19 agosto 2007

O CAIXA TRÊS E O VOTO-CARNIÇA

NELSON MOTTA

Além dos milhões dos fundos partidários e dos horários eleitorais "gratuitos" -para eles, já que são pagos pelos contribuintes aos veículos, em forma de renúncia fiscal -, agora eles querem o "financiamento público" de suas campanhas: o caixa três.
Alguém acredita que a maioria dos políticos brasileiros respeitará os tetos de gastos e recusará ajudas "espontâneas" de correligionários e lobistas? Em muitas grandes democracias, as eleições têm financiamento privado, com regras e limites, e são limpas, fiscalizadas e equilibradas. As contribuições são rigidamente controladas e não interferem na alternância no poder. Por que eles conseguem e nós não?
Porque o problema não é o sistema, são os usuários. Aqui, a regra é não respeitar as regras: a impunidade parlamentar é a norma. Qualquer que seja o sistema, eles encontrarão sempre uma forma de driblar, com o jogo de cintura que os caracteriza, a lei e a ordem, em benefício próprio, mas sempre em nome do povo, do partido ou da causa.
Mas o maior dos atrasos, matriz de toda a perversão eleitoral, é o voto obrigatório. Alguém acredita que pessoas que votam à força, para evitar a multa ou perder a bolsa, possam escolher bons candidatos? Ou são esses que votam em qualquer um, ou nos piores, pela chateação de ter que ir à zona eleitoral?
Ninguém responde, só são contra e fazem contas: "isso vai favorecer a direita e as elites", ou então "isso beneficia a clientela da esquerda". É esse o nível da discussão. Todos disputam esses votos podres como urubus disputam carniças.
O voto-lixo é o que eles chamam de exercício da democracia, argumentando que, de tanto votar errado, o eleitor vai aprender a votar certo. É por isso que o Congresso está cada vez melhor.


*

O nosso voto tem sido voto-lixo?
Vamos refletir sobre isso.

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