02 agosto 2007

FALTA DE COMUNICAÇÃO

ROSELY SAYÃO

Nos últimos dias, algumas infelizes declarações de pessoas públicas provocaram revolta em muita gente, e com razão. Mas não é de hoje que temos tratado muito mal a nossa forma de comunicação. Estamos nos tornando incomunicáveis, arrisco dizer, a maior parte do tempo. Às vezes, tenho a sensação de que passamos a usar palavras, frases, discursos e (des)informações apenas para preencher um vazio ou cumprir uma obrigação. É por isso que muita gente se acha no direito de dizer qualquer coisa sem compromisso, sem se sentir obrigado a honrar o que disse ou a respeitar seus interlocutores, fisicamente presentes ou não. Mais uma evidência de nossa cultura de desdém ao outro.
Na noite do trágico acidente aéreo recente, muitas famílias ansiosas ou dramaticamente esperançosas cobravam da companhia aérea a lista de passageiros que haviam embarcado na aeronave. Qual a resposta? Que a lista só seria divulgada após a comunicação pessoal da empresa com as famílias dos passageiros. Parecia uma atitude séria e respeitosa, não? No entanto, no início da madrugada, a lista foi divulgada pelos meios de comunicação, e foi dessa maneira que muitas famílias constataram o que já sabiam ou temiam.
Esse é apenas um exemplo de como nossa comunicação anda mal e deixa claro que temos considerado apenas quem emite a mensagem e ignorado a outra via, ou seja, o destinatário. Tomemos alguns outros casos. Quem já passou pela experiência de tentar obter uma informação com algum serviço de atendimento ao consumidor, de suporte de informática ou coisa semelhante sabe o quanto é difícil estabelecer um diálogo com esses atendentes. Na verdade, muitas vezes as respostas são verdadeiros disparates. Isso quando não somos obrigados a ouvir explicações vazias que não passam de bobagens.
E vejam que vivemos em um tempo em que a comunicação parece ter uma importância enorme. É por isso que contamos com profissionais especializados em preparar as pessoas para que se comuniquem com eficiência. O problema é que o desprezo com que tratamos o outro gera apenas discursos recheados de "nonsense" e vazios de reconhecimento.
Essa nossa dificuldade em estabelecer um diálogo em que o outro não seja subestimado ou menosprezado se mostra também nas conversas que temos com filhos e alunos. Pais e professores precisam lembrar sempre que palavra dita é palavra empenhada. Além disso, precisam estar atentos ao que os mais novos dizem.
Eles têm denunciado que não levam muito a sério o que dizemos. Por quê? Porque muitas vezes dizemos qualquer coisa só para marcar presença; porque, igualmente, não os levamos a sério; porque deixamos que falem bobagens e as consideramos; porque não nos empenhamos na construção de uma comunicação verdadeira. Esta é uma boa hora para se tomar algumas decisões. Cultivar o apreço pelo outro, a consideração por palavras plenas de sentido e o respeito pelos interlocutores são algumas delas.

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Essa é uma grande verdade: a nossa comunicação piora a cada dia.
Vamos pensar um pouco nisso?

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