09 agosto 2007

A ARRUMAÇÃO DO MUNDO


Dulce Critelli

Inventamos e fabricamos objetos e instrumentos para que eles nos ajudem em nossas tarefas e atividades, para que diminuam o tempo dos afazeres e mitiguem os esforços do nosso corpo e da nossa mente. Esperamos que eles favoreçam esse nosso trabalho de pôr o mundo em ordem para a nossa moradia. Panelas e poltronas, TVs e automóveis, sinais de trânsito e avenidas, aquecedores e talheres, todos têm esse mesmo fim. Inclusive os objetos estéticos e as obras de arte, pois as coisas não só devem ser úteis, mas também belas.
É assim que instalamos a cultura sobre a natureza e criamos um mundo sobre a Terra, como lembram Marx, Heidegger, Hannah Arendt... Só arrumando o mundo como um lugar para viver é que conseguimos encontrar nele um lugar que seja o nosso. O mundo precisa nos dar conforto e acolhimento, ser lugar de proteção e de repouso. Precisa ser uma casa acolhedora e segura, para poder nos distrair e defender da indigência e da precariedade que constituem isso que chamamos vida. Não era, portanto, para a pista ser tão curta nem para estar sem ranhuras. Não era para haver construções tão próximas. Não era para o reverso estar quebrado nem para o computador de bordo impedir que o piloto manejasse o avião segundo as necessidades do momento.
Era para o avião nos trazer de volta as pessoas queridas, e não roubá-las de nós. Foi uma perversa inversão na ordem das coisas, que é destes tempos, e não exclusiva desse doloroso episódio, que nos deixou entregues aos limites e aos comandos da máquina. E pensar que as criamos para que elas fossem submissas ao nosso uso e às nossas decisões.
O que deveria nos engrandecer é o que nos põe em perigo e nos ameaça. O medo de voar não é assunto que tem sido um foco importante da mídia diante de tal desastre? Cada uma das épocas históricas tem suas tragédias determinadas por alguns dos seus componentes estruturais. As tragédias contemporâneas têm a técnica e a produção da riqueza como o barro e a madeira de sua armação.
Toda dor, toda angústia, toda aflição, todo medo, toda doença... Todo amor, toda alegria, toda expectativa, toda satisfação... Todo encanto, toda saudade, toda desilusão... Tudo atravessado por esses impulsos modernos. Não há chances nem existência sem eles. No entanto, quando esses pilares falham, expõem sua impressionante fragilidade. Só então ficamos diante daquilo que verdadeiramente importa: viver na companhia daqueles que amamos.

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Vamos arrumar o mundo?
Pode parecer um grande desafio, mas não é.
Façamos a diferença, em todos os lugares, em qualquer cirscuntância.
O amor é a cura de todos os males: amemos!

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