09 dezembro 2007

PAÍS RECEBE SEMANA DO EMPREENDEDORISMO

Folha de S. Paulo

Evento será no Brasil entre os dias 17 e 26 de novembro do próximo ano; meta é envolver 1 milhão de pessoas com o tema

"Empreender e ter sucesso não é fácil em nenhum lugar", diz Paulo Veras, diretor-geral do instituto Empreender Endeavor

Entidades de apoio a novos negócios pretendem reunir cerca de 1 milhão de pessoas em 2008 no Brasil para promover o empreendedorismo. Em sua quinta edição mundial, será a primeira vez que a Semana Global do Empreendedorismo acontecerá no país, entre 17 e 26 de novembro de 2008, com a participação de estudantes e jovens empresários.
Paulo Veras, diretor-geral do instituto Empreender Endeavor, entidade sem fins lucrativos de promoção de novos negócios, é um dos organizadores do evento, que deve ter o apoio de outros 20 órgãos. Ele diz que "empreender e ter sucesso não é fácil em nenhum lugar". Em entrevista à Folha, Veras dá dicas de áreas promissoras e os cuidados que os novos empreendedores devem ter. A seguir, os principais trechos da entrevista:


FOLHA - Pesquisa do IBGE mostra que 45% dos negócios abertos desde 1997 no país já fecharam. Dados do Banco Mundial revelam que aqui é um dos piores lugares para fazer negócios. Isso está mudando?
PAULO VERAS -
Temos de separar duas coisas. Primeiro, deixar claro que empreender e ter sucesso não é fácil em nenhum lugar. No Brasil, não é mais difícil do que em outros lugares. O Brasil tem dificuldades diferentes. Mas todo mundo acha que é muito fácil empreender nos EUA. Não se leva em consideração a competição que tem lá, que é muito mais forte do que no Brasil, o profissionalismo dessa competição. Por exemplo, montar uma empresa no Silicon Valley [Vale do Silício, na Califórnia], onde as pessoas são disputadas a tapa. No Brasil também há competição, mas é em outro nível. Ter sucesso é difícil em qualquer lugar. Por que morrem tantas empresas? Em geral, há falta de preparo dos empreendedores.
As pessoas têm uma idéia, mas não têm nenhum tipo de organização financeira, não entendem o básico de fluxo de caixa, não têm disciplina. Estamos lutando para conseguir diminuir essa lacuna, mas o empreendedor em geral, no Brasil, é muito despreparado.

FOLHA - Para alguém pensando em abrir um negócio, independentemente da área, o que o sr. recomenda?
VERAS -
Primeiro, você tem de fazer um negócio em alguma área que goste, porque o teu negócio vai ser a tua vida. Você vai passar mais tempo no negócio do que em casa com a família. Segundo: pensar bem ou pesar o tipo de negócio e quanto de investimento você precisa.
Tentar achar um negócio que precise de menos investimento. O capital no Brasil ainda é muito caro, e capital para empreendedor é difícil em qualquer lugar do mundo. O pessoal acha que lá fora é superfácil, mas também não é. Quanto menos capital, melhor. Terceiro: é muito importante tentar um modelo de negócio que tenha receita corrente, em que você não precise "matar um leão por dia". Um modelo em que você não precise vender todo dia para ter receita. Alguma coisa que tenha afinidade com o cliente, que pague uma anuidade, que os clientes passem a usufruir aquilo e que fiquem meio travados ali, porque eles gostam e não querem mudar.
Depois disso, o fundamental para crescer é montar uma equipe muito boa, e acho que isso ainda é uma coisa pouco valorizada no Brasil. Se você quiser fazer um negócio dar certo, crescer, se perenizar para daqui a 10, 20, 30, 40 anos, você precisa, realmente, ter valores e princípios muito sólidos e montar uma equipe que trabalhe dentro desses valores.

FOLHA - Nesse novo cenário, que alguns acreditam ser um círculo virtuoso no Brasil, onde o sr. vê bons nichos de negócio?
VERAS -
O Brasil está crescendo muito na área de serviços. É um setor que, efetivamente, precisa de pouco investimento. Há muitas empresas começando também na área de tecnologia da informação. Há boas escolas nesse setor e, por isso, há boa disponibilidade de mão-de-obra competente. Esses engenheiros de software custam muito menos aqui no Brasil do que nos EUA ou na Índia.

FOLHA - Nesse contexto, qual o papel do Endeavor?
VERAS -
Somos uma instituição sem fins lucrativos. Nosso único interesse é o desenvolvimento do Brasil. Acreditamos que, para isso, a única forma é ter uma massa de empreendedores de alto impacto. Gente que pense grande, trabalhe direito, queira chegar longe, empregue muitas pessoas. Temos duas frentes de atuação: identificamos e apoiamos empreendedores que têm potencial para gerar esse desenho e ajudar a inspirar e a motivar novos empreendedores a seguir essa trilha. Outra frente é a disseminação do conhecimento. No site do Endeavor [www.endeavor.org.br], de graça, você pode encontrar dicas de como fazer um plano de negócios, como levantar recursos, exportar ou gerenciar pessoas. Temos um processo de seleção que é aberto a todo mundo. Uma empresa que acha que pode crescer muito, que é inovadora, que hoje fatura entre US$ 1 milhão e US$ 15 milhões por ano, pode se inscrever nesse processo. Se acharmos que realmente tem muito potencial, podemos apoiar esse empreendedor. É um apoio de transferência de conhecimento. Temos uma rede de 400 voluntários, como Jorge Paulo Lemann (acionista da InBev e Americanas), Emílio Odebrecht (Construtora Odebrecht), Luiza Helena Trajano (Magazine Luiza) e Pedro Passos (Natura). São pessoas com muita experiência e que se dispõem a transferi-la para os empreendedores que estão começando. Hoje, 67 empreendedores têm o apoio direto do Endeavor. A cada ano colocamos mais alguns, de sete a dez.

FOLHA - Os srs. pretendem trazer a Semana Global do Empreendedorismo para o Brasil. O que é isso?
VERAS -
Vai acontecer de 17 a 26 de novembro de 2008. Não é um movimento do Endeavor, mas mundial. O movimento foi iniciado pelo Gordon Brown (atual premiê britânico) em 2004, na Inglaterra. Este ano foi a quarta vez que eles fizeram [o encontro] e envolveram mais de 500 mil pessoas na Inglaterra. Em geral, jovens de 13, 14, até uns 30 e poucos anos. E colocaram esses jovens em contato com o empreendedorismo. No Brasil, queremos envolver pelo menos 1 milhão com esse tema, com competições, jogos nas escolas, fazendo miniempresas. Já são 20 organizações que estão nessa coalizão para promover a Semana Global de Empreendedores no Brasil.


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Um evento muito importante para o Brasil.
Dê uma olhadinha no site. É bem interessante.

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