17 outubro 2007

TRAVA-LÍNGUA

MELCHIADES FILHO

O presidente estava confiante e espirituoso e se deparou com perguntas que não têm freqüentado as coletivas. O saldo foi um depoimento menos contido do que a relação atritada entre Planalto e imprensa permitia antever.
Lula abandonou o discurso cauteloso sobre o mensalão. Não há nada provado, insistiu, ao contrário do que sustentam o procurador-geral e ministros do Supremo. É "acreditar em Papai Noel", rebateu, quanto ao envolvimento de parte do PT.
Desfez as declarações ambíguas (e mais convenientes do ponto de vista político) sobre Zé Dirceu. "Não acho que ele seja um traidor."
Afirmou que "ministro forte cai" e mandou recado ao BC: não considera correto interromper a queda dos juros, e, se isso ocorrer, Henrique Meirelles terá que "explicar".
Não calou quando indagado do negócio do filho com a Telemar.
Revelou que prefere programas "quanto mais avacalhados, melhor" na TV, justo quando o governo prepara o lançamento de uma custosa emissora pública em nome de "conteúdo mais aprofundado".
Pela primeira vez aceitou tratar do incidente com o "New York Times". Não poupou palavrões. Afirmou que não fica "travado" de bebida há mais de 30 anos e desafiou o jornalismo a provar o contrário.
Teceu comentários sobre três ex-presidentes ("FHC vacilou").
Discorreu com paciência sobre dez presidenciáveis, um a um.
Não titubeou em piscar na direção de Aécio Neves, apesar da onda no país pela fidelidade partidária.
Teve a gentileza até de, no dia seguinte, acrescentar uma resposta sobre a saída de Renan Calheiros.
Provocado ou espontaneamente, falou de todos na entrevista de domingo na Folha. Com uma única e intrigante exceção. "Não comento", repetiu às três perguntas sobre o ex-deputado Roberto Jefferson.
Se o PTB não faz cócegas no governo, por que o prurido? É digno de nota que Lula ainda se abstenha de retrucar o algoz do mensalão.


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Falar do que não convém nunca fez bem a Lula.

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