06 agosto 2007

UM DESRESPEITO AO CONGRESSO


FERNANDO RODRIGUES


É cedo para concluir quais foram as causas principais da tragédia com o Airbus-A320. Mas já há indícios em profusão sobre o comportamento impróprio da TAM, a dona do avião.
O presidente da empresa, Marco Bologna, apareceu logo depois do acidente praticamente descartando a pista de Congonhas como fator preponderante para o acidente. Nesta semana, mudou de idéia.
Opinião cada um tem a sua. Bologna vai além. Tem várias.
Diante da CPI do Apagão Aéreo, o presidente da TAM teve de ler uma instrução da Anac (a agência do apagão aéreo) sobre a exigência do uso de equipamentos de frenagem em pistas molhadas. Eis a leitura de Bologna: "A tripulação deve certificar-se de que o avião esteja com todos os sistemas operando, notadamente o antiskid e etc.". Como assim, "antiskid e etc."?
Como notou ontem a repórter Andreza Matais, o texto original da resolução da Anac determina que o piloto deve usar "notadamente o reverso". Exatamente o dispositivo da turbina que inverte o fluxo de ar durante o pouso-inoperante do lado direito do avião acidentado.
Bologna embromou deputados dentro das dependências da Câmara. Há duas relevâncias nesse episódio. Primeiro, demonstra o empenho com que o presidente da maior companhia aérea do Brasil tenta eximir a TAM de qualquer responsabilidade no caso. OK. A esperteza está embutida no valor do salário do executivo.
O pepino, como diria o brigadeiro da Infraero, é a Câmara ter praticamente deixado por isso mesmo, sem grandes contestações. Os deputados tinham outras prioridades.
Por exemplo, oferecer ao país a interpretação oral e dramatizada das últimas frases do piloto morto no acidente. Se o presidente da TAM desrespeita o Congresso, não é problema. Respeito é produto raro por ali. Estão todos em casa.


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Por que os deputados aceitam tudo o que ouvem?

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