22 novembro 2007

EDUCAÇÃO POR DINHEIRO

Rosely Sayão

Um leitor, certa vez, contestou meu costume de repetir à exaustão que considero o ato de educar tarefa bastante árdua. Pediatra, ele disse que esse conceito poderia deixar pais e professores intimidados com sua função educativa e, dessa maneira, inibir ainda mais suas já tímidas atuações. Devo dizer que dialoguei com essa oposição por muito tempo.
Será que apontar um trabalho como árduo poderia fazer as pessoas desistirem dele em vez de o tomarem como desafio? Ainda não me convenci de que não é produtivo dizer aos pais e professores que educar é tarefa árdua, pois ela o é. Podemos constatar, entretanto, que os educadores, de um modo geral, não acreditam que os mais novos possam criar um desafio frente a exigências rigorosas.
Foi nisso que pensei quando li recentemente uma notícia sobre alunos de uma faculdade paulista que receberam a promessa de um prêmio econômico em troca do comparecimento e de boas notas no Enade. Não fiquei muito espantada com o fato, para falar a verdade. Já faz tempo que tenho conhecimento da oferta de pequenos prêmios a universitários em troca de sua dedicação aos estudos. Uma professora, por exemplo, contou que leva bombom de chocolate para dar aos alunos que fizerem os exercícios propostos em aula; outra tem levado pastilhas aos alunos que ficam com sono e dormem durante a exibição de vídeos da matéria que leciona. Por que a oferta de prêmio em dinheiro seria diferente disso?
O fato é que essa prática pode evidenciar que não estamos convencidos de que os mais novos queiram, possam e devam empregar altas doses de esforço e energia a não ser em algo que lhes dê prazer imediato. Não temos convicção de que eles possam descobrir algum prazer no trajeto da empreitada. Não admitimos que eles tenham condição para tanto.
Pode ser que a adoção dessa prática nada tenha a ver com crianças e jovens, mas com os próprios educadores. Talvez eles não acreditem na potência do ato educativo, não confiem em sua capacidade de mediar positivamente a relação de quem aprende com a aprendizagem, não se vejam capazes de provocar desafios.
De qualquer modo, deixamos de exigir dos mais novos e passamos a querer comprar suas atitudes. Pais e professores fazem o mesmo, com filhos e alunos de todas as idades, não apenas os universitários. Vamos fazer uma breve retrospectiva: pais cujos filhos estão próximos do exame vestibular oferecem prêmios - não raro um carro ou uma viagem ao exterior - para que eles se dediquem aos estudos e entrem numa boa faculdade. Filhos menores sempre podem ganhar um dinheirinho ou um presente para dar conta de obrigações familiares e/ou domésticas, como levar o cachorro para passear ou arrumar a cama. Crianças na primeira infância recebem prêmios por "bom comportamento" etc.
Há uma semana falamos sobre atos entre crianças que, no mundo adulto, chamamos de corrupção. Nesse caso, fazem falta a educação e o acompanhamento. Hoje, tratamos de adultos que corrompem os mais novos com ofertas materiais em troca de determinação, dedicação e esforço. Seria falta de quê, neste caso?

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