Rodou mundo a cena em que o rei Juan Carlos, da Espanha, mandou o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, calar a boca. "Por que não se cala?", irritou-se ele, interrompendo um jorro de impropérios de Chávez contra o ex-presidente espanhol José Maria Aznar, a quem chamava de "fascista". O rei é adversário de Aznar, mas tudo tem limite.
Apesar disso, é um erro imaginar que o mundo inteiro considera Chávez ditador, maluco ou perfeito idiota. Em recente jantar em Brasília, por exemplo, os amigos José Sarney e Mário Soares monopolizaram as atenções, Sarney atacando, e o ex-presidente de Portugal defendendo o venezuelano.
Num outro jantar, também em Brasília, meses atrás, o assunto era criticar a Venezuela, ridicularizar Chávez e ironizar o seu "bolivarianismo", até o uruguaio Enrique Iglesias, ex-presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), correr em sua defesa. Você acha esquisito Soares e Iglesias defenderem Chávez? Eu também. Mas, para eles, Chávez é uma esperança numa região aviltada pela concentração de renda. Aplaudem os avanços na saúde, na educação, na habitação. A "loucura" seria só na forma, uma tática.
Essa visão, um tanto romântica, condiz com o início do projeto Chávez, produto de uma Venezuela espoliada e corrupta e polido por regras democráticas. Não é demais lembrar que Chávez passou por três eleições/plebiscitos.
O problema do projeto Chávez é o próprio Chávez. Ao falar demais, constranger visitantes estrangeiros e querer se eternizar no poder, ele perde importantes aliados internos e credibilidade externa.
Mário Soares e Iglesias (como parcelas respeitáveis do continente, inclusive no Brasil) aplaudem o projeto original, mas são antes de tudo humanistas e democratas. É gente assim que Chávez afugenta com suas investidas personalistas.
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Como dizia um famoso comercial de TV, que eu adorava: Não tem preço.
Ver o rei Juan Carlos I mandar Hugo Chávez calar a boca, foi demais! Não tem preço.
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