ELIANE CANTANHÊDE
O procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, falou em bom português sobre "quadrilha", "submundo do crime", "núcleo central da organização criminosa".
Já os advogados, que falaram um atrás do outro, num lento e morno jorrar de palavras, insistiam nas palavras "inepto" e "inépcia" para desqualificar o trabalho do procurador. Em geral, entonação ensaiada, gestos discretamente teatrais.
No particular, foco para o advogado de Silvinho Pereira, aquele do Land Rover, empenhado em convencer que seu cliente não tinha cargo no governo, era um nada no PT. Só não explicou o que fazia, então, em reuniões na Casa Civil com bancos, empresas privadas, até empresas internacionais. A dúvida continua.
Mas a grande estrela estava ausente: José Dirceu, apontado como o chefe de todo o esquema, que o mesmo procurador classificou de "promiscuidade" entre membros do governo, líderes de partidos e bancos privados, tudo movido a dinheiro, para então ironizar: "Será que foi um surto de filantropia político-partidária?"
Ficou evidente o contraste entre o tom vetusto dos ministros, a forma coloquial do procurador e o malabarismo verbal dos advogados. Três mundos, três interesses.
E não há comparação entre as CPIs no Congresso e os julgamentos no Supremo. Nas CPIs, todos falam, se interrompem, se xingam, os celulares tocam sem parar e as conversas correm soltas em ambientes lotados. No Supremo, o linguajar é sóbrio, ninguém interrompe ninguém, há um surpreendente silêncio e sobraram cadeiras até mesmo na bancada de imprensa.
Também não havia manifestantes, nenhum "cara-pintada" em defesa da ética pública. Brasília amanheceu com um megacongestionamento, mas por outro motivo: a Marcha das Margaridas, que reuniu 15 mil trabalhadoras rurais na Esplanada dos Ministérios.
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Vamos aguardar o resultado.
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