicia, as posições, às vezes, vêm truncadas. Esse processo ajuda a avançar. O governo não pretende criar uma TV do governo, estatal. Mas estimular, fazer crescer e dar forma a uma rede pública de TV.
Folha - Com qual formato em termos editoriais, de gestão e de financiamento?Franklin - Não vai funcionar guiada pela questão comercial. Isso coloca limitações para uma série de TVs que necessitam adquirir uma determinada escala de audiência e respondem a estímulos comerciais porque são empresas que visam lucro. Essas TVs privadas não podem entrar em determinadas áreas, fazer determinadas programações, que são importantíssimas.
Folha - Mas não é importante ter audiência?
Franklin - É importante. Estou falando de escala de audiência. Não tem obrigação de concorrer para liderar o horário nobre. Na Inglaterra, na época em que fui correspondente, havia duas TVs públicas, BBC 1 e BBC 2, e dois canais privados, ITV e Channel Four. A BBC 1, com programação mais educativa, competia com o Channel Four. A BBC 2, com a outra, que tinha programação mais comercial. A BBC 1 tinha audiência de seis e sete pontos, o que é um índice bom. Essa situação ajudava a melhorar o padrão de produção de todas as TVs. Os mecanismos de gestão e de financiamento devem ser discutidos e feitos com base na experiência exitosa de outros países e aqui, como a TV Cultura, por exemplo.
Folha - Quem vai escolher a diretoria?
Franklin - Evidentemente, a escolha inicial parte do governo. Mas o governo não precisa escolher os partidários do governo. Não existe ainda um formato definido. A discussão ainda não está madura. O que senti na conversa com o presidente é uma TV pública e não estatal. Plural e não partidária. Aberta para contribuição e presença das diferentes identidades regionais e não com uma programação de uma cara só. [Deve ter] programação variada, com jornalismo, com parte cultural voltada para cidadania.Isso é diferente da Radiobrás, que tem um papel que deve continuar, funciona como uma agência noticiosa do governo. Nesse aspecto, a gestão do Eugênio Bucci foi importante, sem caráter de chapa branca. Tanto que convidei-o para permanecer na Radiobrás. E ele ficou de me dar a resposta.
Folha - O governo deverá colocar recursos vinculados, haverá possibilidade de corte no orçamento dessa rede pública?
Franklin - Honestamente, ainda não tenho idéia. O governo vai ter de botar verba. Há discussões se vale a pena trabalhar com patrocínio privado, como existe na TV Cultura. Não publicidade comercial. Os modelos de financiamento e de gestão devem ser discutidos. Será bom para o Brasil ter uma TV pública.No Brasil, a gente se assusta com tudo que significa mudança, modernidade e novidade. Depois, descobre que é muito bom. Não sei por que o Brasil se assusta com a possibilidade de ter uma BBC.
Folha - As primeiras reações de parte dos veículos privados têm sido de reticência.
Franklin - Foram reações próprias de um debate inicial. Editoriais, como os da Folha, criticavam a TV do governo, mas, se for uma TV pública, a coisa muda de figura. Podemos discutir. Isso é parte do debate político. Estamos saindo de um momento muito tumultuado de disputa política. Passou a ser óbvio, de entrada, desqualificar a outra posição para não ter que entrar no mérito da discussão.O que mais quero como ministro da comunicação social é ajudar a qualificar o debate político, o debate público. Liberdade de imprensa não é só informar, mas também qualificar o debate público. Fazer com que se exprimam as diferentes posições da sociedade, que se choquem, e a sociedade escolha a melhor. Pode haver gente tão a favor da liberdade de imprensa quanto eu, mais a favor não tem. Meu pai foi jornalista e preso na ditadura Vargas por não aceitar o autoritarismo. Eu passei a minha juventude lutando contra a ditadura [militar de 1964]. A liberdade de imprensa é o nome que se dá ao direito de a sociedade ser informada.
Folha - Como diz o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, a Constituição deseja que a imprensa seja livre, não determina que seja justa.
Franklin - Isso. Quando a imprensa não é justa, ela paga um preço. Não é o Estado que paga. Paga pela crítica feita a ela pela sociedade. A imprensa também não está numa redoma. O presidente pode ser criticado, o ministro pode ser criticado, o papa pode ser criticado, a imprensa pode ser criticada e será criticada sempre que avançar o sinal. Quando ela avança o sinal? Quando vai além do trabalho de dar informação, de fazer circular a informação e de aumentar o debate público. Quando pretende puxar a sociedade pelo nariz para um lado e para o outro. Essa não é uma função da imprensa.
Folha - O sr. identifica veículos que avançam sinal hoje?
Franklin - A sociedade pode fazer essa crítica. Não sou eu quem devo fazer. Evidente, nesse período de crise, teve gente que se comportou de uma forma, teve gente que se comportou de outra. Dentro de nossas redações, há jornalistas que foram mais longe. Eu sempre disse que seríamos julgados pelo nosso comportamento, o que é positivo, não é ruim. A imprensa sairá melhor e já está saindo melhor dessa crise do que entrou. Como o governo está saindo melhor do que entrou. A crítica é o que faz pessoas crescerem desde que elas consigam perceber o que fizeram de errado. E quem critica a imprensa e muda a imprensa é a sociedade, não é o governo. Não é o leitor. O leitor de um jornal pode até estar gostando desse jornal. Mas o debate na sociedade pode levar aquele leitor a perceber que não era bem assim.
Folha - Como ministro, o sr. manterá o processo contra o jornalista Diogo Mainardi?
Franklin - Vou manter.
Folha - Por quê?
Franklin - Não estou fazendo nada contra a liberdade de imprensa. Manter o processo contra esse senhor não tem nada a ver sobre o que eu penso ou o que ele acha que eu penso. É um direito que ele tem. Isso não discuto. Entrei com processo contra ele porque ele me acusou de crimes. Me acusou de ter praticado tráfico de influência e de ter participado da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa.Fez essas acusações sem nenhum elemento. Mais do que isso, ele e a revista dele ["Veja"] se recusaram a publicar a minha resposta, a minha explicação. Que liberdade de imprensa é essa na qual um lado fala e sequer publica o outro lado. Fiz o que se faz em qualquer estado de direito. Quando acha que sua honra foi atingida, recorre à Justiça. Quem pode definir se essa honra foi atingida? Eu? O colunista da revista? Não, a Justiça. No processo, peço que seja publicada a minha resposta e peço reparação por danos morais.
Folha - Como ministro, não ganhará mais peso esse processo em seu favor?Franklin - A Justiça não vai agir assim porque sou ministro. Pelo ritmo no Brasil, a Justiça só terá julgado esse processo depois que eu deixar de ser ministro. Ele terá toda a oportunidade de provar que todas as acusações de que cometi crimes são verdadeiras. E, se for isso, quem vai ficar mal sou eu.Ele também pode, se quiser, dizer: "Eu errei. Volto atrás". Mas hoje em dia pega mal para ele. Acho que dificilmente o fará. Não vou abrir mão de defender a minha honra da única forma num estado de direito, que é ir à Justiça.
Folha - Esse episódio foi determinante para o seu afastamento da função de comentarista do "Jornal Nacional" e da saída da Rede Globo?
Franklin - Não. Eu já havia deixado de ser comentarista do "Jornal Nacional". A direção da TV Globo chegou à conclusão de que deveria tirar toda e qualquer opinião do jornal porque ele era basicamente informativo.
Folha - E em relação à saída?
Franklin - Fiz essa pergunta à direção, e eles disseram que não. A alegação que me deram é que eu estava com imagem fraca como jornalista, muita gente não me conhecia. Eu disse a eles que achava que a explicação não me convencia. A pergunta tem de ser feita à TV Globo.
Folha - O sr. tem mágoa da Rede Globo e de sua cúpula atual?
Franklin - Não. Tive oportunidades profissionais fantásticas na TV Globo. Trabalhei lá durante oito anos e meio. Fui comentarista dos principais jornais. Participei do núcleo que coordenou a cobertura das eleições de 2002, que foi um marco na história da TV Globo. Fui diretor de jornalismo em Brasília, sempre com uma relação excepcional com a Central Globo de Jornalismo. Portanto, sou grato à TV Globo. Aconteceu uma coisa que não entendo.
Folha - Como o sr. pretende se relacionar com a Globo?
Franklin - Digo sempre que não vou olhar para trás. Quem olha para trás vira estátua de sal. Tenho muitos amigos na Globo. Deve haver pessoas que não gostam de mim. Será um relacionamento profissional.
Folha - Qual é a sua avaliação da cobertura da imprensa de modo geral a respeito do governo Lula?
Franklin - Vou falar como acho que deve ser daqui para frente. Profissional, séria, crítica, sem preconceito.
Folha - O sr. está proibido de entrar nos EUA por causa do sequestro de Charles Elbrick?
Franklin - É uma versão que corre, provavelmente verdadeira. Mas nunca pedi visto para o governo americano, até porque imagino que não me dariam. Outras pessoas que estiveram na mesma situação que a minha, de seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, receberam sinais de que não conseguiriam.
Folha - O sr. vai com Lula para Washington no final do mês?
Franklin - Não sei. É uma questão secundária. Tanto os Estados Unidos quanto eu sobreviveremos a esse detalhe.
Folha - O sr. participou da luta armada contra a ditadura militar de 1964. Como avalia hoje aquele período? Valeu a pena? Foi o melhor caminho? Arrepende-se de algo? Faria diferente?
Franklin - Faria muitas coisas diferentes com a visão que tenho hoje. Não me arrependo do que é central. Lutei do lado certo. Lutei do lado da democracia contra a ditadura.
Folha - O manifesto dos seqüestradores do embaixador falava em matar carrascos e torturadores do regime militar. O que acha disso hoje?
Franklin - Fica difícil discutir porque hoje não existe uma polícia como um instrumento de opressão política do Estado sobre as pessoas. Hoje, as pessoas fazem oposição livremente, falam livremente. Naquele época, quem fizesse oposição ao regime estava sob o risco de ser preso, torturado e morto. Eram outras circunstâncias, circunstâncias de guerra.Com todas as suas diferentes nuances, o povo brasileiro superou a ditadura militar. Participei das manifestações estudantis de 1968 que praticamente inviabilizaram o modelo de ditadura que eles tinham. Então, partiram para o terrorismo de Estado aberto. Em 1974, a vitória do MDB, inviabilizou o terrorismo de Estado. As diretas, em 1984, inviabilizaram a distensão que pretendia manter uma ditadura sob controle. Estive do lado certo. Tenho o maior orgulho de ter lutado. Tenho um certo pudor de bater no peito e ficar proclamando, parece que estou contando vantagem.Tenho o maior orgulho de ter lutado contra a ditadura. Posso contar tudo o que fiz, inclusive os meus erros, para os meus filhos, os meus netos, discutir abertamente na sociedade.Os que estiveram do outro lado não podem. Vivi na clandestinidade cinco anos e meio. Vivi cinco anos e meio no exílio. No entanto, não vivo mais na clandestinidade. Muita gente que torturou e matou é clandestina até hoje, até para a sua família.
Folha - O sr. foi preso e torturado?
Franklin - Fui preso durante dois meses, mas não fui torturado. Saí um dia antes do AI-5 [ato institucional número 5, de 13 de dezembro de 1968, que suspendeu direitos políticos e tornou mais bruta a ditadura militar de 1964]. Se estou aqui até hoje, é porque sou um sujeito que teve muita sorte.
Folha - O sr. participou de alguma ação em que morreram pessoas? Matou alguém?
Franklin - Não, não.
Folha - Nas eleições, Lula chegou a dizer que desejava um acordo com a oposição, encontrar uma agenda comum. É possível haver algum entendimento entre PT e PSDB, duas forças com algumas características em comum, mas que se digladiam?
Franklin - No auge da crise, o Brasil correu o risco de perder uma coisa que ele construiu quase sem saber. E poderia ter perdido sem saber que construiu, que é uma agenda política comum nacional. Essa agenda tem cinco pontos. O primeiro é a democracia. Vamos resolver nossos problemas pela via democrática. Queremos eleições, queremos respeito aos direitos e garantias individuais. A oposição tem o direito de fiscalizar, mas não tem o direito de impedir o governo de governar. O governo tem o direito de governar, mas não tem o direito de impedir a opinião de se expressar. Se há uma direita no Brasil, o que se discute [risos], ela é mais democrática do que era antes. A esquerda é mais democrática do que era antes. O segundo ponto é a moeda. Queremos estabilidade monetária. Houve uma época em achávamos que podíamos conviver com a inflação alegremente graças ao overnight, ao gatilho salarial, à escala móvel de salário. O preço estamos pagando até hoje.Terceira questão: responsabilidade fiscal. Não basta o governante ir gastando e pendurar a conta no cabide ali em frente. Temos de ter seriedade com o dinheiro público. Quarta questão. Tudo isso é muito importante, mas é preciso crescer, gerar emprego, gerar oportunidades para a juventude. E a quinta é que não basta crescer. Temos de combater a exclusão social. Essa agenda vem sendo construída ao longo do tempo. Parte dela foi construída durante a ditadura. Parte no governo Fernando Henrique Cardoso. Parte no primeiro governo Lula. Essa agenda corresponde a um pensamento de 70% a 80% das forças políticas do país. A vantagem disso é que a luta política pode se dar num terreno razoavelmente delimitado. Nessa crise, quase jogamos isso pela janela. Se a crise tivesse ido um pouquinho mais longe e se o povo brasileiro não tivesse dito "calma, pessoal, eu não quero perder essa coisa".
Folha - O que seria ter ido mais longe? A oposição patrocinar o impeachment do Lula? O Lula tentar dar uma guinada autoritária?
Franklin - Sim. Por que não partiram para o impeachment? Por que o Lula não endureceu? Porque a sociedade disse: "Não quero". Temos essa agenda comum. Grandes programas que começam a dar certo são apoiados por muito mais partidos do que os que estão no governo. O Bolsa Família era tido como uma "Bolsa Esmola". Hoje, a maioria das forças políticas reconhece que é um vigoroso programa de transferência de renda que deve ser mantido e aprimorado. É uma conquista que não dá para abrir mão. O atual programa de melhoria da qualidade da educação incorpora coisas que vieram do governo FHC. Nos últimos 25 anos, construímos coisas em comum e quase jogamos fora na crise.
Folha - Lula se queixa de FHC ter sido muito duro com ele na crise. FHC se queixa de Lula não ter mantido a cordialidade a que ele deu início com a transição de governos. O sr. acha que eles deveriam se encontrar e conversar?
Franklin - Os dois precisam conversar. Seria muito bom para os dois e para o país, mantendo as opiniões e divergências. Esse negócio de agenda comum não é aderir ao governo. A oposição está na oposição por vontade do eleitor. O governo está no governo porque o eleitor mandou. Cada macaco no seu galho. E, do seu galho, cada um pode conversar com o outro.
KENNEDY ALENCAR
O jornalista Franklin Martins, 58, futuro ministro que comandará as áreas de imprensa e publicidade do governo, diz que esses "guichês serão separados". "
As empresas de comunicação no Brasil, de modo geral e em sua maioria, são empresas sérias. Não aceitariam misturar os guichês. Eu sou uma pessoa séria e não aceito misturar os guichês.
"Fala, porém, que a imprensa "não está numa redoma" e "será criticada sempre que avançar o sinal". Na sua visão, isso ocorre quando a mídia "pretende puxar a sociedade pelo nariz para um lado e para o outro".I
ndagado se o governo incentivaria a criação de órgãos de imprensa simpáticos, como prega o PT, diz: "Não cabe ao governo plantar, regar e colher veículos de comunicação simpáticos a ele".
Prega a criação de uma rede pública de TV, dizendo que ela não deve funcionar com lógica comercial. Afirma que o governo fará indicação inicial de diretoria, mas sem partidarismo. "Senti na conversa com o presidente que é TV pública e não estatal. Plural e não partidária."
Defende encontro entre Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para que se mantenha agenda comum nacional que quase se perdeu na crise do mensalão devido a "luta política" entre PT e PSDB. A agenda tem cinco pontos: democracia, estabilidade monetária, responsabilidade fiscal, crescer com distribuição de renda e combater a exclusão social.
"Os dois precisam conversar. Seria muito bom para os dois e para o país, mantendo as opiniões e divergências. Cada macaco no seu galho. E, do seu galho, cada um pode conversar com o outro."
O novo ministro manterá o processo contra o jornalista Diogo Mainardi, da revista "Veja", porque ele o acusou de crimes. "Fiz o que se faz em qualquer estado de direito." Diz que tratará a Globo profissionalmente, empresa da qual foi demitido após o episódio Mainardi. "Quem olha para trás vira estátua de sal."
Diz ter "orgulho" de ter combatido a ditadura militar de 1964. "Lutei do lado certo." Com olhos marejados, demonstra emoção ao falar desse assunto. "Vivi na clandestinidade cinco anos e meio. Vivi cinco anos e meio no exílio. No entanto, não vivo mais na clandestinidade. Muita gente que torturou e matou é clandestina até hoje, até para a sua família", afirma.
Indagado a respeito do que achava hoje de o manifesto dos seqüestradores do embaixador americano Charles Elbrick defender a matança de torturadores e carrascos da ditadura, afirma: "Naquela época, quem fizesse oposição ao regime estava sob o risco de ser preso, torturado e morto. Eram outras circunstâncias, circunstâncias de guerra".
Imagina que seria negado um pedido de visto de entrada nos EUA devido à sua participação no seqüestro de Elbrick, ação de um grupo formado por militantes de duas organizações guerrilheiras, a Ação Libertadora Nacional e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro, que seqüestrou o embaixador americano para forçar a ditadura a libertar 15 presos políticos, entre os quais José Dirceu, hoje ex-ministro da Casa Civil.
"[O visto] É uma questão secundária. Tanto os Estados Unidos quanto eu sobreviveremos a esse detalhe", diz, num tom bem-humorado.
Franklin acumulará a função de secretário de imprensa com a de ministro até indicar um substituto para o cargo hoje exercido pelo jornalista André Singer. Para porta-voz, nomeará alguém de fala "concisa". Convidou o jornalista Eugênio Bucci a permanecer à frente da Radiobrás e aguarda resposta. A seguir, a íntegra da entrevista dada em sua casa, em Brasília, na tarde de sexta-feira:
Folha - Por que o presidente o convidou?
Franklin Martins - A idéia do presidente é passar para a sociedade a idéia de que deseja ter uma relação de comunicação forte, mais intensa e mais profissional. Simbolicamente, ao chamar um profissional como eu, quis passar essa idéia. Comunicação é falar e ouvir. Não é só falar.
Folha - Lula é criticado por ter dado raras entrevistas coletivas no primeiro mandato.
Franklin - Isso correspondeu a um momento. O presidente tem dado entrevista quase todo dia, falando ao final dos eventos.
Folha - Mas foge ao formato de coletiva e às exclusivas em que pode haver o pingue-pongue entre entrevistado e entrevistador.
Franklin - Cabe o formato de coletiva, que não é para se fazer todo dia. O presidente fará uma coletiva em breve. E cabem essas entrevistas de saída de eventos em que dará a palavra do presidente sobre o assunto do dia, o que é fundamental para os jornalistas. E cabem os formatos de conversas com jornalistas e entrevistas para órgãos de imprensa. O presidente terá uma comunicação muito mais intensa e profissional.
Folha - E por que o sr. aceitou?
Franklin - Um pouco de vaidade com essa coisa de ser ministro. Gosto de desafios. Profissionalmente, estava no auge da minha carreira. Comentarista respeitado, prestigiado junto aos colegas e às fontes. Mas, no fundo, queria fazer coisas novas, diferentes. Tem a ver com as circunstâncias políticas do país. Passamos por uma crise política extremamente dura, selvagem em alguns momentos, e estamos saindo dela. Foram cometidos erros de lado, do governo e da imprensa. O povo brasileiro demonstrou maturidade. Quis a apuração dos fatos. Mas também olhou e disse: eu também quero que o país continue a melhorar, a enfrentar os seus problemas reais. Não vamos confundir disputa política com solução dos grandes problemas nacionais".Isso baixou a intoxicação do debate político. Na campanha, quando os candidatos subiram de tom, tiveram queda nas pesquisas. O recado era "menos, gente". Lula venceu com grande vantagem, demonstrando que a opção do eleitor não foi fortuita. Mas o eleitor disse: "Não quero perder os avanços que nós temos devido a luta política tumultuada".
Folha - Não foi só luta política. Houve escândalos de corrupção sérios. Houve o dossiegate. O sr. acha que a imprensa exagerou?
Franklin - Falando ainda como jornalista, não como ministro, a imprensa cumpriu um papel importante no primeiro momento da crise, forçando a realização das CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito). De certa forma, pautou os primeiros momentos. Trouxe à tona o caixa dois, os recebimentos de dinheiro por parlamentares. Entretanto, a partir de determinado momento, era preciso avançar e responder a uma questão crucial que eu repetia como um mantra nos comentários: "De onde veio o dinheiro do valerioduto?" Por quê?Essa resposta permitiria que a investigação desse os passos seguintes. Hoje, não contamos a história. Há a suspeita. Evidente que o dinheiro do valerioduto foi para maior número de parlamentares do que o apontado pela CPI. O dinheiro havia sido aplicado para financiar troca de partidos, uma hipótese bastante plausível. Por que a CPI não quebrou o sigilo desses parlamentares? Não houve da parte da CPI esse interesse. E a imprensa não fez uma investigação independente para saber de onde veio e para onde foi o dinheiro do valerioduto, o que permitiu que o processo ficasse apenas com aparência de discurso político. A partir de um determinado momento, a imprensa parou de pautar a CPI e passou a ser pautada pela CPI. Prevaleceu não a investigação, mas o discurso. E a população percebeu isso e se afastou, o que é ruim, pois nos afastou de conhecer melhor e mais o que aconteceu.
Folha - Colocar numa mesma pasta a verba publicitária do governo e a relação com a imprensa não traz o risco de tentativa de manipulação política da mídia?Franklin - Traz. Viver é muito perigoso, como dizia Guimarães Rosa. Risco sempre existe, mas não é um risco novo. Em todos os Estados da Federação, é assim. No governo federal, sempre foi assim. Já tivemos casos em que o porta-voz do presidente [diplomata Sérgio Amaral no governo FHC] era também quem controlava a verba de publicidade. E não houve nada demais.
Folha - No segundo mandato, FHC separou as funções. E Lula as deixou assim no primeiro mandato.
Franklin - O Sérgio Amaral controlou a verba de publicidade e isso não resultou em coisa escusa, malandragem. Não houve nada.
Folha - Separar publicidade e imprensa não é uma fórmula mais imparcial?Franklin - A maioria esmagadora dos recursos de verba publicitária é das estatais. O governo não controla. As campanhas de publicidade do governo têm uma dimensão política e técnica. Vou indicar alguém da minha absoluta confiança, íntegro e com conhecimento do mercado de publicidade, com experiência de trabalho executivo, para cuidar da parte técnica. Serei responsável em última instância. Na dimensão política, deve-se discutir qual o sentido da campanha que o governo realiza ou vai realizar. Se há dúvidas sobre um programa social do governo ou uma medida do governo, talvez caiba uma campanha para esclarecer melhor. O acompanhamento da mídia é fundamental para sentir, por exemplo, se há dúvidas sobre o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Colhe-se isso também na relação com a imprensa, que expressa as mais variadas posições da sociedade. Uma eventual inflexão da propaganda poderá esclarecer tais dúvidas.É um conceito de unificação da comunicação do governo, não é para misturar dois guichês. Os guichês serão absolutamente separados. As empresas de comunicação no Brasil, de modo geral e em sua maioria, são empresas sérias. Não aceitariam misturar os guichês. Eu sou uma pessoa séria e não aceito misturar os guichês. O governo é sério e não aceita misturar os guichês.
Folha - Concorda com as teses do PT de que é preciso democratizar os meios de comunicação? Acha que deve ser estimulada a criação de veículos de comunicação simpáticos ao governo, dando-lhes financiamento oficial direto ou indireto?
Franklin - Essa questão de democratização dos meios de comunicação é uma fórmula na qual cabe tudo. Sou a favor, óbvio. Quanto mais democrática e plural a circulação de idéias na sociedade, melhor. Mas não cabe ao governo plantar, regar e colher órgãos de comunicação simpáticos a ele. Quem cria órgãos de comunicação é a sociedade. O governo tem uma função na relação com a imprensa: garantir a liberdade de imprensa. Ponto. O resto é a sociedade quem faz.
Folha - A rede pública de TV não corre risco de virar uma nova Radiobrás ou TV Voz do Brasil? Ela é necessária?
Franklin - É necessária. A intensidade com que essa discussão surgiu mostra que o país estava precisando discutir isso. Em qualquer discussão que se inicia, as posições, às vezes, vêm truncadas. Esse processo ajuda a avançar. O governo não pretende criar uma TV do governo, estatal. Mas estimular, fazer crescer e dar forma a uma rede pública de TV.
Folha - Com qual formato em termos editoriais, de gestão e de financiamento?Franklin - Não vai funcionar guiada pela questão comercial. Isso coloca limitações para uma série de TVs que necessitam adquirir uma determinada escala de audiência e respondem a estímulos comerciais porque são empresas que visam lucro. Essas TVs privadas não podem entrar em determinadas áreas, fazer determinadas programações, que são importantíssimas.
Folha - Mas não é importante ter audiência?
Franklin - É importante. Estou falando de escala de audiência. Não tem obrigação de concorrer para liderar o horário nobre. Na Inglaterra, na época em que fui correspondente, havia duas TVs públicas, BBC 1 e BBC 2, e dois canais privados, ITV e Channel Four. A BBC 1, com programação mais educativa, competia com o Channel Four. A BBC 2, com a outra, que tinha programação mais comercial. A BBC 1 tinha audiência de seis e sete pontos, o que é um índice bom. Essa situação ajudava a melhorar o padrão de produção de todas as TVs. Os mecanismos de gestão e de financiamento devem ser discutidos e feitos com base na experiência exitosa de outros países e aqui, como a TV Cultura, por exemplo.
Folha - Quem vai escolher a diretoria?
Franklin - Evidentemente, a escolha inicial parte do governo. Mas o governo não precisa escolher os partidários do governo. Não existe ainda um formato definido. A discussão ainda não está madura. O que senti na conversa com o presidente é uma TV pública e não estatal. Plural e não partidária. Aberta para contribuição e presença das diferentes identidades regionais e não com uma programação de uma cara só. [Deve ter] programação variada, com jornalismo, com parte cultural voltada para cidadania.Isso é diferente da Radiobrás, que tem um papel que deve continuar, funciona como uma agência noticiosa do governo. Nesse aspecto, a gestão do Eugênio Bucci foi importante, sem caráter de chapa branca. Tanto que convidei-o para permanecer na Radiobrás. E ele ficou de me dar a resposta.
Folha - O governo deverá colocar recursos vinculados, haverá possibilidade de corte no orçamento dessa rede pública?
Franklin - Honestamente, ainda não tenho idéia. O governo vai ter de botar verba. Há discussões se vale a pena trabalhar com patrocínio privado, como existe na TV Cultura. Não publicidade comercial. Os modelos de financiamento e de gestão devem ser discutidos. Será bom para o Brasil ter uma TV pública.No Brasil, a gente se assusta com tudo que significa mudança, modernidade e novidade. Depois, descobre que é muito bom. Não sei por que o Brasil se assusta com a possibilidade de ter uma BBC.
Folha - As primeiras reações de parte dos veículos privados têm sido de reticência.
Franklin - Foram reações próprias de um debate inicial. Editoriais, como os da Folha, criticavam a TV do governo, mas, se for uma TV pública, a coisa muda de figura. Podemos discutir. Isso é parte do debate político. Estamos saindo de um momento muito tumultuado de disputa política. Passou a ser óbvio, de entrada, desqualificar a outra posição para não ter que entrar no mérito da discussão.O que mais quero como ministro da comunicação social é ajudar a qualificar o debate político, o debate público. Liberdade de imprensa não é só informar, mas também qualificar o debate público. Fazer com que se exprimam as diferentes posições da sociedade, que se choquem, e a sociedade escolha a melhor. Pode haver gente tão a favor da liberdade de imprensa quanto eu, mais a favor não tem. Meu pai foi jornalista e preso na ditadura Vargas por não aceitar o autoritarismo. Eu passei a minha juventude lutando contra a ditadura [militar de 1964]. A liberdade de imprensa é o nome que se dá ao direito de a sociedade ser informada.
Folha - Como diz o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, a Constituição deseja que a imprensa seja livre, não determina que seja justa.
Franklin - Isso. Quando a imprensa não é justa, ela paga um preço. Não é o Estado que paga. Paga pela crítica feita a ela pela sociedade. A imprensa também não está numa redoma. O presidente pode ser criticado, o ministro pode ser criticado, o papa pode ser criticado, a imprensa pode ser criticada e será criticada sempre que avançar o sinal. Quando ela avança o sinal? Quando vai além do trabalho de dar informação, de fazer circular a informação e de aumentar o debate público. Quando pretende puxar a sociedade pelo nariz para um lado e para o outro. Essa não é uma função da imprensa.
Folha - O sr. identifica veículos que avançam sinal hoje?
Franklin - A sociedade pode fazer essa crítica. Não sou eu quem devo fazer. Evidente, nesse período de crise, teve gente que se comportou de uma forma, teve gente que se comportou de outra. Dentro de nossas redações, há jornalistas que foram mais longe. Eu sempre disse que seríamos julgados pelo nosso comportamento, o que é positivo, não é ruim. A imprensa sairá melhor e já está saindo melhor dessa crise do que entrou. Como o governo está saindo melhor do que entrou. A crítica é o que faz pessoas crescerem desde que elas consigam perceber o que fizeram de errado. E quem critica a imprensa e muda a imprensa é a sociedade, não é o governo. Não é o leitor. O leitor de um jornal pode até estar gostando desse jornal. Mas o debate na sociedade pode levar aquele leitor a perceber que não era bem assim.
Folha - Como ministro, o sr. manterá o processo contra o jornalista Diogo Mainardi?
Franklin - Vou manter.
Folha - Por quê?
Franklin - Não estou fazendo nada contra a liberdade de imprensa. Manter o processo contra esse senhor não tem nada a ver sobre o que eu penso ou o que ele acha que eu penso. É um direito que ele tem. Isso não discuto. Entrei com processo contra ele porque ele me acusou de crimes. Me acusou de ter praticado tráfico de influência e de ter participado da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa.Fez essas acusações sem nenhum elemento. Mais do que isso, ele e a revista dele ["Veja"] se recusaram a publicar a minha resposta, a minha explicação. Que liberdade de imprensa é essa na qual um lado fala e sequer publica o outro lado. Fiz o que se faz em qualquer estado de direito. Quando acha que sua honra foi atingida, recorre à Justiça. Quem pode definir se essa honra foi atingida? Eu? O colunista da revista? Não, a Justiça. No processo, peço que seja publicada a minha resposta e peço reparação por danos morais.
Folha - Como ministro, não ganhará mais peso esse processo em seu favor?Franklin - A Justiça não vai agir assim porque sou ministro. Pelo ritmo no Brasil, a Justiça só terá julgado esse processo depois que eu deixar de ser ministro. Ele terá toda a oportunidade de provar que todas as acusações de que cometi crimes são verdadeiras. E, se for isso, quem vai ficar mal sou eu.Ele também pode, se quiser, dizer: "Eu errei. Volto atrás". Mas hoje em dia pega mal para ele. Acho que dificilmente o fará. Não vou abrir mão de defender a minha honra da única forma num estado de direito, que é ir à Justiça.
Folha - Esse episódio foi determinante para o seu afastamento da função de comentarista do "Jornal Nacional" e da saída da Rede Globo?
Franklin - Não. Eu já havia deixado de ser comentarista do "Jornal Nacional". A direção da TV Globo chegou à conclusão de que deveria tirar toda e qualquer opinião do jornal porque ele era basicamente informativo.
Folha - E em relação à saída?
Franklin - Fiz essa pergunta à direção, e eles disseram que não. A alegação que me deram é que eu estava com imagem fraca como jornalista, muita gente não me conhecia. Eu disse a eles que achava que a explicação não me convencia. A pergunta tem de ser feita à TV Globo.
Folha - O sr. tem mágoa da Rede Globo e de sua cúpula atual?
Franklin - Não. Tive oportunidades profissionais fantásticas na TV Globo. Trabalhei lá durante oito anos e meio. Fui comentarista dos principais jornais. Participei do núcleo que coordenou a cobertura das eleições de 2002, que foi um marco na história da TV Globo. Fui diretor de jornalismo em Brasília, sempre com uma relação excepcional com a Central Globo de Jornalismo. Portanto, sou grato à TV Globo. Aconteceu uma coisa que não entendo.
Folha - Como o sr. pretende se relacionar com a Globo?
Franklin - Digo sempre que não vou olhar para trás. Quem olha para trás vira estátua de sal. Tenho muitos amigos na Globo. Deve haver pessoas que não gostam de mim. Será um relacionamento profissional.
Folha - Qual é a sua avaliação da cobertura da imprensa de modo geral a respeito do governo Lula?
Franklin - Vou falar como acho que deve ser daqui para frente. Profissional, séria, crítica, sem preconceito.
Folha - O sr. está proibido de entrar nos EUA por causa do sequestro de Charles Elbrick?
Franklin - É uma versão que corre, provavelmente verdadeira. Mas nunca pedi visto para o governo americano, até porque imagino que não me dariam. Outras pessoas que estiveram na mesma situação que a minha, de seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, receberam sinais de que não conseguiriam.
Folha - O sr. vai com Lula para Washington no final do mês?
Franklin - Não sei. É uma questão secundária. Tanto os Estados Unidos quanto eu sobreviveremos a esse detalhe.
Folha - O sr. participou da luta armada contra a ditadura militar de 1964. Como avalia hoje aquele período? Valeu a pena? Foi o melhor caminho? Arrepende-se de algo? Faria diferente?
Franklin - Faria muitas coisas diferentes com a visão que tenho hoje. Não me arrependo do que é central. Lutei do lado certo. Lutei do lado da democracia contra a ditadura.
Folha - O manifesto dos seqüestradores do embaixador falava em matar carrascos e torturadores do regime militar. O que acha disso hoje?
Franklin - Fica difícil discutir porque hoje não existe uma polícia como um instrumento de opressão política do Estado sobre as pessoas. Hoje, as pessoas fazem oposição livremente, falam livremente. Naquele época, quem fizesse oposição ao regime estava sob o risco de ser preso, torturado e morto. Eram outras circunstâncias, circunstâncias de guerra.Com todas as suas diferentes nuances, o povo brasileiro superou a ditadura militar. Participei das manifestações estudantis de 1968 que praticamente inviabilizaram o modelo de ditadura que eles tinham. Então, partiram para o terrorismo de Estado aberto. Em 1974, a vitória do MDB, inviabilizou o terrorismo de Estado. As diretas, em 1984, inviabilizaram a distensão que pretendia manter uma ditadura sob controle. Estive do lado certo. Tenho o maior orgulho de ter lutado. Tenho um certo pudor de bater no peito e ficar proclamando, parece que estou contando vantagem.Tenho o maior orgulho de ter lutado contra a ditadura. Posso contar tudo o que fiz, inclusive os meus erros, para os meus filhos, os meus netos, discutir abertamente na sociedade.Os que estiveram do outro lado não podem. Vivi na clandestinidade cinco anos e meio. Vivi cinco anos e meio no exílio. No entanto, não vivo mais na clandestinidade. Muita gente que torturou e matou é clandestina até hoje, até para a sua família.
Folha - O sr. foi preso e torturado?
Franklin - Fui preso durante dois meses, mas não fui torturado. Saí um dia antes do AI-5 [ato institucional número 5, de 13 de dezembro de 1968, que suspendeu direitos políticos e tornou mais bruta a ditadura militar de 1964]. Se estou aqui até hoje, é porque sou um sujeito que teve muita sorte.
Folha - O sr. participou de alguma ação em que morreram pessoas? Matou alguém?
Franklin - Não, não.
Folha - Nas eleições, Lula chegou a dizer que desejava um acordo com a oposição, encontrar uma agenda comum. É possível haver algum entendimento entre PT e PSDB, duas forças com algumas características em comum, mas que se digladiam?
Franklin - No auge da crise, o Brasil correu o risco de perder uma coisa que ele construiu quase sem saber. E poderia ter perdido sem saber que construiu, que é uma agenda política comum nacional. Essa agenda tem cinco pontos. O primeiro é a democracia. Vamos resolver nossos problemas pela via democrática. Queremos eleições, queremos respeito aos direitos e garantias individuais. A oposição tem o direito de fiscalizar, mas não tem o direito de impedir o governo de governar. O governo tem o direito de governar, mas não tem o direito de impedir a opinião de se expressar. Se há uma direita no Brasil, o que se discute [risos], ela é mais democrática do que era antes. A esquerda é mais democrática do que era antes. O segundo ponto é a moeda. Queremos estabilidade monetária. Houve uma época em achávamos que podíamos conviver com a inflação alegremente graças ao overnight, ao gatilho salarial, à escala móvel de salário. O preço estamos pagando até hoje.Terceira questão: responsabilidade fiscal. Não basta o governante ir gastando e pendurar a conta no cabide ali em frente. Temos de ter seriedade com o dinheiro público. Quarta questão. Tudo isso é muito importante, mas é preciso crescer, gerar emprego, gerar oportunidades para a juventude. E a quinta é que não basta crescer. Temos de combater a exclusão social. Essa agenda vem sendo construída ao longo do tempo. Parte dela foi construída durante a ditadura. Parte no governo Fernando Henrique Cardoso. Parte no primeiro governo Lula. Essa agenda corresponde a um pensamento de 70% a 80% das forças políticas do país. A vantagem disso é que a luta política pode se dar num terreno razoavelmente delimitado. Nessa crise, quase jogamos isso pela janela. Se a crise tivesse ido um pouquinho mais longe e se o povo brasileiro não tivesse dito "calma, pessoal, eu não quero perder essa coisa".
Folha - O que seria ter ido mais longe? A oposição patrocinar o impeachment do Lula? O Lula tentar dar uma guinada autoritária?
Franklin - Sim. Por que não partiram para o impeachment? Por que o Lula não endureceu? Porque a sociedade disse: "Não quero". Temos essa agenda comum. Grandes programas que começam a dar certo são apoiados por muito mais partidos do que os que estão no governo. O Bolsa Família era tido como uma "Bolsa Esmola". Hoje, a maioria das forças políticas reconhece que é um vigoroso programa de transferência de renda que deve ser mantido e aprimorado. É uma conquista que não dá para abrir mão. O atual programa de melhoria da qualidade da educação incorpora coisas que vieram do governo FHC. Nos últimos 25 anos, construímos coisas em comum e quase jogamos fora na crise.
Folha - Lula se queixa de FHC ter sido muito duro com ele na crise. FHC se queixa de Lula não ter mantido a cordialidade a que ele deu início com a transição de governos. O sr. acha que eles deveriam se encontrar e conversar?
Franklin - Os dois precisam conversar. Seria muito bom para os dois e para o país, mantendo as opiniões e divergências. Esse negócio de agenda comum não é aderir ao governo. A oposição está na oposição por vontade do eleitor. O governo está no governo porque o eleitor mandou. Cada macaco no seu galho. E, do seu galho, cada um pode conversar com o outro.
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