28 novembro 2007

200 CHIBATADAS

RUY CASTRO

Em Qatif, Arábia Saudita, na semana passada, uma jovem de 18 anos foi condenada a seis meses de prisão e 200 chibatadas por ter sido estuprada por sete homens. Você não leu errado. Para o tribunal saudita, a culpa foi da própria moça, por ter ido se encontrar num shopping com um homem "que não era seu parente".
Para nossa sensibilidade ocidental, uma história dessas remete a ritos medievais e inaceitáveis. Mas a desdita da garota de Qatif podia ser pior. E se ela tivesse de cumprir seus seis meses de prisão numa cela brasileira?
A sina da menor L., de 15 anos, presa durante 26 dias numa cela em Abaetetuba, 130 km de Belém, junto de 30 homens que a estupravam, provocou reações internacionais piores do que a da garota saudita - pela dimensão da barbárie, ainda maior, e porque a Justiça brasileira, a quem cabia zelar pela integridade de uma adolescente sem culpa formada, fracassou miseravelmente.
Sem falar nos agravantes cruéis. Primeiro, L. foi jogada àqueles homens pela ação de uma delegada. A Justiça paraense levou 15 dias para descobrir que a menina estava na cela, mas a juíza a quem se informou do caso não tomou medidas efetivas para tirá-la dali. Com a história definitivamente à tona, a governadora do Estado admitiu saber que aquele não era o primeiro caso do gênero no Pará - embora, pelo visto, ainda não tivesse tomado providências para impedi-los de acontecer. Por sua vez, a titular de uma teórica Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, com status de ministra, confessou que não sabia da existência desse problema em carceragens pelo país.
Poderiam ser homens os protagonistas dessa insensibilidade tão brasileira - geralmente são - e seria tão grave quanto. Só faltam agora condenar L. a 200 chibatadas.

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