22 agosto 2007

O JULGAMENTO

Eliane Cantanhêde

O Supremo Tribunal Federal decide a partir de hoje se abre ou não ação contra José Dirceu e 39 outros mensaleiros, com boas chances de repetir um enredo bem conhecido: no caso de Fernando Collor, o tribunal abriu a ação, que depois não deu em nada. Ele foi absolvido por falta de provas.

Há, porém, enormes diferenças entre os dois casos, principalmente políticas. Collor era um contra todos, quando foi aberta a ação, e não valia mais nada, quando foi absolvido. Tanto fazia. Agora, os 40 indiciados pelo procurador geral da República são muitos e dividem opiniões, acaloradamente, a favor ou contra. As pressões sobre os ministros virão de todos os lados. O risco é se neutralizarem.

Outras diferenças: Collor era "de direita" e o PT já tinha desde então todos os seus braços nos movimentos, nos sindicatos, nas entidades. Os "caras pintadas" estavam nas ruas. Se eram ou não uma juventude dourada, de elite e branca, não interessava muito. O fato é que o "Cansei" deles foi levado muito a sério.

Agora, os homens de José Dirceu e de Lula, não necessariamente nessa ordem, podem até ser "de direita", como a turma pesada do PTB, do PP, do PL, mas no geral eles representam a base congressual de um governo de esquerda e são liderados pelo PT, que foi não apenas o partido da esquerda por excelência, mas tido e havido como o mais puro do planeta.

Os movimentos fingem que não vêem nada, e o "Cansei" de hoje é ridicularizado até pelos opositores do governo. Seria inconcebível bater nos "caras pintadas" anti-Collor, mas fica "bem" bater na elite loura que posa atrás de Hebe Camargo e de Ana Maria Braga. Digamos que é "politicamente correto". É o que se espera da elite intelectual, que tem horror à elite rica e famosa.

A grande diferença, portanto, é que Fernando Collor foi um alvo fácil, primeiro, que se tornou inexpressivo, depois, enquanto os mensaleiros são um alvo poderoso que estão na essência de um governo que não é apenas o governo de plantão, mas que tem também imensamente mais força política.

Outra diferença significativa é que, na época de Collor, os julgamentos eram a portas fechadas, para que os ministros do Supremo desfilassem erudição jurídica entre eles. Hoje, o julgamento é aberto e será transmitido ao vivo pela TV Justiça. Para o telespectador, a erudição jurídica é um detalhe. O que importa é onde se pretende chegar. Faz ou não faz diferença?

Assim como estamos todos craques para discutir sobre transponder, reverso pinado e "grooving", vamos nos familiarizar também com termos jurídicos e ter aulas inesquecíveis de como funcionam o poder e os poderosos, especialmente os neo-poderosos dispostos a tudo, a qualquer preço.


*


Vai dar no que sempre dá: em nada.
É o governo do PT.

Nenhum comentário: