17 novembro 2007

DR. FANTÁSTICO E NÓS

IGOR GIELOW

O país assiste a uma discussão sobre o papel das Forças Armadas com uma franqueza não vista desde a redemocratização.
O problema é que estamos no Brasil. Logo, a chance de o reequipamento militar se transformar em alguns reajustes salariais e compras feitas sem viés estratégico é grande.
E toda a preocupação com Hugo Chávez, que é justificada apesar de não haver perigos imediatos, poderá se transformar em desculpa para gastos pouco transparentes e discurso estridente e inócuo da dita oposição.
Há confusões conceituais. O ministro Jobim, por exemplo, defendeu um equipamento estrategicamente vital, o submarino nuclear.
Só que o faz pregando a defesa de campos petrolíferos do terrorismo.
Como o ataque por uma pequena embarcação no Iêmen ao destróier USS Cole, em 2000, demonstrou, o perigo terrorista nos mares só pode ser detido com embarcações mais leves de superfície, ágeis e bem armadas. Pelo menos pararam de pedir porta-aviões.
A decorrência do debate, e já há sinais disso, será um tema tabu: a bomba atômica. É lícito, embora o politicamente correto vá enterrar quem o fizer, discutir à luz da realidade do século 21 a necessidade, ou não, de possuir o único método de dissuasão realmente efetivo.
Debater não significa defender a bomba. Se alguém tem saudade da Guerra Fria, que alugue o DVD de "Dr. Fantástico" (Stanley Kubrick, 1964). A idiotia da "destruição mutuamente assegurada" é dissecada nessa comédia em que o mundo acaba devido a paranóias militares personificadas no cientista (Peter Sellers) que dá título ao filme.
A pior coisa que pode ocorrer por aqui é uma corrida atômica, com Chávez dividindo conhecimentos não exatamente pacíficos com iranianos, animando o Brasil a fazer algo mais com seu programa nuclear - por sinal, militarizado. Paranóia? Hoje, sim. Hoje.

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