15 agosto 2007

A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO


MELCHIADES FILHO


A opção petista pelo papel de vítima deve ser compreendida como uma tática política de transição, e não apenas como manobra diversionista para blindar Lula, como querem uns, ou tentativa legítima de reparar injustiças, como defendem outros.
Muitos observaram que a derrota em novembro deixou PSDB e Democratas perdidos, desconectados do eleitor. Mas a situação do partido do presidente não é diferente.
Faz tempo que o PT não fala em nome dos chamados movimentos sociais. O embate com esses aliados históricos gerou desencantos no primeiro mandato. A antecipação do xadrez de 2010 tende a impedir a reconciliação no segundo.
O funcionalismo caiu no colo de quem cobra aumentos com mais veemência. A igreja alçou vôo solo. O MST, depois de tanto estica-e-puxa, roeu a corda. Setores da OAB tucanaram. A UNE pede distância. A CUT vai perder um pedaço.
O espaço institucional aberto pela conquista da Presidência tampouco dá projeção e propósito ao PT. O loteamento desenfreado de cargos saiu pela culatra. Todo problema cai na conta petista. Sem novos quadros a oferecer, o partido vê o Planalto buscar gestores em outras bandas. E lá vem o Jobim... Até o onguismo virou de coalizão.
Restou o esperneio. Com o traquejo dos anos de oposição, o PT vai à imprensa acusar... "a imprensa e a elite branca que ela representa".
Esse Fla-Flu midiático, esse "nós contra eles", tem sido bem-sucedido. Aos poucos, reaglutina a militância amuada pelo mensalão -e, indiretamente, amplia a sobrevida de Berzoini e o sonho de Zé Dirceu.
É difícil não reagir ao "relaxa e goza", ao "top, top, top", ao enésimo "eu não sabia". É fácil se deixar levar e estender essa indignação contra tudo o que Lula faça ou fale.
Mas a estridência da crítica e, sobretudo, o esforço de atrelar toda crise do país à pessoa do presidente têm um efeito colateral. Essa mão que apedreja ajuda o PT a atravessar a rua.

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