08 outubro 2007

QUAL É , MANO HUCK?

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Nunca antes na história deste país um Rolex roubado provocou tanto barulho. O "Painel do Leitor" da Folha se transformou no palco de uma discussão quente como há muito não se via, na qual, a despeito das nuances, prevaleceram duas posições antagônicas: 1. Luciano Huck é a cara da elite brasileira e precisou ser assaltado para cair na real; 2. o apresentador foi agredido duas vezes, pelo ladrão e pelos leitores e acabou pagando por ser rico e famoso.
Não vamos brincar de mocinho e bandido. Nem com os sinais invertidos. É interessante, sem dúvida, que Ferréz, o escritor do Capão, dramatize o episódio pela ótica do assaltante. Mas a conclusão de que "todos saíram ganhando" e, afinal, "num mundo indefensável, até que o rolo foi justo para ambas as partes" equivale a fazer a apologia do crime e da barbárie em nome de uma suposta crítica das injustiças sociais. O texto chocará muita gente de boa-fé e joga água no moinho do preconceito contra pobres, pretos e motoboys, à revelia das intenções do autor.
Menos chocante para muitos talvez tenha sido a biografia edificante que Huck fez de si. Primeiro diz que paga todos os seus impostos -"uma fortuna". A seguir, mostra-se preocupado com o Brasil: "Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente". Por fim, declara uma opção de vida: "Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia". Um cara tão legal... O mundo não é justo.
Mas podia ser pior. Entrevistado pela "Veja", Huck frustra a pauta de sempre da revista. Mostra-se tolerante, defende o ensino público e ainda minimiza o papel do Estado penal no combate à criminalidade.
É divertido ver como as respostas são melhores que as intenções da entrevista. Mas que traição de classe. Mano Huck resolveu bancar o progressista otário justamente nas páginas amarelas. Chama o ladrão!


*

Quanta polêmica... coitado do Luciano!

Abaixo, o artigo de Ferréz.

Nenhum comentário: