02 julho 2007

LULA E O AÇOUGUE DE RENAN

FERNANDO DE BARROS E SILVA

"Antigamente as coisas eram piores, mas foram piorando." Talvez seja um pouco impróprio trazer uma alma sofisticada como a de Paulo Mendes Campos (1922-1991) para perto do Conselho de Ética do Senado. Sua frase, porém, resume com ironia desiludida a procissão de horrores do Congresso nas últimas semanas.
As coisas só pioraram entre a farsa do relatório Cafeteira e o surgimento triunfal do senador Quintanilha nessa "ópera bufalina". O Conselho de Ética avacalhou-se de vez. Está à mercê das chicanas de Renan Calheiros, que manipula seus títeres sem muita preocupação de ocultar as manobras.
Renan é suspeito de falsificar notas fiscais de açougue para explicar um patrimônio que pudesse justificar o uso de um lobista como intermediário do dinheiro que destinava à mãe de sua filha. A isso chegamos. É conversa demais para boi dormir.
As chantagens, os comprometimentos recíprocos, o compadrio dos parlamentares explicam só parte dos esforços por Renan. Há pelo menos outros dois ingredientes da crise que vão além do Congresso.
O primeiro, já anotado ontem por Elio Gaspari, é a atuação do Planalto. A blindagem de Renan é uma demonstração da força e das proezas de que é capaz a aliança lulista entre PT e PMDB -essa mãe generosa, na casa de quem "todos são inocentes, até prova em contrário", como gosta de repetir o presidente. A defesa retórica do Estado de Direito funciona como apologia velada da impunidade para o aliado político.
Além disso, a ausência de oposição a Lula facilita a vida de Renan. O PSOL atua como grilo falante, mas nem de longe tem densidade ou força para fazer o papel do antigo PT. Indignação? Também foi privatizada, é espasmódica, está atrelada às oscilações da mídia. Sob o lulismo, é quase nula a mobilização social, os grupos de pressão cuidam de seus interesses dentro ou nas bordas do Estado, os partidos se acomodam até 2010. Não há mais conflitos à vista. Lula anestesiou o país.
Podemos todos dormir em paz: boi, boi, boi, boi da cara preta...

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