Carreiras de Estado melhoram rendimentos, o que é positivo, mas burocracia é ineficiente e avessa à modernização
Emdez carreiras do Executivo federal, o aumento real dos vencimentos no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva variou de 15% a 80%, segundo levantamento da Folha. Como são carreiras de nível superior, quase todas exclusivas do Estado (delegados, procuradores, diplomatas etc.), faz sentido uma melhora na remuneração, condizente com as funções desempenhadas.Trata-se de uma maneira de disputar bons profissionais e evitar a cooptação por grupos privados. O maior problema, contudo, não está na elite, mas nos setores de média e baixa qualificação do serviço público, cuja remuneração tende a ser mais alta do que seus similares na iniciativa privada.
Pior: a folha de salários relativamente elevada do funcionalismo federal - a despesa pode ultrapassar 5% do PIB neste ano - contrasta com a má qualidade do serviço prestado à população. O Estado brasileiro é carente de mecanismos de gestão destinados a incentivar o aumento da produtividade dos servidores.
Concepções arcaicas resistem a idéias óbvias como a remuneração de acordo com o desempenho. Ainda fazem parte de experimentos vanguardistas na administração pública brasileira os contratos de gestão, por meio dos quais se estabelecem parâmetros objetivos para medir a execução das tarefas. O órgão que se destaca nesse saudável campeonato recebe um bônus.
Outro foco de resistência à modernização é a batalha contra a gestão de setores da administração por meio de fundações. Bem fiscalizado, esse modelo tem se mostrado mais eficiente do que o tradicional - que acaba protegendo mais os servidores, com estabilidade, aposentadoria integral e outras vantagens- do que os usuários do serviço.
Não há razão para que o Estado dê tratamento especial a carreiras - como a de médico, enfermeiro, professor etc. - que não são exclusivas do setor público. Os hospitais públicos, por exemplo, devem ser capazes de pagar remunerações competitivas no mercado de trabalho, mas também precisam ter à mão instrumentos para cobrar desempenho profissional análogos aos das empresas privadas.
Tímido nos projetos para modernizar a administração pública, o governo Lula mostra-se à vontade para lotear politicamente a máquina federal.
O Estado brasileiro entrou em franca deterioração financeira e operacional com a crise da dívida externa do início dos anos 1980. Deglutir esse imenso passivo custou muito - em tempo e recursos - ao país. A inflação foi debelada a partir de 1994; o descompasso fiscal foi equacionado a partir de 1999; e o desarranjo nas contas externas pôde ser corrigido a partir de 2003. O ambiente se tornou favorável à entrada do Brasil numa nova fase de seu desenvolvimento.
A transformação dessa expectativa em realidade, porém, requer um Estado com capacidade gerencial, que modernize a administração dos seus serviços, corte despesas correntes, amplie gastos em infra-estrutura e diminua o fardo dos impostos sobre a sociedade.
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