22 outubro 2007

REDUÇÃO DA POBREZA POR MEIO DA AGRICULTURA É MENOR NO BRASIL

Folha de S. Paulo

O potencial de redução da pobreza por meio do desenvolvimento da agricultura é menos intenso no Brasil e na América Latina do que em outras regiões pobres do mundo.
A concentração das propriedades agrícolas e a falta de financiamentos e de mecanismos de distribuição dos produtos dos agricultores menores são algumas das causas.
Segundo o Relatório do Desenvolvimento Mundial divulgado ontem pelo Banco Mundial, de um modo geral a agricultura é o setor mais eficiente para reduzir os níveis de miséria nas principais regiões pobres do mundo, especialmente na África e na Ásia. Ela tem impacto direto tanto no nível de renda dos trabalhadores envolvidos quanto na redução de necessidade alimentares.
A exceção é a América Latina, onde mesmo uma liberalização total do comércio mundial no setor agrícola teria impactos "entre modestos e positivos", segundo avaliação do Bird. Já para a África, seriam "muito positivos".
"A agricultura na América Latina não é inclusiva", afirma Laura Tuck, diretora da área de Desenvolvimento Sustentado do Banco Mundial.
Enquanto o agronegócio como um todo (incluindo a industrialização de produtos) participa com 30% no PIB (Produto Interno Bruto) da região, a fatia da agricultura isoladamente é de 7%. Mas as áreas agrícolas contêm cerca de 40% dos pobres latino-americanos (50% no Paraguai).
Segundo a economista do Bird, no caso do Brasil, um dos principais problemas para melhorar a situação dos pobres no campo é a falta de mecanismos de distribuição da produção.
De acordo com o Bird, o Brasil é um dos países que têm os maiores níveis de concentração da distribuição de produtos agrícolas nas mãos dos supermercados. Enquanto a média mundial é de 60% dos alimentos sendo comercializados por essas redes de lojas, o percentual no país vai a 75% -nível igual ao do Reino Unido.
Na Índia, o percentual de alimentos vendidos à população em supermercados não chega a alcançar 5%. Na China ainda é menor do que 15%.
Outro fator preponderante foi a dinâmica do desenvolvimento da agricultura e do mercado de trabalho agrícola no Brasil.
"A agricultura brasileira experimentou um crescimento dramático nos anos 90. Mas não está claro o quanto desse "boom" reduziu a pobreza no setor, já que houve uma redução do total de empregos na área e um aumento de contratações de trabalhadores mais especializados em função da mecanização do setor", diz o relatório do Banco Mundial.
Segundo o documento, boa parte da redução da pobreza nas áreas agrícolas do Brasil pode ser explicada pelos programas de transferência de renda (como o Bolsa Família) e pelo crescimento de atividades não relacionadas ao setor (como serviços).
O relatório não faz nenhuma menção, porém, à redução indireta da pobreza provocada por um aumento da eficiência na produção agrícola - já que, quanto maior a produtividade, menores os preços dos alimentos vendidos, por exemplo, aos pobres que vivem nas cidades.

Concentração
Sobre o tamanho das propriedades agrícolas no Brasil, Laura Tuck afirma que "não existe um tamanho ideal", e que isso depende da atividade, cultura e intensidade tecnológica aplicada. Estados do Centro-Oeste são citados como contendo exemplos de latifúndios que, não necessariamente, concentram ainda mais a pobreza. De um modo geral, porém, os dados do Bird indicam uma concentração das terras brasileiras nas mãos de cada vez menos proprietários.
O Banco Mundial constata ainda que boa parte dos trabalhadores do setor agrícola no Brasil continuam em situação precária.
"No Brasil, a mesma legislação trabalhista é aplicada para trabalhadores rurais e urbanos. Embora [os empregados rurais] possam ter benefícios como o décimo terceiro salário e férias, muitas cooperativas e trabalhos temporários proliferaram. Os trabalhadores abrem mão de seus benefícios para ter mais dinheiro imediato em mãos", diz o Bird.

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É difícil aceitar: mas é pura verdade.
Como entender?

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