16 agosto 2007
EDUCAÇÃO PELA TV
Rosely Sayão
Uma leitora enviou um comentário a respeito dos roteiros das novelas. De forma resumida, ela diz que um tema onipresente são as tentativas de personagens centrais das tramas de prejudicar pessoas com quem convivem a fim de obter o que desejam. Esse não é um ótimo pretexto para pensarmos a respeito das influências da televisão na educação dos mais jovens? É inegável que a televisão produz efeitos importantes no comportamento de crianças e de jovens. Mas, em vez de demonizar o veículo, vamos pensar na amplitude desses efeitos para compreendermos melhor nossa tarefa de educadores.
Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que tornamos a televisão um objeto indispensável na vida das crianças. Nós, que evitamos a todo e qualquer custo fazer imposições aos filhos, não titubeamos em tornar obrigatória a convivência deles com a programação da TV. Acreditamos que não haja escolha nessa questão, não é? Pois é bom ter clareza de que é uma escolha ter TV em casa ou não.
Mas julgamos que não ter é deixar os filhos em um mundo à parte, fora da realidade social e isolado dos colegas. Uma mãe que contou a um grupo de amigas que não tem televisão em casa causou perplexidade. Ou seja: os pais nem consideram mais a possibilidade de uma vida sem esse recurso. Esclarecido esse ponto inicial, podemos pensar em outro aspecto: como se dava a entrada dos mais novos no mundo adulto antes da presença da televisão como modo, talvez principal, de distração e de entretenimento em casa? De forma gradual e, principalmente, por narrativas e ensinamentos dos adultos e dos livros.
Cabia aos pais a tarefa de socializar os filhos, ou seja, prepará-los positivamente para a convivência social. Isso significava ensinar os bons modos, o respeito aos mais velhos, o cuidado com os mais novos, o uso delicado da linguagem, a obediência aos adultos, a discriminação entre o que é bom e o que não é, a solidariedade, o valor da verdade, as virtudes etc. Assim, o processo de formação já se encontrava em franco desenvolvimento quando os mais novos entravam em contato com características, digamos, menos nobres da humanidade. O mundo adulto já podia, portanto, ser julgado de acordo com as referências recebidas.
Hoje, a televisão introduz as crianças nos aspectos sórdidos do mundo adulto sem dó nem piedade. Desde cedo, antes de sua formação ter se tornado consistente, elas descobrem que pessoas usam a esperteza para se dar bem, que alguns políticos mentem e prevaricam, que o uso da virulência nas relações interpessoais é cada vez mais freqüente, que a busca do lucro é desmedida etc. E é assim, indefesos e sem condições de julgamento crítico, que os mais novos são socializados.
Isso só mostra a complexidade da tarefa dos educadores. Os adultos não podem ficar, como os mais novos, seduzidos e hipnotizados diante da televisão; precisam ser críticos e partilhar essa visão com os mais novos. Se a educação que a TV pratica é marcante, a nossa precisa ser mais.
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