Folha de S. Paulo
Presidente fez a afirmação a platéia de militantes negros e de quilombolas
De acordo com ele, há uma possível discriminação por parte dos universitários atendidos pelo programa de bolsas de estudo do Prouni
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou ontem, em discurso no Dia da Consciência Negra, que quando o governo faz algo que beneficia os pobres gera "ciumeira".
"Toda vez que a gente tenta ajudar os mais pobres, aparece uma ciumeira. As pessoas não estão perdendo nada, só não querem que os pobres cheguem igual a eles", disse em cerimônia no Palácio do Planalto que contou com a presença de quilombolas, militantes do movimento negro e diversos ministros, entre eles Gilberto Gil (Cultura), Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) e Orlando Silva (Esporte).
Lula mencionou uma possível discriminação que estariam sofrendo os alunos do Prouni, programa em que o governo dá bolsas para alunos carentes em universidades privadas.
"Eu sei que já tem universidade no Brasil em que companheiros negros estão sendo admoestados porque são negros e estão estudando de graça, e do lado tem um branco, como eu, pagando. Isso cria fissura." Ele atribuiu o fato a uma "questão cultural". "É uma questão que está impregnada no nosso cérebro e isso leva tempo para mudar, leva muita conversa, não é uma coisa do dia para a noite."
Referindo-se aos ataques à política de cota racial, encampada por seu governo, disse que "as pessoas da boca para fora são todas democráticas, todas igualitárias, tudo é moderno, mas, na hora em que chega na partilha do pão, tem cara que quer mais pão que o outro, não quer dividir, não quer repartir".
Ele chamou de conservadores os críticos do programa de expansão das vagas em universidades federais -os setores do movimento estudantil que atacam o projeto afirmam que a expansão, da forma como está sendo feita, comprometerá a qualidade do ensino.
"Tem gente que não quer [aumento de vagas] por quê? Porque neste país tem gente que já comeu ou está comendo, e aí fala: "Dane-se aquele que não comeu". Para que pobre quer entrar aqui? Para que tem que ter curso à noite?" Lula chamou esses críticos de "companheiros com posições que parecem esquerdistas, mas que são mais conservadores do que o mais conservador do mundo".
O presidente condenou as divisões no movimento negro, que apontou como um dos motivos da demora da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial no Congresso. "Se entra uma turma pela Câmara, a outra pelo Senado, uma brigando com a outra, é tudo que um político deseja: não se meter em encrenca dos outros."
Ele disse aos militantes do movimento negro na platéia que eles têm que cobrar mais o governo. "Aproveitem que tenho três anos de mandato e cobrem", afirmou. "Quanto mais vocês cutucarem a Matilde, mais ela vai me cutucar e a somatória dessa "cutucação" é que vocês vão ter mais conquistas até o final do nosso mandato."
Lula anunciou um pacote de medidas para remanescentes de quilombos nas áreas de saúde, educação e demarcação e titulação de terras. As ações receberão R$ 2,1 bilhões.
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