07 agosto 2007

TORPOR E REAÇÃO NO AR


FERNANDO DE BARROS E SILVA


A popularidade de Lula permanece inalterada, com índices de aprovação nas alturas, diz o Datafolha, na primeira medição dos humores do país pós-tragédia de Congonhas. É um fato nada trivial. Não obstante, algo mudou na paisagem política, ainda que a pesquisa não registre a novidade em curso.
A passeata que reuniu no sábado mais de 2.000 pessoas só em São Paulo para gritar "Fora, Lula" também parece ser um fato pouco trivial. Era gente que se autoconvocou pela internet, sem ajuda de partidos políticos, sem entidades que os patrocinassem, sem lideranças famosas como atrativo. Um ato público de direita explícita que extravasou do espaço virtual para as ruas de maneira espontânea. Ordinary people, como eles gostam de se chamar.
Um protesto cujas palavras de ordem eram "ca-cha-cei-ro!", "va-ga-bun-do!" e "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão!". E cujos cartazes diziam: "Marta, fora, biscate!" ou "Lula, maldito, relaxa e vaza!". Há quanto tempo não se via algo assim? O "Cansei", enfim, mostrou os dentes.
Será só um espasmo? Veremos. Mas parece que o acidente da TAM agiu como catalisador de insatisfações difusas, desencadeou uma onda raivosa contra Lula, desinibiu ódios de classe, organizou anseios reacionários numa espécie de pauta embrionária do conservadorismo.
O governo já é conservador, sabemos. Talvez não o bastante para quem acha que carrega o país nas costas porque paga imposto. De resto, a derrocada ética do PT, a desmoralização geral da política e o descaso prepotente do governo diante da crise aérea deram combustível à neodireita emergente.
Não são milionários (vão muito bem, obrigado). São, antes, a grande parte da elite que se vê como classe média eternamente ameaçada. Ora, praticamente 80% dos brasileiros ganham até cinco salários mínimos. É essa desigualdade brutal que está na origem da ilusão de ótica dos ricos de "classe média" que se dizem vítimas do país. Parecem ter medo, ódio e, agora, também inveja dos pobres. Razões econômicas para protestar? Talvez Freud explique.

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Que venham as manifestações.
O governo do PT precisa entender que nunca será unanimidade.
E o principal: tem que governar para um país inteiro.

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