Escritora e militante, Vicki Robin prega a filosofia da suficiência e ataca o consumismo irracional
Transformações radicais no estilo de vida atual estão no centro das preocupações da Simplicidade Voluntária. A idéia do movimento é que as pessoas consumam menos e melhor, usando o tempo antes gasto para ganhar dinheiro em coisas mais satisfatórias.
A norte-americana Vicki Robin, 62, uma das representantes dessa idéia, esteve em São Paulo para lançar "Dinheiro e Vida" (Cultrix, 424 págs., R$ 45), e deu entrevista à Folha.
Folha - O título original do seu livro é "Your Money or Your Life". No Brasil, a tradução ficou "Dinheiro e Vida". O sentido muda, não?
Vicki Robin - Foi uma escolha pobre, porque no título [Seu dinheiro ou Sua Vida] estamos perguntando: "você está vendendo sua vida por dinheiro?". É diferente. Pensei que a tradução em português não funcionaria, mas funciona bem.
Folha - Antropólogos dizem que a vergonha é uma das expressões mais fortes dos laços sociais. Como isso se manifesta no consumo?
VR - Na publicidade. O que ela faz é tentar vender vergonha. Se você consegue vender a vergonha, vende qualquer coisa, porque bloqueia a subjetividade do espectador, o senso de integridade. A partir daí, você já não é alto ou baixo o bastante. Nos dizem milhares de vezes por dia que não temos o bastante, isso é um impacto cultural. A vergonha delimita o controle social, e nós a usamos para promover o consumismo.
Folha - O que está por trás da maneira como se consome hoje?
VR - Na filosofia dominante, crescimento é sinônimo de progresso. "Amanhã seremos melhores que hoje", e melhor, nesse caso, é "ter mais".
Folha - Como essa visão afeta os indivíduos na prática?
VR - As pessoas pensam que se elas não tiverem mais ficarão para trás. É uma estrutura de pensamento altamente competitiva, porque não diz apenas que "mais é melhor", mas também que ter mais que os outros é o melhor. Estamos mostrando outra filosofia, a da suficiência, de ter o bastante. Ter coisas de que você precisa e gosta, nada mais. Quando você tem o suficiente no nível material, pode redirecionar seus objetivos para amizades, hobbies, coisas que façam a vida valer a pena, além da acumulação.
Folha - Como propor simplicidade num país menos desenvolvido, como o Brasil?
VR - Qualquer um pode ter essa consciência. As pessoas do mundo "sobredesenvolvido" que seguirem essa filosofia criam espaço ambiental para quem não tem o bastante.
Folha - Como ter uma "vida frugal", defendida por você no livro, quando tudo a sua volta pressiona em sentido contrário?
VR - É difícil. Mas há pessoas que têm coisas sem precisar. Há tecnologias que facilitam a vida. Mas você não precisa comprar todo o pacote. Não sou contra tecnologia. Mas as pessoas ficam deslumbradas com as coisas novas.
VR - É o mesmo para qualquer jogo. Numa partida de tênis, se você não sabe onde está a bola, não vai rebater bem. Se você consome e não tem consciência dos benefícios do produto, se ele é mesmo necessário, então está jogando mal o jogo do consumo. Mas é a nossa vida.
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Muito legal a idéia.
Vamos ler o livro?
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