22 novembro 2007

DIVIDIDO, PSDB DISCUTE SEU FUTURO

SILVIO NAVARRO/JOSÉ ALBERTO BOMBIG

No 3º Congresso tucano, partido já fala em fazer prévias para definir candidato à Presidência em 2010

"O partido não pode ter constrangimento com isso. Se não houver composição vamos às prévias e ponto", diz deputado Gustavo Fruet

Após duas derrotas consecutivas na disputa pela Presidência, o PSDB inicia hoje um congresso para reformular suas diretrizes partidárias em meio a contradições com antigas bandeiras, dívida milionária na praça e uma queda-de-braço entre os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) que deve se estender até 2010.
O 3º Congresso do PSDB, que será seguido pela 9ª Convenção Nacional da sigla, em Brasília, acaba amanhã com a eleição do senador Sérgio Guerra (PE) para suceder Tasso Jereissati (CE) na presidência. Sua gestão vai durar dois anos, nos quais será definido o processo de escolha do candidato ao Planalto.
A três anos da eleição, já se fala abertamente no partido que o embate acabará em prévias: "Deixei a solução apontada: vamos fazer primárias", disse Tasso. A tendência é que a tese das prévias seja testada em 2008 em João Pessoa (PB). "O partido não pode ter constrangimento com isso, não pode ter receio nem tratar com dedos. Se não houver composição vamos às prévias e ponto", disse o deputado Gustavo Fruet (PR), escolhido por Guerra para ser seu vice imediato no partido.
Nesse cenário de "bomba-relógio", a escolha de Sérgio Guerra foi estratégica. De perfil conciliador, mantém boa relação com os dois governadores, mas não é considerado alinhado a nenhum deles. Foi coordenador da campanha de Geraldo Alckmin (SP) em 2006. "O Sérgio não tem identidade nem com Serra nem com Aécio e ele constrói diálogo porque não tem um projeto pessoal nacional", avaliou Fruet.
A divisão dos cargos no partido foi marcada por disputas entre Serra e Aécio. Com o apoio da ala "serrista", o ex-prefeito de Vitória (ES) Luiz Paulo Vellozo Lucas ganhou a disputa ontem com o deputado federal Paulo Renato (SP) pela presidência do Instituto Teotônio Vilela. Em retaliação, Paulo Renato descartou assumir qualquer cargo na Executiva: "Tenho que aceitar a decisão, mas não aceito os métodos. Não se pode desrespeitar assim".
Houve briga para diversos postos, da secretaria-geral, que ficará com o "afilhado político" de Aécio, deputado Rodrigo Castro (MG), à Secretaria de Juventude, que ficará com Bruno Covas (SP). No caso desse último, a disputa foi acirrada com o indicado de Aécio, Geovani Pereira (MG), e um nome da cota do senador Marconi Perilo (GO), Leonardo de Souza.
Quem assume um posto espinhoso é o deputado Márcio Fortes (RJ), que herdará a tesouraria com uma dívida de cerca de R$ 20 milhões deixada só pela campanha de Alckmin.
A nova direção lidará com uma lista de conflitos sobre antigas bandeiras, como a reeleição, a CPMF e as privatizações de Fernando Henrique Cardoso. Criada quando FHC era ministro da Fazenda e recriada em sua primeira gestão na Presidência, a CPMF hoje é criticada pelos tucanos. A emenda que permitiu a reeleição passou no governo FHC e, hoje, a maioria do partido defende sua extinção com a ampliação do mandato para cinco anos.
No caso das privatizações, o manifesto do partido fala em defendê-las como legado, mas o tema é problemático especialmente na bancada da Câmara. Na eleição, o discurso de que o PSDB privatizaria o Banco do Brasil e a Petrobras atingiu em cheio Geraldo Alckmin.
Tucanos avaliam que haverá novo racha na escolha do novo líder da bancada na Câmara. O deputado José Aníbal (SP) pleiteia o posto, mas, apesar de ter se reaproximado de Serra, não é homem de sua confiança.


IDÉIAS DO PSDB

Documento de atualização do programa do Partido

PRIVATIZAÇÕES
"O PSDB não é privatista nem estatista. Apoiamos as privatizações no passado porque sem o aporte de capitais e métodos de gestão privados seria impossível expandir indústrias e os serviços de telefonia e energia. Os bons resultados provam que estávamos certos"

MÁQUINA
"Partido como o nosso não dispõe de "máquinas" eleitorais movidas com dinheiro público nem se subordina ao imediatismo de interesses privados"

HERANÇA
"Por elas [conquistas] lutamos dia a dia, anos a fio, contra a incompreensão e intransigência dos mesmos que hoje colhem seus frutos e posam de seus donos, sem por isso deixar de amaldiçoar nossa herança com palavras e, o que é pior, dilapidá-la com atos"

BOLSA-FAMÍLIA
"Programas não bastam para tirar as pessoas da pobreza, principalmente quando não se combinam a outras políticas que ajudem as pessoas a caminhar com as próprias pernas"

APARELHAMENTO
"Resgataremos eficiência e transparência da administração pública onde ela foi capturada pelo "aparelhamento" partidário, o clientelismo e a corrupção"

CRESCIMENTO
"Crescimento medíocre ao qual os atuais governantes se apegam como grande êxito limita capacidade de continuar combatendo a miséria e distribuindo renda de maneira sustentada"

CORRUPÇÃO
"Nossa luta contra a insegurança começa por um pacto do PSDB consigo mesmo: tolerância-zero com a corrupção"


Manifesto de tucanos tem o PT como alvo

Elaborado a título de "manifesto" para atualizar o conteúdo programático do partido, o texto base do Congresso do PSDB contém críticas em série ao PT, citando o mensalão, aparelhamento da máquina e cobrando que "nunca mais os fins justifiquem os meios ilícitos dos militantes".
No texto de 20 páginas, elaborado pelo deputado José Aníbal (SP) e por Eduardo Graeff, ex-secretário da Presidência, os tucanos demonstram que apostam em nova polarização com o PT em 2010 e fazem referência velada à tese do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Ambições futuras podem vir a golpear a democracia, como ocorre em países vizinhos onde o continuísmo de pseudo-valores desvirtua as regras da verdadeira representação e participação popular", diz.
Ao falar de futuro, os tucanos também miram o governo petista. "Um partido como o nosso não dispõe de máquinas eleitorais movidas com dinheiro público."
Apesar de ter sido redigido em acordo com lideranças do partido, o texto deverá sofrer ajustes hoje. Um dos pontos será levantado pelo atual presidente da sigla, Tasso Jereissati (CE), que cobra um capítulo sobre propostas de desenvolvimento regional.
Também há críticas entre os deputados e senadores de que não há propostas claras sobre políticas de reforma agrária, segurança pública nem um modelo de reforma tributária.
No campo econômico, o texto do PSDB fala em redução urgente dos gastos correntes e dos juros, desoneração tributária e busca de capital privado.


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Como era esperado, esta aí mais uma conquista de Gustavo Fruet.
Sem dúvida, é hoje um dos parlamentares paranaenses mais influentes no cenário político nacional.

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