25 outubro 2007

ENSINAR A PENSAR

Dulce Critelli

[...] A REFLEXÃO EXPLICITA MAL-ENTENDIDOS, DESVELA SEGUNDAS INTENÇÕES, DESAUTORIZA PRECONCEITOS, DESCOBRE MANIPULAÇÕES...

"De pensar morreu um burro." "Quem pensa não faz"... Muitos ditos populares expressam um certo sarcasmo e um desprezo em relação ao pensar, revelando uma crença, alimentada há séculos, de que o pensar atrapalha, emperra a ação, é coisa de quem não tem nada para fazer.
Quando se trata, então, da filosofia, esse deboche vai ainda mais longe, afirmando que todo pensador não possui pé na realidade e vive numa torre de marfim.
É certo que o tempo da reflexão conflita com a urgência do agir. Mas nem sempre todo agir é assim urgente e, na maioria da vezes, parar para pensar nos salva de decisões equivocadas e prejudiciais. Pensar a respeito de alguma coisa ou de algum acontecimento é compreender os seus verdadeiros sentidos e significados.
Um artigo publicado na Folha no dia 1º de outubro deste ano comentava o Saeb, exame federal de avaliação da aprendizagem de alunos do último ano do ensino médio. Mal alfabetizados, esses adolescentes, nas palavras do jornalista, "não conseguem, por exemplo, compreender o efeito de humor provocado por ambigüidade de palavras ou reconhecer diferentes opiniões em um mesmo texto".
Quem não sabe ler não sabe distinguir nem rir de fato, nem pensar. É presa fácil de mistificações e sujeições, obediente a tudo o que causar a impressão mais forte.
O pensar, diz Sócrates, "abre os olhos do espírito". E isso quer dizer que a reflexão explicita mal-entendidos, desvela segundas intenções, percebe mentiras, desautoriza preconceitos, descobre manipulações... Em decorrência, sentimo-nos capacitados para escolher, dizer não, colocar limites, mudar a ordem das coisas, redefinir destinos, desarticular dominações...
Em outras palavras, o pensar prepara nossa liberdade e nossa autonomia tanto quanto nos faz reconhecer as responsabilidades que nos cabem nas situações vividas. Liberdade e autonomia, convenhamos, não são comportamentos muito bem-vindos na esfera político-social, porque ameaçam o poder vigente.
E, na esfera da vida privada, a responsabilidade é, na maioria das vezes, temida e recusada pelas pessoas, porque cria encargos e compromissos. Liberdade, autonomia, responsabilidade?... O pensar põe em perigo. E, em grande parte, por isso mesmo, ele é estrategicamente convertido em objeto de escárnio.
Ensinar a pensar. É esse o único projeto que poderia nos tirar do atoleiro de pobreza, de violência e de impotência em que vivemos. É um projeto cuja origem não está em nenhuma economia nem ideologia ou política oficial. Não precisa de equipamentos especiais nem depende da criação de uma secretaria do pensamento. É só uma atitude. Ensinar a pensar, aprender a pensar.


*

Quantas coisas seriam diferentes se pensássemos antes de agir...
Prá mim, pensar é muito importante. Me mantenho organizado comigo mesmo, me descubro e me encontro. Aliás, é um excelente exercício de auto conhecimento.
Experimente!

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