CARLOS HEITOR CONY
  Desde criança  estranho qualquer tipo de sigla. Sei  que são necessárias e práticas, reduzem qualquer conceito ou fato a  poucas letras. Lá atrás, em respeito  ao nome de Deus, os judeus criaram  a primeira sigla, que foi Javé, uma  combinação cabalística de conceitos cuja soma se refere a Adonai, o  Senhor.
Não entendo línguas orientais,  mas sei que os criptogramas funcionam mais ou menos como siglas,  determinado sinal significa uma árvore, a repetição do mesmo sinal  significando floresta.
Fiquei pasmo quando me explicaram que SOS, que eu sabia ser o  pedido de socorro, significava "save  our soul" (salve nossa alma). Em  princípio, quem pede socorro quer  salvar a pele, e não exatamente a alma. Seria o "save our skin".
A tecnologia, em seus diferentes  estágios, inundou o mercado com  siglas complicadíssimas. Ler o placar de uma Bolsa de Valores ou a rota de um avião que vai de um lugar a  outro é topar com uma sucessão de  siglas esotéricas, algumas impronunciáveis, porque não têm vogais.
Louvemos a Aids, que pode ser dita, o SUS, que é quase uma variação do SOS, e outras poucas que entram fácil pelo ouvido e pela compreensão. Daí a precariedade dos dicionários, que não podem acompanhar a velocidade com que são criadas as siglas que participam do nosso cotidiano.
VHS, DVD, MPB, TPM, PTA,  PAC - poderia encher milhares de  páginas citando milhares de siglas.  Os manuais de redação dos jornais  tentam disciplinar o uso ou o abuso  desse recurso, que, afinal, procura  poupar tempo e espaço na comunicação oral ou escrita.
Um dia, chegaremos à simplificação máxima do MTYJ - "me, Tarzan, you, Jane". Em matéria de linguagem, atingiremos o topo e poderemos ir definitivamente para a UTI da palavra.
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