AUGUSTO DE FRANCO
Passados 55 meses de desgoverno do PT, já se pode ver por que a "fórmula neopopululista" não funcionou
Esses números são sempre supervalorizados, em especial pelos tolos, pelos não-convertidos à democracia e pelos bandidos.
Entre os tolos que ficam embasbacados com a resiliência da popularidade do nosso chefe populista (como se alguém pudesse sê-lo sem tê-la) estão, é claro, os tucanos. Foram eles os que mais contribuíram para que Lula desse a volta por cima no final de 2005. Se depender deles, nosso líder vai crescer de novo e ainda mais no final de 2007.
Cada resultado de pesquisa favorável a Lula funciona como um reforço negativo para o PSDB. Reforça o eleitoralismo (segundo o qual tudo se decide pela popularidade). Reforça, é inevitável reconhecer, uma certa covardia (segundo a qual não se deve afrontar alguém com tão alto índice de audiência). E reforça uma incompreensão da democracia (segundo a qual quem tem maioria tem sempre legitimidade). Hitler e Mussolini também tinham altíssimos índices de popularidade, assim como Chávez.
Mas os tucanos têm uma dificuldade crônica de perceber padrões.
Entre os não-convertidos à democracia estão os nossos atuais governantes e seus aliados. Entre os bandidos está, infelizmente, boa parte do sistema político: os partidos, verdadeiros domínios - no sentido feudal - dos caciques (e que atuam, não raro, como gangues políticas) e os agentes governamentais e parlamentares (que funcionam em geral como despachantes de recursos públicos para fins privados).
É verdade que, com a ajuda dessa gente, Lula poderia facilmente se recuperar do tropeço atual. Sobretudo porque continua blindado. Sua inimputabilidade autocrática, baseada em índices fujimorianos de popularidade, funciona como guarda-chuva para a impunidade de seus colaboradores.
Fujimori chegou a ser preso (no Chile), mas, como se sabe, até agora não foi punido nenhum membro da quadrilha petista que ocupou o Planalto. Alguém acredita que os tucanos cobrarão providências?
Lula só não se recuperará se uma opinião pública vigorosa disser: "Basta, cansei!". É o que está para ocorrer. Pois, passados 55 meses de desgoverno do PT, já se pode ver por que a "fórmula neopopululista" não funcionou.
Em primeiro lugar, porque o governo não tem visão, não tem proposta e não é capaz de inspirar confiança.
Na ausência desses fatores, aglutinantes indispensáveis de qualquer coalizão minimamente estável de governo, o PT foi obrigado a comprar uma base de apoio com dinheiro (às vezes de forma criminosa, como no mensalão), cargos e outras prebendas, ficando nas mãos de todo tipo de oportunista, predador, corrupto e meliante que veio à política para fazer negócios. Uma base assim conformada é um problema, não uma solução.
Em segundo lugar, porque a governabilidade hoje não depende dessa base de apoio do governo, e sim da oposição. Embora tenha nos ameaçado com uma venezuelização, Lula sabe que só ficará no governo, diante dos atuais questionamentos da sociedade - que tendem a aumentar -, se continuar contando com essa estratégica quinta coluna. Mas, convenhamos, um governo que precisa da oposição para se manter não tem propriamente condições de governabilidade.
Em terceiro lugar, porque, tirando os dois únicos "ativos" do governo - os bons ventos da economia mundial e os altos índices de popularidade do presidente -, todo o resto é uma calamidade. A inépcia e a irresponsabilidade administrativas, acarretadas pelo aparelhamento e pela corrupção de Estado, gerou uma incapacidade sistêmica de governar. É assim que, para onde se olha, há má gestão, roubo e formação de quadrilha.
O país está nas mãos de bandidos e se multiplicam episódios de falta de controle e de acobertamento oficial dos mais variados crimes e irregularidades. Sim, a afronta de Renan à democracia e o apagão aéreo (agora com mais duas centenas de vítimas) são sintomas da mesma doença.
Em quarto lugar, pois a conjunção desses fatores não conseguirá resistir muito tempo à exposição de suas mazelas pela mídia. De sorte que, se Lula não conseguir capturar ou amordaçar os meios de comunicação (como fez o aliado Chávez), tudo indica que seu governo não terá muito futuro.
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Espero que este governo sem futuro não transforme o Brasil num país sem futuro.
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