03 dezembro 2007

EMPREGO DO "TIOZINHO" ESTÁ EM ALTA

GILBERTO DIMENSTEIN

A faixa que, percentualmente, vem demonstrando melhor desempenho na ocupação de vagas é a de 50 a 64 anos

Uma das informações mais relevantes sobre o futuro do Brasil aparece sem maior destaque num relatório sobre novas tendências do emprego no país, elaborado pelo Ministério do Trabalho: o "tiozão" está em alta. A faixa etária que, percentualmente, vem demonstrando melhor desempenho na ocupação de vagas é a de 50 a 64 anos -um segmento que, até pouco tempo atrás, seria considerado o fim da linha.
Enquanto a expansão do número de trabalhadores entre 16 e 17 anos de idade caiu 2% neste ano, em comparação com 2006, os "tiozões" avançaram em 9,77%. Acima dos 65 anos, o crescimento foi de 6,1%, o dobro do verificado na faixa etária dos 18 aos 24 anos. Esses números revelam que o mercado de trabalho se abre a indivíduos com maior experiência e escolaridade, deixando um pouco de lado preconceitos sobre a idade.
O emprego do "tiozão" vale mais do que todos os discursos sobre a importância, tão repetida e tão pouco considerada, de investir em qualidade da educação. É um dos impulsos para que se alcance melhor posição no ranking de desenvolvimento humano, divulgado na semana passada, no qual, apesar de todos os avanços (e não foram poucos, vamos reconhecer), estamos atrás de nações mais pobres.


O desempenho negativo dos mais jovens se deve a pelo menos dois motivos: 1) mais adolescentes preferem concluir o ensino médio e retardar a procura por uma vaga; 2) os empregadores estão cada vez mais seletivos.
Essa tendência explica a crescente atenção à tragédia do ensino médio público, do qual apenas 5% dos estudantes saem com conhecimentos apropriados em língua portuguesa e onde existe um apagão de professores, especialmente na área de ciências, traduzido na péssima posição que o país ocupou no Pisa, um teste internacional de educação, divulgado na semana que passou. Para piorar, dias depois, outro ranking, o da Unesco, coloca-nos depois do Paraguai e da Bolívia.

A debilidade educacional fez com que o apagão de trabalhadores qualificados entrasse no topo das preocupações sobre o crescimento econômico, comparável, para muitos, a uma eventual escassez de energia.
Há carências por todos os lados e nas mais diferentes profissões. Na cidade de São Paulo, por exemplo, faltam profissionais de todas as áreas, de engenheiro a manicure, passando por advogados especialistas em fusões. A bilionária corrida por ações da BM&F, na sexta-feira, reproduzindo o que já tinha ocorrido com a Bovespa, traz toda uma série de demandas de novos profissionais nas mais diversas áreas em torno do mercado de capitais.

Quando olhamos para o que sai das escolas públicas, vemos a disparidade com o mercado. Por isso, entre outras razões, vemos com desconfiança e sem muitos motivos para comemorar o fato de o Brasil estar, conforme foi divulgado na semana passada, na lista dos países com alto desenvolvimento humano.
Mas o emprego do "tiozão" indica que também existem inúmeros motivos para um cauteloso otimismo: a educação do brasileiro terá de crescer na marra por uma questão econômica. Assim como terão de, na marra, evitar a crise de energia.

Meu cauteloso otimismo é motivado porque, além das pressões econômicas, o país está aprendendo a se guiar por indicadores de qualidade. Só nas últimas semanas, os alunos da cidade de São Paulo passaram por três testes, ministrados pelos governos municipal, estadual e federal.
Cria-se uma pressão da opinião pública e captura-se a atenção dos meios de comunicação. Note-se que os resultados do Pisa foram as principais manchetes dos mais importantes jornais brasileiros. Até pouco tempo atrás, o assunto não teria nem chamada na primeira página.
Está quase se tornando um consenso a idéia de que é necessário implantar a jornada de aulas em tempo integral, coisa que já vem ocorrendo em algumas cidades, com resultados promissores tanto na atitude dos alunos como em suas notas. Inventam-se novas fórmulas para, com pouco dinheiro, deixar as crianças mais tempo estudando. A cidade de São Paulo prepara-se para lançar a escola de sete horas, com direito a almoço. O Ministério da Educação decidiu, neste ano, disseminar a educação em tempo integral e já reservou verba para estimular prefeitos e governadores a ampliar o número de aulas.

O emprego do "tiozão", além do melhor desempenho dos trabalhadores com mais de 65 anos, não é resultado de nenhuma consideração especial para com a terceira idade. É apenas um recado: valemos o quanto sabemos.

PS - Como o "tiozão", a mulher é um bom indicativo das mudanças do mercado de trabalho. Nos últimos relatórios, vemos que cresceu ainda mais o emprego feminino, o que se explica pela crescente superioridade delas em relação aos homens. Coloquei em meu site (www.dimenstein.com.br) um dossiê sobre as tendências do emprego, no qual se nota que, depois de muito tempo, devido à demanda por trabalhadores qualificados, expande-se a classe média. É surpreendente como o ensino superior, particularmente o privado, vem oferecendo os mais diversos cursos de olho na sofisticação do mercado.

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