01 outubro 2007

TEORIA DO CHINELINHO

FERNANDO DE BARROS E SILVA

"É dando que se recebe" - quem não se lembra da divisa do deputado Roberto Cardoso Alves? Robertão foi um dos líderes do famoso Centrão durante a Constituinte de 1988, um verdadeiro filósofo da fisiologia na aurora da redemocratização do país. À época, o uso do lema franciscano para lustrar o "toma lá, dá cá", que corria solto no governo Sarney, se tornou sinônimo de política espúria e retrógrada, uma síntese do que deveria ser repelido e enfrentado pelos então progressistas.
O mundo dá voltas. Robertão se foi, vítima de um acidente em 1996. Não viveu para ver sua lição assimilada com louvor pelo "governo popular". Patrocinados pelo Planalto, a barganha a céu aberto, o troca-troca frenético e o balcão de negócios já estão por merecer o selo "nunca antes neste país". Brasília testemunha dias de desassombro.
Antigamente as coisas eram piores, mas depois pioraram - nos ensina o escritor mineiro Paulo Mendes Campos. Vejam seu conterrâneo Wellington Salgado, pitbull da tropa de Renan Calheiros, senador pelo PMDB, suplente do ministro Hélio Costa, uma das figuras mais ricas de Minas Gerais. Diz este notório homem público que "os franciscanos [senadores do PMDB] não querem sapato de cromo alemão, só um chinelinho novo".
Comparados aos parasitas de hoje, os ideólogos do Centrão ainda vão passar à história como estadistas, precursores, homens de visão.
A absolvição de Renan, orquestrada pelo bigode invisível de Mercadante et caterva, instalou o jogo do poder no terreno da desfaçatez irreversível. O varejão da CPMF é apenas o desdobramento lógico de uma política de Estado. Omissa, cúmplice ou acéfala, a oposição é incapaz de confrontar o PRI à brasileira formado em torno de Lula.
Ciro Gomes disse que a mídia do país "é um desastre" e promove a "novelização escandalosa da política". A frase é boa e faz pensar. Mas convém não perder de vista quem são os canastrões dessa trama.


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O que pode mudar este quadro? Um eleitor com voto consciente.

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