16 agosto 2007

UMA QUESTÃO DE CONCEITO

Wilson Jacob Filho

O tema envelhecimento vem determinando atenção e interesse progressivos, a ponto de ser incluído em muitos eventos científicos e sociais. Tenho percebido progressivo interesse na discussão, por parte dos participantes, de questões mais fundamentadas, diretamente relacionadas à condição do idoso na sociedade e às suas diversas formas de participação ou de exclusão. Recentemente, após uma apresentação sobre os caminhos que permitem maior possibilidade de envelhecer com saúde, uma jovem participante me perguntou como diminuir os preconceitos contra o idoso.
A escassez de tempo, devido ao grande número de inscritos para participar do debate, permitia apenas respostas rápidas. Respondi que, em minha opinião, o conceito sobre o envelhecimento vai se aprimorar quando a maior parte da população estiver convicta de que, na melhor das hipóteses, todos vamos envelhecer. Essa condição de ver o outro como aquele que um dia eu fui ou que em algum momento eu serei permite muito maior identidade e aproxima as condições temporárias de cada um.
Os preconceitos decorrem, fundamentalmente, de um suposto distanciamento atemporal entre as partes. No caso do envelhecimento, elas são elos de uma mesma corrente, e a tentativa de discriminar uma à outra é a melhor maneira de reduzir a sua própria condição de continuidade e resistência. Se essa argumentação parece óbvia, por que permanece tão restrita ao pensar de poucos?
Não é difícil entender. É ainda interessante, para muitos, dividir o ciclo da vida em diversos segmentos, propondo a falsa impressão de que alguns deles possam ser perpetuados e outros, suprimidos. Chegam ao desatino de criar "associações antienvelhecimento" ou de proferir palestras sobre "como ser eternamente jovem". O falso fundamento desses conteúdos é que, para ter um envelhecimento saudável, seja necessário perpetuar a juventude. Isso é uma inverdade que não pode ser aceita à luz do conhecimento atual.
Os inúmeros idosos ativos que conhecemos não são, como muitos argumentam, "produtivos como jovens". São, em verdade, idosos produtivos. Aí reside a verdadeira questão do conceito. Admitir que um idoso ativo é aquele que "produz como um jovem" é uma forma preconceituosa de negar o envelhecimento como uma fase produtiva da vida. O mesmo se aplica a inúmeras outras condições, como a beleza ou a inteligência.
Entendo, obviamente, que as atuais regras de mercado e de divulgação de produtos ainda demorem a se modificar, mas esse tempo será cada vez menor quanto mais conscientes estivermos do que queremos para o nosso futuro. Ninguém, para ser considerado belo, inteligente ou produtivo, precisa ser condenado à juventude eterna. Estou convicto de que, em breve, os idosos poderão ser reconhecidos publicamente como idosos, sem que as suas qualidades sejam desmerecidas. Apenas com conceitos bem fundamentados sobre o envelhecimento saudável conseguiremos reduzir os preconceitos atuais contra o idoso.

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