29 outubro 2007

ONIPOTENTES

RUY CASTRO

Mera coincidência. Vários aeroportos que freqüentei nos últimos anos foram brindados dias depois com a presença de um (com perdão pelo oxímoro) cantor de rap chamado Snoop Dogg. Aos 36 anos, Dogg não se limita a ladrar - morde também. Está sempre com uma arma ou droga no bolso ao passar por aeroportos. Ao ser revistado, irrita-se, depreda a Sala Vip, acerta o nariz de três funcionários, vai preso, paga uma fiança de US$ 200 mil e sai livre, até novo fuzuê no aeroporto seguinte.
Outra celebridade, Britney Spears, 26, é famosa por tomar porres cósmicos, quebrar boates, agredir fotógrafos, descer do carro sem calcinha, entrar e sair de clínicas para dependentes, raspar a cabeça, perder a guarda das filhas e atropelar gente na rua e fugir sem prestar socorro. Nunca a ouvi, mas parece que Britney também canta - é até chamada de "princesinha do pop".
E há Amy Winehouse, que, pelo pouco que escutei, sabe cantar, mas não creio que chegue aos 100 anos - ou aos 24. Amy é uma antologia ambulante de birita, cocaína, maconha, heroína e Special K, este um remédio para cavalo. Seu aspecto é terrível. Está sempre machucada, as overdoses são freqüentes e, naturalmente, ela não admite se tratar. Seu organismo já não suporta alimento. Tem 23 anos.
Snoop, Britney e Amy não são "rebeldes" - apenas pessoas doentes. Mas são também à prova de ajuda porque, pelos milhões que representam, se julgam onipotentes. Nas décadas de 40 e 50, a tolerância era menor. Por causa de heroína, Charlie Parker e Billie Holiday ficaram anos proibidos de trabalhar nos clubes de Nova York - quase uma morte profissional. Cumpriram a sentença, mas, falidos e tristes, já não lhes restava muito tempo: Parker morreu em 1955, aos 34 anos; Holiday, em 1959, aos 44.

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