27 novembro 2007

"FAÇA O QUE DIGO, MAS NÃO FAÇA..."

PASQUALE CIPRO NETO

No Congresso do PSDB, FHC disse que Lula não domina a língua. FHC quis dizer que Lula não domina a variedade padrão. Até aí, nenhuma novidade. O próprio Lula sabe disso e não nega essa "deficiência". Nesta semana, diante de empresários alemães, Lula disse "os empresários espanhol". Que os falsos defensores dos fracos e oprimidos não venham dizer que Lula apenas empregou a variedade de língua dominante no Brasil. Pura balela, já que a maioria dos brasileiros diria "os empresário espanhol". A língua coloquial dispensa o plural redundante (no caso, a flexão da totalidade dos elementos que se referem ao substantivo).
E o tucanato? É sempre primoroso no uso do padrão formal? A julgar pelo "melhor educados" de FHC... A coisa não é tão simples. Na língua literária, não faltam registros de "melhor" como modificador de particípio. O "Aurélio" arrola exemplos de clássicos da literatura. O "Houaiss" diz que, "diante de um particípio, é vernáculo empregar mais bem".
Quando o particípio tem duas sílabas, não se ouve nem se lê algo como "O jogador melhor pago". Quando tem mais de duas sílabas, a oscilação é patente: ora se ouve/lê "A equipe mais bem treinada", ora se ouve/lê "A equipe melhor treinada". A língua formal moderna parece preferir a primeira construção, em que se entende o "mais" como modificador de todo o bloco "bem + particípio" ("O atleta mais bem remunerado"). FHC teria feito melhor se tivesse optado por "mais bem educados".
Talvez fosse o caso de perguntar se cabe um hífen em "bem educados". Depende. Com hífen, tem-se um sinônimo de "que tem bons modos" etc. Sem hífen, julga-se o modo como as pessoas são educadas. "Mais bem educados" significa "educados de modo mais eficiente"; "mais bem-educados" significa "mais gentis". Que terá querido dizer FHC? Talvez nem ele nem Lula saibam responder... É isso.

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