13 dezembro 2007

DIPLOMAS NA UTI

Editorial da Folha de S. Paulo

É urgente criar um exame de habilitação obrigatório para médicos em molde semelhante àquele que já existe para advogados.
A necessidade é demonstrada pela queda nos índices de aprovação no teste voluntário que o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) aplica a formandos. Na prova deste ano, 56% foram reprovados. Em 2005, a taxa de insucesso havia sido de 31% e, em 2006, de 38%. Pelo menos em teoria, o grau de dificuldade do teste, elaborado pela Fundação Carlos Chagas, é o mesmo em todos os anos.
Pode-se presumir que os números seriam ainda piores caso o exame fosse obrigatório para todos os concluintes. Dado o caráter facultativo da prova, a tendência é que só a prestem alunos que se sintam preparados.
Como ocorre no caso do direito, atribuem-se os maus resultados à proliferação de escolas, muitas das quais de qualidade duvidosa. O Estado de São Paulo já conta com 31 cursos médicos. Com a superoferta de vagas, o principal requisito para formar-se médico é ter condições de arcar com mensalidades freqüentemente superiores a R$ 2.500.
Infelizmente, são fortes as resistências à obrigatoriedade do exame -que, de resto, é adotado em vários países como os EUA e o Canadá. Elas vêm principalmente de proprietários de escolas, mas também de setores do Conselho Federal de Medicina.
É fundamental, porém, que prevaleça o interesse público. Bacharéis em medicina que não reúnam conhecimentos mínimos para clinicar não deveriam receber autorização para fazê-lo.
O sistema atual produz uma perversão adicional. Médicos recém-formados e, portanto, inexperientes são alocados onde sobram vagas. Acabam sendo contratados a título precário por hospitais públicos. Por receberem a maioria das emergências, esses locais deveriam contar com profissionais qualificados.

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